segunda-feira, 8 de outubro de 2012

jeje mahi

A floresta é habitada por árvores centenárias gigantes, e estátuas de divindades Fon.
Heviosso, Dan, Sakpata.
E também os Vodus reais como Dâguessou, protetor do rei Ghézo, com seus poderes contidos em pequenas cabaças, fetiches em forma de bracelete.
À entrada, o grande Legba figura numa expressão profana sob os irokos centenários.
Uma imensa árvore de Iroko é atribuída como o refugio do rei Kpasse, o fundador de Uidá.
Kpasse governou por volta de 1530 e fundou a religião dos vodus.
Conforme se conta a lenda, o rei Kpasse nunca morreu, mas transformou-se numa árvore de Iroko.
Essa foi a maneira que encontrou para defender-se dos inimigos.
Kpasse Zoume ou floresta sagrada do rei Kpasse, é o local onde residem todas as forças do Vodu.
boas ou ruins, antigas ou atuais, distantes e locais.
Foram quase destruídas durante o velho governo marxista, mas essa área está sendo revitalizada com novas esculturas de deuses do vodu, doadas pelo governo atual.
No período entre 1530 e 1580, Kpasse tornou-se o segundo rei de Savé (localizada a nove quilômetros de Uidá) e também o fundador de Uidá.
Lenda
Quando soube que seus inimigos estavam planejando mata-lo, alertou seus dois filhos, dizendo que apesar de ser eterno ele iria desaparecer um dia.
E que se acontecesse dele não deixar o seu quarto antes do por do sol, seus filhos não deveriam abrir a sua porta, mas saberiam que ele havia partido.
Após nove dias eles receberiam um sinal especial de seu pai, que ao ser decifrado, protegeria suas famílias para as gerações vindouras.
Logo que o rei desapareceu em Savé, sua família viu um pássaro que nunca tinham visto antes.
Ele os levou para a floresta sagrada em Uidá. Ao pisar no chão sagrado da floresta, o pássaro se transformou em duas panteras que rugiam um macho e uma fêmea.
A família ficou amedrontada até ouvir tranquilizada a voz do rei.
Ele deixou uma mensagem importante: se em alguma circunstância eles estivessem em apuros, deveriam vir a te a floresta e rezar para uma determinada árvore de iroko que abrigava a sua alma.
Naquele tempo a arvore era apenas um broto. Hoje ela está atrás das ruinas da velha casa da administração francesa, na floresta sagrada, e abandonada porque os espíritos eram "muito fortes" para os franceses.
Perto da árvore encontram-se altares que ainda são usados, incluindo um pote de barro, junto ao iroko onde reside o espirito do rei Kpasse.
Hoje esse símbolo associado com o vodu do rei Kpasseé, é um segredo, conhecido apenas por seus descendentes diretos
Agajadossú, divindade protetora da família real do Daomé.
Agajadossú, Agassú, Agassou também conhecido por Ati-A-Sou é uma divindade que protege as antigas tradições do Daomé.
Ele foi um herói mítico que fundou a linhagem Kpòvi, (os filhos do leopardo), uma seita constituída pelos membros da Sociedade do Leopardo.
Agajadossú ou Agassou foi gerado pela princesa Alìgbonon após o encontro amoroso com esse animal.
Tadô, a cidade desse rei, fica às margens do Rio Mono, no atual Togo.
O nome Agajadossú significa bastardo.
Seus irmãos também geraram semideuses.
Seus descendentes fundaram os reinos de Allada, Abomé e Porto Novo.
Essas cidades constituíram as bases do reino do Daomé.
Agajadossú é reverenciado nesses três centros urbanos, mas seu principal local de culto está em Abomé.
Ali reside o Agassunon, sumo-sacerdote que chefia os cultos dentro da cidade.
Seu emblema é o leopardo, cuja pele também faz parte das insígnias reais.
Seus iniciados são chamados de Hogbonutó (nativos de Hogbonu em Porto Novo), local de origem do culto de Agajadossú.
A sua linhagem continua viva e os trajes reais ainda se usam nos dias de hoje pelos membros da Sociedade.
Os homens que pertencem ao clã do Leopardo ainda preservam a linhagem de Agajadossú.
Seu escudo e sua lança, presentes que recebeu de seu pai mitico, foram conservados até os dias de hoje.
Agajadossú pode ser considerado o primeiro humano cuja ascendência como Vodun pode ser traçada
Quinto filho de Mawu.
Na mitologia Ewe-Fon, Agué é o Vodun das Folhas, Plantas, caça e das florestas, governa os animais e os pássaros.
É cultuado no hunkpame (altar) de Mawu-Lissá e seu fetiche é um montículo de barro que fica entre os dois.
Foi Agué quem ensinou aos homens os segredos das plantas e de todas as artes.
Ele também é o chefe de todos os Aziza, ou espíritos da floresta similares aos elfos ou gnomos das mitologias europeias.
Tem uma só perna, e às vezes também é representado com um único braço e um só olho.
Agué, encarna a inteligência e a sensibilidade do indivíduo para se adaptar à natureza.
Suas características o aproximam ao orixá Ossanha (deus das folhas), e Oxóssi (deus da caça dos iorubas
DaN
É o vodun da riqueza, bastante popular na Religião Fon. Representado por serpente que rasteja e se esconde na terra, mas que ascende ao céu na forma de arco-íris, sendo chamado pelo título completo de Dan Ayidohwedo. Ele é um Ayi-vodun, ainda que possa ser associado aos Ji-vodun, pois diz-se que ele transporta Heviossô até as nuvens para semear as chuvas benfazejas.
O culto de Dan é originário do província Mahi, no planalto ao noroeste de Abomei e, de fato, pode ser considerado o Tô-vodun, divindade nacional dos Mahi. No resto do país Fon, os noviços de Dan são chamados por isso de mahinu, e falam o dialeto mahi dentro do convento. No final da iniciação eles são chamados de lali, que têm somente metade da cabeça totalmente raspada ao término do processo de iniciação. O vodun Dan corresponde a uma família completa, onde existem 41 aspectos masculinos e femininos da divindade. Talvez por ser ligado à fertilidade e à riqueza, Dan possui muitos adeptos e iniciados que buscam suas benesses. Não pode ser confundido com Dangbê.
Conservam-se no Candomblé Jêje a lembrança da ligação com Mahi e alguns nomes como os de Gbèsén ("A que faz frutificar a vida" - aspecto feminino) e Jikún ("Semeador da chuva" - aspecto masculino).
VODUN GU
Na mitologia tribal do Daomé, atual Benim, Gu representa o deus da guerra e o patrono dos artesãos e ferreiros.
O filho de Mawu-Lissa começou como um simples operário e foi enviado para a terra para fazer tarefas estranhas como "tapar" algumas crateras, "ajeitar" oceanos que vazavam, e coisas desse tipo.
Os mortais ficaram muito gratos com essa ajuda e elevaram Gu a divindade.
Seus pais, Mawu-Lissa, lhe deram a incumbência de tornar a terra habitável para os humanos, uma tarefa na qual ainda está envolvido.
Ha indícios que o culto de Gu foi introduzido no sul do Daomé ao final do século XVII por ferreiros iorubás.
Com o tempo foi tornando-se bastante popular, sendo cultuado por todos, inclusive nos
altares de outros voduns.
O seu emblema é o gubassá, uma adaga metálica adornada com desenhos simbólicos e utilizada em diversos rituais, incluindo o culto de Fa.
Ha também uma adaga menor, o gudaglô, um fetiche usado para garantir a proteção contra os males que afligem seus filhos.
Sua imagem é frequentemente representada segurando estes dois facões, o gubassá na mão direita e o gudaglô na mão esquerda.
Gu é a denominação do orixá Ogum tanto no Ewe, Etnia do Togo como no Fon, Etnia do Benin.
Na língua fon a palavra "gu" significa ferreiro aquele que conhece e domina as artes do fogo, com características semelhantes a dos deuses romanos Marte e Vulcano.
Devido ao domínio da potencia do fogo, Gu é considerado um grande amante e símbolo de potencia sexual.
Por ser um vodun que não tem cumplicidade com o mal, é capaz de exterminar todos aqueles que agem de modo infame, característica expressa nos dizeres "da gu do", dos fons
Heviossô, Xêvioso ou Xêbioso é o Vodun do céu e se manifesta na forma de trovões e raios.
Ele é o segundo filho do Mawu sendo considerado um Vodun de justiça, que castiga ladrões, mentirosos, criminosos e malfeitores (incluindo feiticeiros e pessoas que praticaram alguma injustiça).
Os seus símbolos são o raio, o carneiro e o fogo, e seus emblemas são a cor vermelha, o sô-kpé ("pedra de raio") e o sossiovi (machado de uma lâmina com forma de cabeça de carneiro). Heviossô tem vários filhos, entre os quais Sogbô, Aklonbé e Avlékété.
O culto de Heviossô é originário do território Hwedá, ou seja, da mesma área de onde veio o culto de Dangbê, mais particularmente, da cidade de Hevié, a qual originou seu nome Hevié-Sô, o trovão ou fogo, de Hevié.
Posteriormente foi incorporando outras divindades locais do trovão, como Gbamé-Sô, do território Mahi,
tornando-se Gbadé, além de Djakuta, de origem iorubá entre outras que foram identificadas como "filhos de Heviossô".
Os iniciados de Heviossô trazem na testa uma marca feita durante a iniciação com escarificações e tatuagens feitas com cinzas de certas substâncias e pelo uso de uma gargantilha feita de algodão torcido (hunkan).
Em algumas regiões, seus iniciados ainda usam um colar de contas vermelhas de doze fios de contas (hunjevé).
Na cultura fon tradicional, quando uma pessoa morre punida por Heviossô (queimada em incêndio ou fulminada por um raio), seu cadáver não é enterrado imediatamente.
O corpo é exposto em um cavalete diante do hunkpame de Heviossô com dinheiro e presentes, e um sacerdote sai e "come" ritualmente o cadáver, tocando-o repetidamente com a mão direita e levando-a a boca.
Depois recolhem dinheiro e presentes e aspergem o cadáver com substâncias simbolicamente "calmantes".
Só então a família pode levar o cadáver para o funeral.
O processo pode demorar vários dias, ao longo dos quais a família pode acrescentar mais presentes para o templo
Aho gbo gbo ih Gbessen!

Bessem era um menino que atendia no reino de dahomé, filho de nanã e rei da cidade de mahin e mesmo assim sentia-se insatisfeito e foi consultar um bokonon . Ele ensinou um ritual para tornar-lo mais rico e poderoso deveria oferecer uma faca de ouro e quatro pombos brancos e muitos búzios.
Bessem obedecendo as ordens de Fá , pois se a fazer a oferenda mais nesta mesma hora , o rei de savalú mandou chama-lo para uma festa de todos os voduns, ele então recusou-se a atender o convite dizendo que só iria depois determinada a cerimônia.Sakpatá ficou enfurecido com a recusa de Bessem .
Quando Bessem retornou em sua casa , recebeu um chamado de Olocum , rainha de um pais vizinho , que necessitava de sua sabedoria para curar seu filho.
Fá foi consultado por Bessem que fez as oferendas necessárias e curou o filho de Olocum .
Em gratidão ela ofereceu a ele riquezas, cavalos , escravos e um lindo pano verde.
Retornando a casa com inestimável tesouro , Bessem foi visitar sei irmão Sakpatá rei da cidade de savalú , que muito se admirou .Quis saber sobre os presentes recebidos , Bessem contou da cura do filho de Olocum .
O rei que tinha uma rivalidade nata com quem quer que fosse , não queria ficar a baixo de Olocum.
Então ofereceu a Bessem uma roupa amarela muito preciosa e muitos e muitos outros presentes .
Foi assim que Bessem tornou-se rico e respeitado, e depois de um certo tempo Sakpatá resolveu dar seu reinado para bessen.

Saudação: Aho gbo bgo ih Gbesen. ( Arroboboi )

Elemento: Água.

Animal: Dan(cobra).

Ferramenta: Dan, Drakar.
Dà Làngàn Òtòlú é a forma que o Vòdún Òtòlú era conhecido na cidade de Savalú. Desde criança Dà làngàn mostrava as suas habilidades na caça e na arte de guerrear. Dà Làngàn foi criado para suceder o seu tio Ázáká. Diz a lenda que, quando Dà làngàn ainda um adolescente ficou perdido na floresta e foi cercado por um enorme Leopardo negro faminto. O jovem Dà Làngàn tinha o costume de tocar uma flauta de osso quando estava descansando na floresta. Esse instrumento pertencente a um Vòdún da mata ligado aos sons emitidos na floresta, Vòdún esse chamado de Àzízá, que é um adolescente que vive tocando a sua flauta de osso pelo meio da mata atraindo para dentro dela as pessoas não bem-vindas por ele. Assim quando o Leopardo o cercou, Ázízá tocou a sua flauta distraindo o Leopardo e com um ataque feroz, Dà Làngàn voou no pescoço do Leopardo e, com um punhal, cortou-lhe sua cabeça e bebeu seu sangue depois comeu algumas partes dele a fim de ter as mesmas habilidades. Assim Dà Làngàn, passou a ser muito respeitado mesmo ainda sendo um adolescente. O título de Òtòlú que significa ´´Chefe caçador de Savalú ´´ foi conquistado quando Dà Làngàn acabou com uma tentativa de invasão pelos Nago na floresta de Savalú, então seu pai o Rei Kúxòsú, deu-lhe o título de Òtòlú e no mesmo dia ele ganhou o comando dos Valutö( um grupo seleto de guerreiros caçadores que o próprio Òtòlú era membro e agora ele os comandava). Com o adoecimento de seu pai, Dà Zòjí seu irmão primogênito assumiu o trono e assim Òtòlú assumiria também os Zúncòtòlè. Quando Òtòlú assumi a liderança dos Zùncòtòlè ele ganha importância dentro do reino e principalmente dentro do clã Sákpátá pois, agora ele tinha uma função de captar alimentos da floresta e proteger o reino. Nesse tempo Ázáká, Otölú e seu primo Ázáwànì quando juntos em caçadas ou batalhas na floresta, eram chamados pelos inimigos e admiradores de Hùndèválú título dado aos grandes ancestrais Caçadores-Guerreiros da antiga dinastia de Savalú. Após a morte de seu pai e a posse em definitivo de Dà Zòjí ao trono, Dà Zòjí dá o comando do exército de Savalú para Dà Làngàn Òtòlú que, após o comando, constrói em um vilarejo perto da costa, um tipo de quartel dos Valutö e um centro de culto ao Vòdún Ázízá. Essa cidade ,depois de sua morte, foi o primeiro local de culto ao grande Guerreiro-Caçador de Savalú conhecido como Òtòlú ou simplesmente por sua velocidade e ferocidade como Tòlú-Tòlú o Guerreiro que não erra. Por ter sido cultuado primeiramente em Dàgbá e, o mesmo que gostava de tocar a sua flauta debaixo de uma árvore com o mesmo nome de Dàgbá, sua fava de iniciação é o fruto da árvore Dàgbá. Na parte litúrgica do culto Vòdún Òtòlú é responsável pela a fartura alimentícia e segurança das casas de culto próximas a florestas, em qualquer ato de colher ou caçar na floresta Òtòlú deverá ser consultado juntamente com Ázízá. Na cerimônia do Grá, Òtòlú tem a função de proteção aos neófitos quando os mesmos entram na floresta. Vòdún imprescindível nas feituras dos neófitos no Ásé do Kpò Dàgbá, pois ele é peça fundamental em uma cerimônia chamada Ámátítè.

Saudação: Aho gbo gbo ih otolú, ilo voduo da cya zumê.

Simbolo: Brajá, lagdibá e o drakar.

Ferramenta: Uma flauta de osso, um arco e flecha e a piá(nome das lanças usadas pelos voduns)
Yewa andava pelo mundo,

procurando um lugar para viver.

Yewa foi até a cabiceira dos rios

iai junto as fontes e nascentes escolheu sua morada.

entre as águas Yewa foi surprieendida

pelo encanto e a maravilha do Arco-íris.

e dele Yewa loucamente se enamorou.

Era Bessen que a encantava.

Yewa casou-se com Bessen

e apartir daí vive com o arco-íris,

compartilhando com ele o segredo do universo.

Saudação: Hirro Yewa.

Ferramenta: Drakar, Dan(cobra), piá(lança usada pelos voduns).

Simbolo: Brajás e Laguidbás

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Olooke, Oloroke, Orisa-Oke


 Entre os Orisa e os Ebora existe um chamado Orisa-Oke.


...
Entre todos os oke existe um mestre muito importante de nome Oloke, o dono e senhor das montanhas e anteriormente existiam vários outros Oke junto com ele. Eles também são muito importante e não se deve brincar com eles, pois são a justiça acima de qualquer coisa. Sua importância se deve muito ao fato de que todos os orisa que chegaram no tempo da criação, desceram na terra por intermédio de Oloke, pois Oke foi a primeira ligação entre òde-orun e òde-aiye, sendo que ele foi a primeira terra firme, uma montanha que elevou-se do fundo do mar a pedido de Olodumare e com a ajuda de Oroina (não confundir com Oraniyan) e resfriada por Olokun..

Conta o mito dos tempo da criação que no principio do mundo, só reinava Yeye Olokun, a deusa do oceano avó de Ya Olokun e bisavó de Yemoja, e Olodumare, o deus supremo estava aborrecido com tanta monotonia de só haver água cobrindo tudo, então ordenou a Oroina, o fogo universal, matéria de origem do sol, a lava vulcânica contida nas entranhas da terra, a fazer surgir com a força vital da existência que lhe deu Olodumare a primeira colina do fundo do mar que cresceu em forma de um vulcão em erupção lançando lava que Oroina, com a ajuda de Oloke, Aganju, e Igbona, traziam das profundezas da terra e que eram resfriadas por Olokun. Foi assim que nasceu Oke, a montanha, divindade que também é conhecida como Oloke, o dono e senhor da montanha.

Logo Olodumare, o universo com todos os seus elementos, reuniu todos os demais orisa funfun em Oke e determinou a cada um o seu domínio na criação da vida.

Chegaram primeiro Obatala e Yemu (Oduaremu)

Após a chegada de Obatala e sua esposa Yemu chegaram os outros orisa funfun sendo um muito especial Akafojiyan que com seu irmão Danko (ou Ndako) encabeçou os demais vindo a frente e este ultimo passou a habitar os bambuzais branco. Chegaram Ogiyan, Olufon, Osafuru, Baba Ajala, Olufande, orisa Ikere e todos os demais orisa funfun.

Após a chegada dos orisas era a vez dos Ebora que tendo à frente o ebora losiwaju, Ogun Alagbede Orun o Ogunda Osi e os demais ebora e a cada um foi dada por Olodumare uma função na terra.

Sem Oloke nenhuma divindade teria chegado na terra e sendo ele a primeira terra firme, sempre se deve recorda-lo e fazer-lhe oferendas, pois o que aconteceria se ele resolvesse voltar para Okun. Epa mole.

Oloke é a colina, tudo que é elevado e alto, a lava vulcânica também lhe pertence e é a divindade de todas as montanhas da terra, sendo ainda a força e o guardião de todos os orisa, é inseparável de Obatala e muitas vezes fala por sua boca, é por isto que quando se inicia um Osala velho deve-se por uma criança para cria-lo em virtude de Oloke ser um menino a criança o representaria perante Obatala na iniciação. Obatala e Olofin moram ao lado de Oloke no alto da montanha.

A arvore Ose (Baoba) é também sua representação e seu arbusto de culto, pois a grandiosidade do Baoba, sua altura, sua magnitude, a idade de até 6000 anos que pode viver, sua solidez faz dela a arvore escolhida por Oloke para seu culto. No Brasil por existirem poucos Baoba passou-se a cultuar Oloke ao pé da gameleira branca que serve de culto também para Iroko, mas um orisa não tem nada em haver com o outro e é bom lembrar que a arvore Iroko também não existe no Brasil e a gameleira lhe foi adaptada para o culto da divindade cujo verdadeiro nome é Oluwere, nome que poucos conhecem no Brasil, onde o orisa tomou o nome da arvore onde é cultuado.

As oferendas de Oloke consistem em carneiros, galos, conquem, pombos, certa espécie de peixe, feito de uma maneira especial e boi, come ainda amala, feito também de maneira especial, certa espécie de feijão, eko, e milho branco e sua comida principal são folhas recozidas de Oniapaja, sempre com muito cuidado uma vez que Oniapaja é altamente urtigosa. Em épocas difíceis na África lhe era oferecido nos tempos antigos, a exemplo de muitos orisas um ser humano ainda criança ou ainda recém-nascido e em certos lugares de culto existiam mulheres que geravam filhos para serem ofertados ao orisa e eram escolhidas aquelas que geram mais gêmeos pois nas aldeias em que ele era cultuado quando acontecia o nascimento de gêmeos um deveria ser sacrificado para o orisa e o outro seria consagrado a ele. Atualmente esta pratica foi abolida e não se tem noticia se no Brasil chegou a ser praticada.

Em pesquisa de campo, segundo o Antropólogo Andrew Apter, Phd da Universidade de Chicago, e que presenciou o festival de Oloke em Ayede Ekiti, declara pelo que pôde ver que este orisa é muito próximo de Obatala. Seus ewo são os mesmos de Obatala. Na África, até os dias atuais este orisa é tido por muita importância sendo muito temido e seus festivais anuais, o “SEMUREGEDE”, atraem grande numero de fieis e estes acreditam que Oloke trará prosperidade e paz pelo ano todo. Seus ritos são sete e dois deles são os pontos culminantes que é a oferenda no arbusto na floresta sagrada e sua saída á rua acompanhado de seus adoradores onde as pessoas prostram-se com a cabeça no chão em sinal de grande respeito e temor perante um orisa tão poderoso. Os não iniciados escondem-se dentro das casas e as mulheres grávidas assim como crianças que não fazem parte do Egbe devem esconder-se em casa. O “Apenon”, cargo da casa de Oloke, é quem sai à sua frente empunhando um grande atori ou Isan com o qual ele afasta as pessoas e abre o caminho para que o orisa passe. “Aboke” outro cargo da casa de Oloke e que raramente aparece em publico tendo apenas função interna neste dia poderá acompanhar o cortejo e será a única vez que estará em publico. Baba Elejoka é aquele que pode dirigir-se a Olooke e conversar, fazer pedidos a ele.

Nota:- No “Ase Oloroke de Bauru este ritual é vivido todos os anos quando acontece o grande festival “OJOKEREGEDE” em honra a Oloke onde podemos ver Olooke Ijero, a qualidade de Oloke da casa e seus Oyes num grande festival.

Oloke é o guardião de muitos povos no Ekiti, e lá estão localizadas as maiores rochas onde se praticam seu culto. As mais notáveis destas rochas e montes ficam nas cidades de Okiti- Efon, Ikere-Ekiti e Okemesi-Ekiti. Nobres entre eles são os montes de Okiti-Efon no limite ocidental com o estado de Osun e próximo a Osogbo, Ikere-Ekiti na parte sul, e montes de Ado-Ekiti na parte central. Mais um detalhe que deve ser citado é que a palavra Ekiti vem de “Okiti” [Ok(e)iti] e quer dizer montanhas esplendorosas.

A lenda da criação continua:-

Quando tudo já estava funcionado com cada orisa e ebora com suas funções sendo executadas eis que Olokun julgou que havia sido prejudicada perdendo espaço para as outras divindades e então Olokun resolveu retomar o espaço que ocupava anteriormente invadindo as terras. Muitos seres que já haviam sido criados morreram com ira de Olokun.

Olodumare vendo o que estava acontecendo novamente deu ordens a Oroina, Aganju, Igbona e Oloke para que fizessem uma cadeia de montanhas que isolasse Olokun em seu espaço e assim com a força destes orisas as montanhas isolaram Okun mas Olokun insistia em invadir desafiando assim as ordens de Olodumare . Olodumare enfurecido condenou Olokun a viver nas partes mais profundas do Oceano e ainda a acorrentou dando a ela um mensageiro que era uma grande serpente marinha de tamanho nunca antes visto. E deu a Olokun uma Ilha onde sua mensageira viria receber as oferendas para levar até Olokun. Após muito tempo nesta situação, já com a terra e a criação reconstruída, Olokun pediu a Olodumare que a deixasse livre mas os seres que viviam na terra deveriam lhe fazer uma oferenda diária de um ser humano em troca do espaço perdido e que lhe pertencia. Olodumare julgou justo e concordou mas ela deveria permanecer no fundo de Okun e apenas de tempos em tempos poderia vir à superfície em sua ilha e quanto às oferendas diárias, seria a grande serpente, sua mensageira quem lhe entregaria e escolheria a vitima do sacrifício.

É por isto que até os dias de hoje todos os dias o mar leva um ser humano e por vezes vários, mantendo assim Olokun apaziguada.

Com a invasão de Olokun os primeiros seres que haviam sido criados foram todos tragados pelas águas, mas estes primeiros seres eram defeituosos e mal acabados pois eram as primeiras experiências dos orisas que puderam então fazer seres mais aprimorados que desenvolveram as civilizações.

Oloroke (Oloke) apaixonou-se por Olokun e desta união nasceu “Ye ye Yagba Efon”, que criou a água doce formando assim o primeiro curso d’agua que mais tarde passa a ser chamado de Rio Osun numa clara homenagem a Efon que o criou. Osun = Osoun = aquela que é próvida de muita beleza.

Oloke criou vários lugares para sua adoração, mas sua cidade principal foi Okiti Ikole onde era adorado em um grande Ose (baoba). O Okiti, atualmente estado de Ekiti, é seu grande celeiro.

Conta um outro itan, do odu Ejiogbe, que o Oloke vivia pacificamente com seu povo na cidade de Ikere e de repente apareceu Esu para avisar que as tropas de Ifé estavam a caminho da cidade para uma invasão. O rei Oloke foi ao Babalawo da cidade e o odu que surgiu foi Ejiogbe determinando que Oloke fizesse um ebó de 16 feixes de búzios acompanhados de 16 peixes, 16 galos, 16 galinhas um carneiro que tivesse o chifre com a ponta para o alto e um cabrito. O cabrito deveria ser sacrificado na porta da cidade para Esu o portador da mensagem. O carneiro deveria ser sacrificado à arvore Ose que havia na praça da cidade e os outros ingredientes em volta da cidade em 16 pontos diferentes com o sacrifício dos galos e galinhas. Seus súditos não deveriam usar nenhuma arma, apenas deveriam esperar na praça da cidade pacificamente. E foi o que Oloke fez, após a conclusão do ebó prescrito sentou-se no centro da praça em frente a grande arvore Ose acompanhado de toda sua gente e esperou pacientemente a chegada dos invasores.

Quando os invasores chegaram, um grande barulho se ouviu, a terra estremeceu e uma grande pedra de nome Osunta

cresceu e levou o povo de Oloke para as alturas onde não podiam mais serem alcançados pelos invasores. Quando seu povo estava seguro no alto da montanha, Oloke se transformou em lava vulcânica e desceu montanha abaixo acabando com seus inimigos. Nesta montanha Oloke ficou conhecido pelo nome de Oloosunta, a divindade tutelar da montanha Osunta.

Existe um cântico do orixá que lembra bem esta passagem:-


O Lor(i)ekun Omo dide

Wara wara

Si (o)ke si (o)ke

E lorekun lorekun

Wara wara si (o)ke si (o)ke

Lorekun lorekun

Lorekun omo dide

Os filhos estão em pé

Ele (Oloke) pegará a presa

Rapidamente a montanha se abrirá (como um vulcão)

Ele pegará a presa, pegará a presa

Rapidamente a montanha vai se abrir

Ele pegará a presa, pegará a presa

Seus filhos estão em pé (a salvo)

Os Oke são muitos, Oloke é o mestre de todos e entre alguns podemos citar:- Oloroke, Oke Olumó, Oke Badan, Olookuta, Oloosunta, Ori Oke, Oke talabi, Olota, Oba Oke, Arira Oke, entre outros.

Oloke é o orisa que se encanta em um leão, o leão da montanha, “Ekun Oke” e quando furioso desce a montanha em forma de lava vulcânica e destrói tudo que encontra em seu caminho pois o vulcão também lhe pertence e Oroina, o fogo universal é sua matéria de origem que resfriada pelas águas de Olokun formaram estas grandes pedras de granito, Oke.

Neste contesto Oloke conduz os quatro elementos primordiais da natureza. O fogo por ser a lava vulcânica, a água da qual ele dependeu para que resfriasse e se tornasse uma montanha de granito, a terra que é a lava vulcânica ja resfriada e pode ser pisada e neste ponto ele divide com seu irmão Aganju tal poder e finalmente o ar sem o qual o fogo não é possível. Não pode-se esquecer que lava vulcanica quando contido na terra é Oroina, quando sai da terra é de Oloke, o fogo que caminha com ela é Igbona e quando se torna terra firme é Aganju, exeto estas grandes pedras de granitos que são Oke. Oloke veste branco e sabemos que o branco é o resultado da interação de todas as outras cores. E se a natureza por si só possui todos estes elementos quando o louvamos exclamamos “Epa mole” em respeito aos espíritos da terra.

O Odu Ifa que acompanhou Oloke ao mundo é Ofun meji e o Esu que os acompanhou é chamado de Esu Orangun também chamado de Esu Anan (Wonan)) um Esu muito velho e poderoso que é assentado em pedra serve Oloke, sua filha Efon (Osun) e também Obatala. A Esu Anan deve ser ofertado galos brancos. Este Odu é uma criatura branca complexa assim como este Esu e foi este Odu e este Esu que acompanharam Irunmolé Oloke ao mundo. Epa mole.

Não se pode esquecer que Oloke também é uma criatura branca complexa e sendo assim veste branco e seu rosto não deve ser encarado por nenhum mortal e o orisa também não quer ver os olhos das pessoas pois Oloke não confia nas pessoas e assim reserva-se debaixo de um Ala. Seu “ala” cobre todos os iniciados de Efon.

A iniciação deste orisa na maioria das vezes é feita com o iniciado ainda criança e quando a iniciação é feita para um adulto são necessários alguns cuidados especiais. Não poderá na iniciação faltar Ewe Ose sua folha principal e a arvore Ose será também de grande importância para uma iniciação uma vez que o rito do arbusto que é cheio de detalhes e segredos os quais não poderei revelar neste trabalho por entender que trata-se de algo muito secreto de um orisa que não é do domínio de todos e que por isto deve ser preservado. A oferenda no arbusto dará inicio a feitura mas não contará com a presença do Yawo pois ai esta sendo tratada a matéria de origem de Oloke e neste momento será oferecido um grande animal que cobrirá o ser humano de outrora. Sendo um Orisa tão antigo e que participou do tempo da criação não se pode esquecer das Yami agbagba que serão lembradas e tratadas na mesma arvore e em outras seis. Só então começará a iniciação propriamente dita. Oluwa deverá receber oferendas para que assim se complete as oferendas das Yami Eleye. O poder de Yami foi-lhes dado por Olooke e por este motivo as mulheres, quando do festival Ojokeregede, devem ficar de cabeça baixa e agachadas não podendo olhar para Olooke sob pena de morte e também as Yami Osoronga tem respeito muito grande por este orisa uma vez que só ele pode lhes tirar o poder.

Oloke esta sempre presente nos festivais de Yeye Olokun e de Obatala. Seu toque principal no tambor “D’AGUA” é aguerrido e lembra muito o Aluja tocado para Sango, porém mais cadenciado pois na região Ijesa e Ekiti a dança é muito valorizada pela beleza, e os movimentos tornan-se mais lentos para que possam ser executados com muito mais graça. Ele dança também o ritmo Ijesa, isto tanto na África quanto no Brasil.

No festival de Oloke em todo Ekiti-ijesa, na semana que antecede o festival o Egun de Oloke é quem sai a rua para dançar. Na semana seguinte é o festival do Orisa reúne grande numero de fieis e em alguns ritos é proibido a presença de mulheres e crianças, pois, as mulheres não podem sequer tocar no igba do orisa , são consideradas escravas de Oloke e podem apenas cantar para ele e neste momento quem devem cantar são apenas as mulheres. As mulheres podem também serem iniciadas para Oloke porem não podem por a mão no próprio assento de seu orisa tendo que imediatamente ser confirmado um homem que fará as funções.

No terreiro do Oloroke de Paulo de Efon todos estes fundamentos são observados menos a dança de Egun, pois neste asé, faz-se um oro ao egun de Oloke uma semana antes do festival anual do orisa e é o festival mais esperado de todo o ano litúrgico da casa onde Oloke, um dos mais antigos orisa da terra, abençoa todos os seus filhos e lhes dá proteção e abundancia por todo o ano.

Quanto ao tabu de mulheres por a mão no Igba do Orisa , não se deve faze-lo para que o orisa não perca suas forças e condene a mulher que assim agir.

Oloke não pode ter seu rosto visto pelas pessoas e ele também não quer ver as pessoas para não ter que castiga-las pois o orisa é muito justiceiro e todos podem mentir mas os olhos falam a verdade e sendo assim Oloke não confia em quem quer que seja por isto não olha para ninguém.

Um orisa acompanha muito Oloke ao ponto de levar em seu nome o nome do orisa é ele Ogun Oloke ou Ogun Oke pouco conhecido no Brasil. Este Ogun viveu em Ori-Oke ao lado de Oloke e é que da caminhos a Oloke. Isto pode ser confirmado em um Itan do Odu Ogunda:-

Os vários orisa, como é dito

Cada um tem as áreas especiais onde habitam

Ogun é o deus do ferro, da guerra e dos viajantes

Foi ogun quem usou um facão para abrir o caminho quando os orisa estavam vido do Orun para este mundo.

Por isto, é acreditado, que os orisa o respeitam.

Mas ogun é muito agressivo para uma vida povoada.

Então ele foi para o topo de uma colina

Onde ele foi em busca de caça, farra, guerra e exploração.

Na montanha ogun conheceu Olooke, o dono da montanha,

e os dois caçavam juntos até que ele se cansou.

Quando ele decidiu voltar para a cidade de ile Ifé

Era difícil para ele adquirir uma casa para morar

Porque a face dele era terrível

Olooke acompanhou Ogun para maior desespero das pessoas.



OJO TI OGUN NTI ORI-OKE SOKALE

ASO INA L’O MU B’ORA

EWU EJE L’O WO



O dia em que Ogun estava descendo da colina

A face dele estava como fogo

E ele estava vestido em sangue

Ogun é chamado para clemências de jornada

Para caça abundante

E para se ter vitória em uma guerra

É Ogun o responsável pelas marcas faciais

Os outros orisa

Tem que respeitar Ogun.Olooke.

Neste Itan podemos ver que Ogun foi quem abriu os caminhos para Olooke vir para as terras baixas e participar do convívio das pessoas.



ADURA OLOOKE


Ah,olooke se eyi o

eniyan ko o

ise eleduwa ni

ko se ba

mo ji gini,mo rin gini

mo rin gini gini wo ja

mo ba awon agbagba meta

agbagba meta to ti Ile-ife bo

mo ni bawo ni won se n se nibi

wo ni ire ni ko je temi

beeri mi ke yo mo mi

sese lo omode yo mo eye

mo di odindin mo wo lo mo.

Omi dudu

Omi dudu

omi dudu fo ju jo aro

o fi oju jo aro

ko le ran aso

ko le ran aso

ko le ran awo

ko le fi ipa ran ebi awa]

Momori bale

Baba mi

Mon maa kare oke lere

Baba mi

Mon maa kare oke lere

Omo Olooke a to bo ro ré

Baba mi

Mon maa kare oke lere

Baba mi

Mon maa kare oke lere

Mo fi ori bale

fun baba Oke

Oloroke

fun baba Oke

Oloroke




ORIKI OLOOKE

Òkè ládéokín ajíbíse

Òkè gbogbo è lomo

Dúdú n kóóró

A ní nla ìfun àjànàkú

A wá láyá ijá korikori

Òkú erin ti í ba àràbà lérú

Òkè ládéokín a bi aso kolà

Òkè ládéokín eléwú mònà mònà

Ayibíowú omo lájogun

Òkè kéé kèè kéé

Ni yíkè yíkè i yí

Ta ní lè yí sóbí

Ta ní lè yí Elegbaa

Ta ní lè yí Tèngbá

Ajíbíse Òkè baba Siè

Egbe akankú e jòwó

E má je kí Olooke o re òwu

Olooke ti ó re òwu kò dé

Olooke ti ó re òwu kò bò

E bá mi gbé omo Olooke

Lantí Lantì

Òkè kò ní ilé tíè lótò

Ìdí Obàtálá ní í gbé

Òkè ládéokín eléwú mònà mònà

Jojololá Ajíbíse

Òkè gbogbo è lomo
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domingo, 30 de setembro de 2012

IMOLE ESÚ


Uma das divindades ancestrais iorubanas que mais escandalizou, confundiu e exasperou aos primeiros missionários e catequistas cristãos europeus em África foi o Imole Eshu, sobretudo porque estes primeiros missionários, reagindo aos estímulos de seus próprios subconscientes e aos tabus sócio-religioso-culturais daquela época, superestimaram um dos atributos deste Imole, qual seja, o de estimulador e regulador da natural atividade sexual, sem a qual não há procriação animal ou humana.

À época, esses primeiros catequistas não se deram conta que estavam imergindo em uma civilização africana autóctone e guerreira, agrícola e pastoril, aonde a atividade sexual regulamentada pela sociedade não era um "pecado" e sim uma benção sempre solicitada às Divindades porque significava a segurança de uma grande descendência.

Sim, o mesmo conceito bíblico do "crescei e multiplicai-vos" !
Mas, na sua feroz repressão a este atributo e à sua representação fálica, esses catequistas "esqueceram-se" das outras atividades primordiais desse Imole ! E esse "esquecimento" influenciou duradouramente até aos iorubanos escravizados e "catequizados" no Brasil, fazendo com que eles pouco repassassem aos seus futuros descendentes e/ou dependentes religiosos outros atributos mais importantes que haviam por detrás daquela representação fálica agora repudiada.

Ao contrário, é em respeito ao conceito ancestral que os Iorubanos tinham de suas Divindades que enumerarei aqui os principais 16 (dezesseis) títulos descritivos dos atributos que o Imole Eshu tinha antes do advento de sua "conversão" forçada em diabo, em nome de uma pretensa superioridade racial e cultural de "conquistadores" que levaram à áfrica mais de trezentos anos de guerras, sangue, suor e lágrimas.

Também só nos referiremos aqui a Eshu por seu título ancestral iorubano de Imole / Ser Sobrenatural de origem divina, para bem diferenciá-lo do conceito de Satã, Caipora ou êxú de Tronqueira que a perda de valores religiososo africanos, causada sobretudo pela escravidão e o sincretismo forçado com o Catolicismo, permitiu insinuar-se até na mente de muitos que se dizem Pai de Santo, quanto mais na mente de seus mais simples seguidores atuais.

Assim, com o devido respeito, começamos por saudar ao Imole Eshu :
Mo ju iba, Esu Oba Baba awon Esu ! Iba se, o !
Saudações, Eshu Senhor e Pai de todos os Eshus !
Que esta homenagem se cumpra !
E pedimos-lhe Ago / licença para citar o seu Orisirisi / Contos Imemoriais onde se fala de seus dezesseis maiores atributos, sobretudo ligados ao Culto de Ifá, e que são tão negligenciados hoje em dia até pelos seus El'esu / Sacerdote de Eshu!

Eis aqui seus maiores dezesseis títulos e suas correspondentes "qualidades", os quais sempre foram ligados aos 16 Odu / Fundamentos de Tradição dos Itan Ifa / Contos de Ifá de Ile Ife / a Cidade Santa de Ifé.

01.Esu Yangi - o Senhor da Laterita Vermelha
02.Esu Agba - o Senhor Ancestral
03.Esu Igba Keta - o Senhor da Terceira Cabaça
04.Esu Okoto - o Senhor do Caracol
05.Esu Oba Baba Esu - o Rei e Pai de todos os Eshus
06.Esu Odara - o Senhor da Felicidade
07.Esu Osije - o Mensageiro Divino
08.Esu Eleru - o Senhor da Obrigação Ritual
09.Esu Enu Gbarijo - o Senhor da Boca Coletiva
10.Esu Elegbara - o Senhor do Poder Mágico
11.Esu Bara - o Senhor do Corpo
12.Esu L'Onan - o Senhor dos Caminhos
13.Esu Ol'Obe - o Senhor da Faca
14.Esu El'Ebo - o Senhor das Oferendas
15.Esu Alafia - o Senhor da Satisfação Pessoal
16.Esu Oduso - o Vigia dos Odus .



Pouca semelhança entre estes nomes e aqueles que, hoje em dia, se lhe atribuem ?
Paciência !
Somem a estes nomes 350 anos de guerras, massacres, escravidão, aculturação por sobrevivência e "catequese" forçada goela abaixo dos vencidos e chegaremos facilmente, com o devido respeito, às Tronqueiras e à troca de nomes do Senhor da Laterita por Êxú do Lodo, o Senhor dos Caminhos por Êxú Tranca-Ruas e o Senhor do Corpo por Êxú dos Cemitérios, como veremos a seguir.

Assim, tendo visto as denominações, vejamos agora as qualificações.
Eshu Yangi é a sua primeira forma mais importante e a que lhe confere a qualidade de Imole / Divindade, pois nos Ritos da Criação, segundo o Credo Iorubá :
-"O ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos transformou-se em lama.
Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, a primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento.

Olorun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflando-lhe Seu Hálito e lhe deu vida. Esta forma, a primeira dotada de existência individual, um rochedo de Laterita, era Eshu Yangi."

Assim, fica claro que Imole Eshu foi criado diretamente por Olorun, mas não da própria e primordial matéria divina, da qual Ele já havia feito Obatala e Oduduwa, o Casal Divino, mas sim daquela matéria que iria formar toda existência genérica subseqüente, ou seja, a Eerupe / Lama, da qual seria criada também toda a Humanidade que um dia Ebora Iku / a Morte devolverá a essa mesma Lama.

Então, Eshu Yangi é o primeiro Ser criado da Existência Genérica e o símbolo por excelência do Elemento Criado. Por isso ele é chamado também de Eshu Agba / Eshu Ancestral. Assim, os seus assentamentos ou sacrários mais antigos e tradicionais eram um simples pedaço de Laterita vermelha enfiado no solo, na Orita Meta / Encruzilhada de Três Caminhos. Algumas vezes, a Laterita vermelha estaria cercada por 7, 14 ou 21 hastes de ferro, mas deste metal bem enferrujado que é o "esqueleto" do metal novo.

Como os mitos da Criação, segundo os Iorubás, demonstram que Imole Eshu foi criado logo após Obatala e Oduduwa por Olorun, ele é, portanto, o Igba Keta / a Terceira Cabaça ou o Terceiro Criado, sendo símbolo da Existência Diferenciada e, em conseqüência, o elemento dinâmico que leva à propulsão, à mobilização, à transformação e ao crescimento. Nesta variante múltipla, ele é o princípio dinâmico que participa forçosamente de tudo o que virá a existir.
E assim foi-se processando a Criação, segundo o Credo Iorubá.

Os Orisirisi Esu continuam contando como Imole Eshu logo descontrolou-se e começou a devorar toda a existência, sendo obrigado por Orunmila, após uma longa perseguição, a vomitar tudo de volta ; entretanto, melhor, em maior quantidade e mais perfeito do que quando o ingerira.

E, tendo sido picado em milhares de pedaços pela espada de Orunmila, transformou-se no Mais Um ou o Um multiplicado pelo Infinito, no Eshu Okoto / Caracol, cuja estrutura óssea espiralada parte de um ponto único, abrindo-se para o Infinito e no qual os Iorubanos conceituavam o crescimento e a multiplicação.

Desta forma, Eshu Yangi também multiplicou-se “infinitamente" e, tendo se tornado no símbolo da restituição e da recomposição, tornou-se ele próprio no Oba Baba Eshu / Rei e o Pai de todos os outros Imole Eshu que dele foram "cortados” e que para sempre acompanhariam os Imole e todos os mortais.
Os Ese Itan Ifa / Versos dos Contos de Ifá, contam-nos a razão da denominação das outras variantes múltiplas de Imole Eshu.



Numa explanação livre dos versos desses Contos, no que se refere ao Imole Osetuwa, podemos ler que quando os Imole vieram à Terra para coadjuvar Obatala e Oduduwa a reger a Criação, Olorun ensinou-lhes tudo quanto precisavam saber para que a vida na Terra fosse Odara / Feliz.

Mas, apesar de os Imole fazerem tudo quanto lhes tinha sido prescrito por Olorun, sobrevieram na Terra todos os tipos de desgraças sobretudo uma terrível e prolongada seca.
Os Imole reuniram-se e chegaram à conclusão de que os fatos desastrosos estavam além da sua compreensão e que deveriam mandar alguém, sábio e instruído, à presença de Olorun para que Este lhes mandasse a solução dos problemas que afligiam a Terra, agora sob o risco de total desaparecimento.

Orunmila, o Orixá da Divinação Sagrada, partiu nessa missão e data daí o fato de que Orunmila passou a ser um dos dois Imole que podem apresentar-se perante Olorun e suportar-Lhe o esplendor. Ao lhe ser permitido facear Olorun, Orunmila ouviu Dele que a razão para todas as desgraças que assolavam a Terra estava no fato de que eles, os Imole não haviam convidado para morar no Ode Aiye, ou seja, a moradia dos Imole na Terra, ao Ser que se constituía no décimo sétimo dentre eles.Quando assim o fizessem, tudo voltaria a frutificar!

E foi assim que Orunmila tornou-se o Arauto de Olorun para a ligação dos dois mundos o Orun / Além e o Aiye / Terra. Retornando ao Ode Aiye, junto com os outros quinze Imole, Orunmila começou a procurar pelo "décimo sétimo" o qual deveria ser convidado a morar com eles.

Depois de muitas tentativas infrutíferas decidiram que uma poderosa Aje / Senhora do Feitiço - a Ebora Osum - deveria conceber um filho de Oso / Senhor do Poder Mágico, filho esse que receberia, ainda no ventre materno, o Ashe / Força Mágica de todos os Imole por imposição conjunta de suas mãos, para que se transformasse assim no Mensageiro por excelência das Oferendas dos Imole e se acabassem as desgraças que assolavam a Terra.

Assim foi gerado um filho do "Feitiço com o Poder Mágico" o qual recebeu o nome de Osetuwa e este novo Orixá Gerado passou a tentar cumprir o seu dever de mensageiro, mas sem obter absolutamente nenhum sucesso!
Até que um dia, em aflição, lembrou-se de procurar o quase desconhecido Imole Eshu Odara / Eshu da Felicidade, para pedir-lhe conselhos e ajuda.

E Osetuwa dirigiu-se a Eshu Odara e pediu-lhe a ajuda para levar as Oferendas dos Imole a Olorun. E Eshu Odara respondeu a Osetuwa:
Como ?
Jamais pensei que você viesse me avisar antes de partir !
Por este seu gesto, hoje o Orun / Além lhe abrirá as portas.
E, então, Osetuwa e Eshu Odara puseram-se a caminho e partiram em direção aos portões do Orun. Quando lá chegaram, as portas já se encontravam abertas.

Osetuwa, então, pôde entregar as Oferendas dos Imole a Olorun e Este, aceitando-as por virem através de Imole Eshu, deu a Osetuwa .."todas as coisas necessárias à sobrevivência do Mundo". Osetuwa voltou ao Aiye / Mundo Material e tudo frutificou novamente!
Tão gratos lhe ficaram os Imole que o cobriram de presentes e o celebraram como o único dentre eles que conseguira levar as Oferendas ao Orun. Mas Osetuwa, com humildade, levou todos os presentes que recebera e deu-os todos a Eshu Odara.

Quando os deu a Eshu, o mesmo disse :
-“ Como ??? Há tanto tempo eu entrego os sacrifícios e nunca houve ninguém para retribuir-me a gentileza !
-“ Você, Osetuwa, todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a Terra se não os entregarem primeiro a você para que você os possa trazer a mim farei com que as Oferendas não sejam aceitas!
E foi assim que Osetuwa tornou-se em um poderoso Akin Oso / Manipulador do Poder, duplamente por seu nascimento e pela confirmação de Imole Eshu Odara, por ter mostrado a todos os Imole que Eshu era realmente o Osije / Mensageiro Divino e que também tinha o poder de aceitar ou recusar os sacrifícios rituais porque era o verdadeiro Eleru/Senhor da Obrigação Ritual.



A partir de então, os seiscentos Imole decidiram dar ao Imole Eshu um “pedaço de suas próprias bocas” para que ele pudesse falar por todos, quando fosse perante Olorun, pois era patente que ele era o outro Imole, além de Orunmila, que podia apresentar-se perante Ele. Imole Eshu, muito sabiamente, “uniu todos esses pedaços em sua própria boca” e assim tornou-se o Enu Gbarijo / Boca Coletiva de todos os Imole.

Desde então, corno retribuição de Eshu aos outros Imole, cada um desses possui ao seu lado o seu Eshu Okoto / Caracol, o Mais Um, a quem ambos delegam os seus poderes. Desta forma, por delegação espontânea de todos os Imole, Eshu tornou-se também o Elegbara / Senhor do Poder Mágico. E como toda a Criação é também regida pelos Imole, todo o Ser vivente no Aiye / Mundo, assim como possui o seu Olori, ou seja, o seu Orixá ou sua Ebora, que são o Senhor ou a Senhora de sua Ori / Cabeça, também tem que ter o seu Eshu Bara / Eshu do Corpo, pois Bara vem de Oba = Senhor + Ara = Corpo.

Isto explica muitas coisas que são atribuídas nos cultos afro-brasileiros a Eshu, pois que ele é responsável pela natural atividade sexual, que é um atributo do corpo, pois sem ela não há procriação, que é multiplicação e abundância, quer seja vegetal, animal ou humana.

E, para isso, Imole Eshu, sendo o Elegbara e o Bara, recebeu de Olorun os instrumentos-símbolos desta sua ação dinamizadora e frutificadora :
- o Ado Iran, a Cabaça arredondada de longo pescoço, o recipiente de poder mágico que contém inesgotável Axé / Força Mágica, bastando ser apontada a um objetivo para emanar e propagar esse poder mágico ;
- o Gorro ou Penteado tradicional em coque de ponta alongada e caída, terminada na forma da glande peniana humana.

Daí ser o Pênis humano, em ereção, uma de suas mais populares e ancestrais representações, feitas em pedra, como as da localidade africana de Tondediru, ou, mais simplesmente, modeladas em barro à beira dos caminhos. E este foi, como já dissemos no início, um dos aspectos de Imole Eshu que mais escandalizou os missionários de outras religiões, que então dispararam contra ele todas as suas “armas”

Mas, nunca atentaram para o fato de que em nenhum dos milhares de Versos de Contos de lfá, Imole Eshu jamais - repitamos - jamais assume a função de procriador e mais : suas diversas formas multiplicativas têm por origem a divisão do seu próprio Ser em “milhares” de partes pela espada de Orunmila.

Mas Imole Eshu tinha uma outra função capital que despertou o interesse dos catequistas das novas religiões, que nela viram a oportunidade otimizada para a destruição de sua importância entre os Iorubás : a sua função de Executor Divino.
Como Imole Eshu é o Mensageiro Divino e o Senhor do Carrego Ritual prescrito por Orunmila-Ifá, ele é também o L'Onan / Senhor dos Caminhos, tanto dos benéficos (Ona Rere), quanto dos maléficos (Ona Buruku), que ele abre ou fecha aos mortais conforme verifique se os sacrifícios prescritos aos fiéis foram ou não cumpridos, ajudando aqueles que os cumprem e punindo os que, devidamente avisados, não o fazem.

Por isso, ele é também o Ol'obe / Senhor da Faca, significando ser o Executor dos Sacrifícios, mas também, no sentido ritualístico, "Aquele que tem o poder de vida e morte". à Obe / Faca, Imole Eshu junta ainda a sua Opa / Bolsa, na qual carrega os seus objetos ritualísticos mágicos, entre eles os "fragmentos de cabaças", símbolo do Ser destruído mas, por sua vez, destruidor, talvez um dos seus emblemas mais temidos e somente manipulados por seus El'esu, ou seja, pelos Sacerdotes do Imole Eshu.

Por tudo isso, Imole Eshu está sempre "do lado de fora", nos “caminhos”, onde tem seu lugar predileto, a Orita Meta / Encruzilhada de Três Caminhos, onde ele aceita, carrega, transporta e premia, mas, também, de onde vigia, adverte, recusa e pune.



Foi então que os primeiros catequistas de outras religiões passaram a pregar que todas as desgraças acontecidas aos fiéis dos Orixás Iorubás, merecidas ou não, derivavam da ação nefasta e indiscriminada de Imole Eshu, o qual apenas faria o Mal pelo Mal.

Por sua vez, os Iorubás escravizados viram nesta interpretação equivocada de Executor por Malfeitor, uma nova arma para se defenderem e passaram a ameaçar abertamente os seus inimigos com as artes punitivas do Imole "Esu", que assim começou a transformar-se em "êxú" e a sincretizar-se, nas mentes mais fracas, com a figura do “diabo” medieval católico.

Daí a ele começar a ser representado e apresentado como um Ser tenebroso e mau foi apenas a mesma “descida de ladeira” por onde escorregaram os sincrético cultos afro-brasileiros, notadamente a Umbanda Popular, até estarem lançadas as bases do “sincretismo dentro do sincretismo" e aparecer a Kimbanda que, na verdade, nada mais é que o ponto mais alto da “curva do desespero” a que foram lançados os povos escravizados no Brasil.

Mas, na realidade, no Credo Iorubá, Imole Eshu é o símbolo, não da subtração, mas sim da restituição que os humanos devem fazer, através de Oferendas, daquelas coisas que eram necessárias à sobrevivência do Mundo e que Olorun deu aos Imole Osetuwa e Eshu para salvá-la e não para destruí-la.

E é na execução das Oferendas com esta intenção, que só Eshu Elebo / Senhor das Ofendas é capaz de tornar aceitável a Olorun, que está a "chave" que permite ao fiel alcançar o seu objetivo. E se conseguir alcançar o seu objetivo, naturalmente obterá também a satisfação (Alafia) dos seus anseios maiores ; assim, deve agradecer também a Eshu Alafia / Senhor da Satisfação Pessoal.

É sobretudo sob as múltiplas variantes de Bara, Enu Gbarijo, Elebo e Alafia que o Orixá Orunmila se utiliza do Imole Eshu para poder atuar como o Arauto dos Orixás sobre os destinos humanos no Jogo Divinatório de Ifá, quer através do Opon e do Opele, quer através dos Búzios.

Por isso mesmo, os Odu / Fundamentos de Tradição sempre aconselham a Pa Esu, ou seja, a apaziguar ao Imole Eshu e não a tentar suborná-lo para ter um “malfeitor” às ordens.
Por isso mesmo, Imole Eshu é o Princípio Restaurador do Equilíbrio no Credo Iorubá.

Daí as suas representações pouco conhecidas, à fora sua representação fálica, ora “fumando cachimbo”, simbolizando a absorção e a ingestão, ora “tocando flauta”, simbolizando a doação e a restituição.

E assim, os Orisirisi Esu contam corno ele distribui generosamente crescimento e honras, “vomitando-os" após ter ingerido todo tipo de alimentos e bebidas rituais das Oferendas e como há um determinado elemento, o Aasaa / Fumo de rolo picado que infalivelmente provoca essa inusitada transformação, multiplicação e restituição”.

Tudo isso ele assim faz em troca de somente três coisas : a coragem do fiel em tentar cumprir seu próprio destino; respeito do fiel aos Fundamentos de Tradição dos Orixás e a oferta de seu Ebo / Oferenda específico que lhe é destinada no seu ritual próprio, o Ipade, cujo literal significado é justamente “ato de reunião de apaziguamento” e não para pedidos de destruições e vinganças aleatórias, como pensam aqueles que, na verdade, não conhecem a essência do Senhor lmole Eshu, porque se esqueceram ou não conhecem as suas raízes espirituais ancestrais, ou, pior ainda, as renegam !



A oferenda Ebo é constituída de elementos materiais muito simples, mas de profundo significado, ao contrário do que se vê "despachado" pelas esquinas de nossas cidades e que quase não guardam relação alguma com o seu significado original :

Omi (a água), a Oferenda por excelência, que fertiliza, apazigua e vitaliza tanto o Além quanto a Terra, especialmente se for a Omi Ato (água de chuva), a “água-sêmen” do céu !

Epo (o Azeite de Dendê) : símbolo da dinâmica da realização, da descendência, relacionada com o Eje Pupo / “sangue vermelho” ou essência do Vermelho dos elementos gerados ;

Otin (bebida destilada branca) : vinho de palmeira em áfrica e cachaça no Brasil, relacionada com o Eje Funfun / “sangue branco” ou essência do Branco dos elementos geradores;

Iyefun (a farinha) : qualquer farinha, a qual é símbolo do Eje Dudu / “sangue preto” ou essência do Preto dos elementos gestantes e fecundos, quase sempre na forma do Akasa, bolinho de pasta branca de milho deixado de molho, ralado e cozido, envolto na folha especial Ewe Eko.

Dito isto (e mais haveria ainda a dizer), eis porque tão poderosa divindade sempre foi e ainda é cultuada e servida antes até que servidos e cultuados sejam os Orixás, em qualquer situação e lugar ... ...
Remarquemos a mais que, especificamente no Ebo de seu Ipade, Imole Eshu não recebe sangue animal e sim seu sucedâneo transmudado - o Epo / Azeite de Dendê.
Assim, sem ferirmos a Tradição Ancestral, podemos afirmar que é um direito da Corrente Astral do Aumbhandan - A Umbanda Esotérica do Brasil - não se utilizar de sacrifícios de sangue, nem mesmo parar preceituar tão poderosa divindade.

Usos e costumes ancestrais de outros povos, legítimos e fundamentados à sua época, podem muito bem serem transmudados em novos tempos, como já acontecia mesmo em áfrica, aonde os Babalawos tinham, a seu critério, o poder de substituir os animais preceituados para oferenda por suas penas, escamas e couros, devendo o valor de mercado do animal a ofertar ser distribuído, em esmolas, entre os carentes de sua comunidade.
Por outro lado, a atuação do Imole Eshu como Mensageiro dos Orixás para a entrega de oferendas a Olorun, dificilmente é compatível ou coerente com a sua posterior identificação com o "Satã" pelos cristãos e muçulmanos. Tal tentativa de analogia, só se explica por não se encontrar no Credo Iorubá a idéia de “diabo” ou “inferno”, como se os entendem em outras religiões não-africanas.

De fato, mesmo face à situação irregular dos suicidas, no pensamento Iorubá, seres carentes de coragem em enfrentar seu próprio destino, os Iorubanos jamais criaram a idéia grosseira de uma eterna punição; para eles, prêmio ou castigo eram provações a serem experimentadas aqui mesmo nesta Terra ou pela falta de retorno à ela.
Assim, a idéia de um "Êxú" essencialmente trevoso e mau é uma contrafação sincrética com o “diabo” medieval católico, forçada e imposta pela escravidão e conseqüente perda de valores iniciatórios das religiões africanas no Brasil, mas que nunca existiu em áfrica em tempo algum.

E, muito embora nas lendas populares, Imole Eshu passasse a ser conhecido como "manhoso", “trapaceiro" e notoriamente "encrenqueiro", mormente se não for "apaziguado" por seu Ebo, a sua suposta imagem de malignidade decorre, na verdade, de ele ter o importante papel de Executor Divino, punindo aqueles que descuram as oferendas prescritas para eles, mas recompensando aqueles que as cumprem.



Entretanto, ele nada faz por conta própria, servindo fielmente a Olorun e ao Orixá Orunmila-Ifá. Também, os Orixás e as Eborás podem convocá-lo para se utilizar da variedade de punições postas sob o seu comando. E isto porque, com imensa sabedoria, o Credo Iorubano ancestral prega que Orixá algum pune diretamente seus “Filhos", mesmo os transviados, os transgressores e os ofensores : isto é função do Imole Eshu.

Os Versos dos Contos de lfá dizem que Imole Eshu é também encarregado por Olorun para vigiar as ações de outras Divindades no Aiye / Terra. E isto só pode se dar, dizem os fiéis, porque ele é notável e notoriamente equânime no seu papel de Executor Divino.

É por tudo isso que todos os devotos de todas os Orixás e Eborás se voltam para Orunmila-lfa em tempos de dificuldades, buscando essa equanimidade e, a conselho dos Babalaôs, oferendam a Imole Eshu e, por seu intermédio, a Olorun.

Para que os Babalaôs não se excedam nas prescrição dessas oferendas, lmole Eshu está sempre presente na Divinação Sagrada de Ifá, como o décimo sétimo lkin / Coquinho de Dendê, o Olori lkin / Senhor (o Cabeça dos Coquinhos de Dendê Consagrados), o qual leva a sua efígie gravada.

Por essa razão, este décimo sétimo lkin é também chamado de Oduso / Vigia dos Odu, do verbo Iorubá So / Vigiar, ou seja, colocado no Tabuleiro de Ifá em uma posição tão privilegiada quanto a do Babalaô, ele representa Eshu Oduso que é o Vigia dos Odu / Signos-Resposta do Sistema lfá e, conseqüentemente de suas verdadeiras interpretações pelos Babalaôs, pois todo o bom cumprimento do Iwa / Destino do Consulente depende de se bem compreender a Mensagem que Orixá Orunmila quer transmitir ao Consulente.

Daí se compreender que a ligação do Imole Eshu com o Jogo de Ifá é inquestionável.
Assim, como vemos, Imole Eshu não é nem mau nem tenebroso, antes, pelo contrário, freqüenta o Orun /Além, reporta-se diretamente a Olorun e dialoga com os Imole / Divindades e com os Onile / Antepassados. Ele também não é vingativo indiscriminadamente, mas é o Transformador Divino que trata com equanimidade Divindades, Ancestrais, Babalaôs e Humanos por ordens de Olorun.

E nada executa por sua própria vontade, mas cumprindo fielmente as ordens de Olorun e os ditames do Iwa / Destino livremente escolhido por cada Ori Orun / Individualidade no Além de cada fiel e, através de Orunmila-Ifá, cumpre também as ordens das Divindades.



E se ele é considerado “trapaceiro" e “encrenqueiro”, o é pelos culpados, porque ele é o fiscal de Olorun junto aos Orixás e, ainda, o Vigia dos Babalaôs e do bom cumprimento das obrigações rituais e sacrificiais por cada Fiel.

E se ele pode até matar, conforme se lê em diversos Ese dos Itan Ifá, é também ele que representa a Vida e a sua dinamização/continuação, através do legítimo e natural prazer sexual que leva os humanos a procriar.

E se assim é há milênios, a lmole Eshu só é devida a coragem de cada fiel em tentar realizar o seu Destino livremente escolhido antes de nascer, a sua Oferenda específica - o Ebo - do seu ritual Ipade e a nossa saudação, não de medo ou horror, mas de respeito, como a ele fez Osetuwa :

-"Agba Esu, Mo ju iba ! Iba se o ! “-
-" Eshu Ancestral, presto-lhe minha homenagem ! “-

-“ Oh ! Que esta homenagem se cumpra ! "-
Assim sendo, quero terminar esta explanação com a tradução livre, mas coerente, de parte de um dos Versos dos Contos de Ifá, o do Odu ôbará Meji :
Obara ni,
ki ndojubole Ki n'ba buru,
Ki Elegbara o jeki ngo lo
Nje ikuderin Moforibale l'Elegbara.
-"Obará Meji pediu que eu me prostrasse em reverência,
cobrindo minha cabeça.
Que eu deveria me prostrar e me cobrir em respeito,
para que Elégbará me permitisse prosseguir
em meu caminho de felicidade e riqueza.
Assim, minha morte transformar-se-á em longa vida de alegria.

Portanto, curvo-me ante Elégbará !"-
Então, assim, também eu o faço e assim também eu peço :
-" Imole Eshu, aqui está minha oferenda ! “-
-“ Por favor, peça a Olorun que aceite esta oferenda
e alivie meu sofrimento ! " -

Tó ! ( Assim seja ! ) Adupê, ó ! ( Oh, Obrigado! )









O RITUAL DO SACRIFÍCIO

Um dos objetivos deste estudo, é dar subsídios para que os iniciados, os estudiosos e os freqüentadores do Candomblé, possam argumentar sobre assuntos polêmicos que envolvem nossa Religião, a Religião dos Orixás.
Dentre os vários assuntos, temos os rituais que envolvem os sacrifícios animais praticados habitualmente em nossos Rituais.

Os Cristãos, Católicos e Protestantes, são os que mais repudiam o nosso sacrifício animal. Eles deveriam estudar mais o seu Antigo Testamento, em específico o "Levítico", onde os sacrifícios, não só de animais, são relatados.

O Livro "The Lion Handbook to the Bible", Lion Publishing – England Herts – 1973 de autoria de David e Pat Alexander, relata que o Levítico é o código das leis dadas por Deus a seu povo
através de Moisés no Sinai.

As cerimônias e outros ritos e normas não eram um fim em si mesmas. A oferta do sacrifício dia após dia, ano após ano, a recordação anual do dia da expiação recordavam constantemente a Israel o pecado que o separava da presença de Deus.

Os israelitas infringiam a aliança com ele desobedecendo as suas leis e estavam condenados à morte. Mas Deus, na sua misericórdia, mostrou-lhes que haveria de aceitar um sucedâneo, a saber, a morte de um animal perfeito e inocente, em lugar da vida do pecador. Suas leis mostram que Deus age em harmonia com as leis naturais para o bem do povo, diz o livro.

Levítico 1-7 – Os Sacrifícios
1 - O Holocausto (capítulo 1 e 6,1-6) único sacrifício em que se queima o animal todo, um sinal de consagração.
2 - Oferta de cereais ou de farinhas (capítulo 2 e 6, 7-11) acompanhava muitas vezes o holocausto e o sacrifício de comunhão (item 1 acima).
3 - O sacrifício da comunhão (capítulo 3 e 7, 11-36)
4 - O sacrifício do pecado (4,1-5,13 e 6, 17-23)
5 – O sacrifício da reparação ( 5,14-26 e 7, 1-10)

O Fiel trazia sua oferta (um animal sem defeito físico tirado da própria manada ou rebanho ou, no caso do povo pobre, rolas ou pombos) até o pátio diante do tabernáculo. Colocava a mão sobre ele para significar que o animal o representava e depois o imolava (sacrificava).

Se o sacrifício era público o Sacerdote era quem realizava essa operação. O Sacerdote tomava a bacia com o sangue e com ele espargia o altar, queimando a seguir algumas partes específicas do animal que continham determinadas porções de gordura. O que restava era consumido pelos Sacerdotes e suas famílias ou ainda pelo Sacerdote junto com os ofertantes.

Os sacrifícios exprimiam a gratidão do indivíduo pela bondade de Deus, ou eram simplesmente manifestações espontâneas de devoção e homenagem.

O sacrifício pelo pecado e o sacrifício da reparação (Levítico 4-5, 26) referem-se às transgressões contra a lei de Deus ou situação em que foi cometida uma falta contra o próximo, porém ambos demonstram a exigência de enfrentar o pecado pelo uso do sangue.
O Sacerdote como representante de Deus tinha a função de declarar se o fiel e sua oferta eram aceitos ou rejeitados por Deus.

A prática do sacrifício animal remonta ao início das relações entre Deus e os homens (Gênesis 4,4) e no Novo Testamento explica a morte de Jesus (Hebreus 9,11). O Levítico 17,11 diz que o sacrifício é algo dado por Deus ao Homem. A pessoa que leva a oferta apodera-se da vida do sangue animal sacrificado e pode doá-la a Deus, injetando nova vida nas suas relações com Deus.

Este é um pequeno espaço histórico, para a dignificação da Religião dos Orixás, tão agredida pelas Doutrinas Cristãs, principalmente pelas Protestantes. Então, cabe-nos o direito de mostrar quão hipócritas são aqueles que nos agridem e nos repudiam com bases em seus Livros Sagrados, que mostram largamente a pratica de ritos idênticos aos nossos e com a mesma simbologia .



A Religião dos Orixá é extremamente tradicionalista e não muda sua liturgia com fins hipócritas, somente para agradar a visão leiga dos fiéis na tentativa de obter fins lucrativos. O que era feito há 6000 anos é mantido até hoje por nós, mas não com uma conotação diabólica como desejam nos impor usando uma mídia já desgastada. Hoje o Homem é culto, busca informar-se e encontra a verdade relativa ao nosso mundo religioso.

O Orixá nunca esteve envolto ao mundo da Magia Negra, ao baixo astral, ao Satanismo ou muito menos ligado a demônios somente porque realizamos em nossos ritos o sacrifício animal. Nós pregamos os ensinamentos dos Orixás que são puros em sua essência, não ficamos pregando mais os atos dos demônios do que a palavra de Deus tirada de livros sagrados de autoria duvidosa.

Nossa doutrina religiosa foi mantida pela boa vontade do Homem fiel a Deus, mantendo todos os nossos conhecimentos na memória e transmitindo-os pela oralidade. Não temos livros sagrados adaptados a cada momento da história em decorrência das necessidades das instituições religiosas.

Não expulsamos demônios em forma de "teatro" para enganar pobres coitados crédulos dizimistas que acreditam nas encenações de atores bem pagos para se contorcerem em público ou darem testemunhos suspeitos, sempre idênticos, sem provas. Não "amarramos" espíritos ruins em nome de Deus.

O que desejamos é somente poder expor que nossa Religião, a Religião dos Orixás, tem como objetivo ( RELIGAR) o Homem a Deus através da manutenção de ritos tradicionalistas; através de uma hierarquia rígida mantida entre os seguidores e Iniciados; através da exigência de uma conduta honrada e moral dentro das verdadeiras Ègbé (Sociedades).

Desejamos mostrar com clareza que nossos verdadeiros Sacerdotes são homens sábios, estudiosos e perseverantes na sua religiosidade, tudo isso com base em uma filosofia mitológica milenar. Qualquer outra versão não tem sustentação real, tratando-se de invencionismo de muitos que pretendem impressionar ou lucrar em benefício próprio usando o nome dos ( Orixás Yorùbá ).

Se fazemos sacrifícios é porque somos autorizados por Deus, conforme também era praticado em Israel. Além do mais, a energia pura do Orixa, absorve a essência espiritual do animal a ele imolado e a eleva espiritualmente, evoluindo-o rapidamente, o que deveria levar milhões de anos para evoluir na escala espiritual, sem contar que, a carne do animal é consumida durante as festas, proporcionando a energia da satisfação alimentar, que o Orixá absorve e transforma em realizações das necessidades materiais dos ofertantes.

O sacrifício é necessário, tanto para a evolução espiritual do animal, como para a alimentação dos participantes (comer animal vivo, sem sacrificá-lo é realmente impossível!) .



Não podemos esquecer que nas mesquitas, anualmente, até os nossos dias, é sacrificado um cordeiro para Alláh. Mas ninguém gosta de agredir o Islã. E sabem muito bem o porquê !

Èjè (sangue) é vida, todos nós aprendemos isso nos templos verdadeiramente consagrados aos Orixás. Tiradas as partes sagradas dos animais que são ofertadas às Divindades, o restante é consumido pelos ofertantes. Não há desperdício nos Ilé Orixá, em respeito à natureza, conforme nos determinam as Divindades.

Os animais ofertados não podem sofrer para serem imolados, conforme nos determina o Orixá Ogun Olóòbe, o Senhor da Faca. O ritual é cercado do máximo respeito seguido de procedimentos de abstinência, onde a pureza e a limpeza espiritual e orgânica dos presentes é exigida com rigor para que eles possam participar desse tipo de oferenda e só aos Iniciados devidamente preparados por anos cabe exercer o ato de imolar o animal. Isso não cabe a qualquer pessoa despreparada.

Há uma liturgia a ser seguida a risca em detalhes, onde o epo pupa (azeite de dendê), iyò (o sal), oyin (o mel), omi (a água), otí (a aguardente), ataare (a pimenta) são rezados e encantados recebendo pela palavra propriedades mágicas, para poderem ser ofertados às Divindades como símbolos de doçura, progresso, prosperidade, fartura, fertilidade, alegrias e paz, afim de que essas bênçãos sejam retribuídas a todos em troca da oferta.

Sem que nunca se esqueça de ofertar para Onílè (o globo terrestre) sua parte, pois é ele quem sustenta os nossos pés. Esta frase metafórica Yorùbá nos ensina que é a Mãe Natureza quem nos permite mais uma reencarnação no Àiyé (na Terra) e por isso devemos mostrar nossa gratidão a ela durante os ritos de oferendas.
Só pode ver maldade em uma ritualistica dessa quem é mal no mais profundo de sua essência intima, no próprio caráter ou pelo desconhecimento, acabando por julgar sem saber o que verdadeiramente está sendo realizado num ritual em nome de Deus.

Pois graças a esse Deus, Olodùmarè, nós não fazemos apologia aos demônios, pois os desconhecemos na nossa cultora religiosa. Para a cultura Religiosa Yorùbá Deus não "permitiria que os Anjos Caíssem". Quem faz mal aos homens é o próprio Homem ! Nós somos raízes da Energia Universal (Oloorum) e por isso mesmo temos o poder criador.

O diabo foi criado nada menos que pelos Cristãos, pela necessidade de justificar suas deficiências e erros e o mesmo (diabo) vem criando poderes através da energia emitida por determinados evangélicos modernos que o mentaliza e o supre energeticamente através da suas invocações e exorcismos diários. Nosso Deus jamais criaria o Demônio, pois o mesmo é a antítese de Deus, senão o mesmo não seria Onisciente, Onipotente e Onipresente!

A Religião dos Orixás não deseja ser melhor que as outras Religiões. Deseja somente ser respeitada, assim como sabe respeitar. Desejamos somente que as pessoas possam cumprir seu papel em mais uma passagem pela vida no Àiyé com auxílio dos ensinamentos deixados pelos Orixás.

Desejamos somente crescer nas experiências de viver. Desejamos poder aprender a conviver num mesmo espaço físico com os outros homens, porque o nosso espírito não tem para onde evoluir já que o Homem é um deus-finito. Evoluir o espírito do Homem seria tentar superar a Deus, pois o nosso espírito foi criado de Deus, portanto somos partículas divinas. Já fomos criados sendo deuses.

Tudo o que necessitamos já recebemos de Deus no momento da Criação, só temos que aprender a usar o que nos foi dado por Ele.

Ibejii & Hoho


Os gêmeos (Ibeji entre os Yorubas e Hoho entre os Fon) são objeto de culto.
Não são nem Orisá e nem Vodun, mas o lado extraordinário desses duplos nascimentos é uma prova viva do princípio da dualidade e confirma que existe neles uma parcela do sobrenatural,a qual recai em parte na criança que vem aomundo depois deles.

Recomenda-se tratar os gêmeos de maneira sempre igual e de compartilhar com muita equidade tudo o que lhes for oferecido.
Quando um deles morre com pouca idade o costumeexige que uma estatueta representando o defunto seja esculpida e que a mãe a carregue sempre. Mais tarde o gêmeo sobrevivente ao chegar à idade adulta cuidará sempre de oferecer à efígie do irmão uma parte daquilo que ele come e bebe. Os gêmeos são, pata os pais uma garantia de sorte e de fortuna.

Os irmão “Lander” quando exploravam o rio Niger em 1830, descrevem que:
Na quinta feira 15 de abril, várias mulheres carregando pequenas representações de crianças em madeira passaram perto de nós durante a manhã.As mães que perderam um filho
carregam essas grosseiras imitações em sinal de luto, durante um tempo indefinido. Nenhuma delas resolveu-se a se desfazerem nosso beneficio de uma dessas lembranças de afeto materno....

È de acreditar que a mortalidade seja imensa entre as crianças pois quase todas as mulheres que encontramos levaram uma ou várias figurinhas de madeira a que já nós referimos. Cada vez que essas mães paravam para refrescar-se não deixavam de apresentar aos lábios dessas pequenas imagens uma parte do seu alimento.

Segundo “Richard Burton “ diz...O Orisá das crianças. Estátuas feias e pequenas carregadas pelas mulheres no pano que atam à cintura quando um dos gêmeos morre ou éexterminado. Esses ídolos são enfeitados com anéis epulseiras de contas.Em lagos 2 homens os confeccionam ao preço de 3 shillings por peça.

O “Padre Baudin” diz.... O Ibeji dos Yoruba é a divindade tutelar dos gêmeos. Um macaquinho preto é sagrado para os Ibejis, fazem ao animal oferendas de frutas e sua carne não pode ser comida pelos gêmeos ou por seus pais. Esse macaco recebe o nome de EDON DUDU ou EDON ORIOKUN.
Um dos gêmeos é geralmente chamado de EDON ou EDUN . Quando morre um dos gêmeos a mãe carrega juntamente com o sobrevivente uma estatueta de madeira que mede de sete a oito polegadas do mesmos sexo da criança morta para impedir que o sobrevivente permaneça ligado ao defunto e também para dar aos espírito do morto um objeto no qual ele possa fixar-se sem perturbar aquele que sobreviveu.

Em “Epapo” aldeia à beira da laguna de Lagos situada entre esta cidade e “Badagris” existe em louvor aos Ibejis um templo célebre onde os gêmeos e os pais realizam peregrinações.
“Stephen Farrow, acrescenta.... os nomes dados aos gêmeos são geralmente Taiwo ( To-aiye-wo, para experimentar o mundo) e Kainde (Kehin-de, vir atrás)

“Richar Barton” reporta-se aos Fon escreve o seguinte:
Hoho, o fetiche dos gêmeos que protege esses seres exepcionais. Em Allada esse nascimento era infamante. Os homens não queriam acreditar que uma mulher pudesse ter 2 filhos de um homem. Em Abomey onde se deseja aumentar a população à mãe é objeto de honrarias. Os fetiches dos gêmeos não tem esposas. A cerâmica dos HOHO assemelha-se a dois fornilhos de cachimbo ligados um ao outro e um utensílio de ferro denominado “Asen” que consiste em 2 pequenos cones de ferro atados a uma vareta de ferro com seis polegadas de comprimento e também pertence aos Hoho’s.



“Lê Hérissé” publica
Como todo acontecimento notável, o nascimento dos g~emeos impressionou o espírito dos dahomeanos que lhe deram uma explicação fabulosa.

A crença popular afirma que os gêmeos provêm de ZOUN, mata ou regiões vagas, às quais regressam após sua morte. Existem quatro ZOUN. Recebem o nome de “ Ouekero” e correspondem a nossos pontos cardeais, cada um deles tem seu bosque fechado em torno de Abomey.

Se se quiser preservar os gêmeos de uma destino desfavorável convém antesed mais anda saber de qual ZOUN eles provêm, é FÁ quem informa sobre a questão aos pasi interessados. Após a manifestação de FÁ os gêmeos quando já podem andar são levados aos Zoun indicado, onde são realizados modestos sacrifícios e oferendas de milho, azeite-de-dende e miúdos de frangos. Em seguida todos dirigem-se em procissão ao mercado.
Os gêmeos usam um traje novo, trazem rosário de búzios e nos pulsos e tornozelos pulseiras feitas com conchas.

Sua mãe precede-os agitando uma sineta, algumas mulheres participam do cortejo e de vez em quando entoam cânticos. No mercado estende-se uma esteira no chão para permitir aos gêmeos sentarem-se quanto os parentes e amigos desfilam para cumprimentar a ditosa mãe.
Bem comportados e sérios os infantes submetem-se a todas as cerimônias.

O nome escolhido para os gêmeos é ZINSU e SAGBO para os meninos e ZINHUE e DOLU para as meninas. Se ao nascer eles se apresentarem pelos pés seus nomes serão respectivamente, AGOSU, AGOSA,AGOSI e AGOHUE.
A criança que nasce após os gêmeos chama-se DOSU se for menino e DOSI se for menina.
Eis alguns outros pormenores tais como me foram confiados em Abomey: “ se alguém está doente interroga-se FÁ e se Hoho pedir para comer vai-se até a mata e desenha-se um VEVE no chão com farinha de milho e azeite-de-dendê”

A oferenda consiste em duas cabaças e duas quartinhas pintadas de branco e vermelho, são pronunciadas as seguintes palavras: “ Mijolonan pala we i whe bonai do te me nue “ (vamos levar Hoho à sua casa para dar-lhe comida que vc pediu)
Um macaco deve passar pelas árvores do contrário Hoho não irá à casa . Se na volta um ou mais macacos aparecerem é sinal de que ele aceita a oferenda: “ Hoho wai agbantoe” ( os gêmeos aceitam a bagagem)

Os presentes gritam .. Bu, bu, bu, bu batendo na boca acompanhados de uma sineta(gan) obedecendo ao seguinte Cântico:
Ti gogo gogo, ti go , ti gogo gogo. Ti go.

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No Brasil o culto aos gêmeos Ibeji é sincretizado com o culto a Cosme e Damião. As semanas que precedem o dia 27 de setembro são marcadas na Bahia por festividades muito alegres durante as quais o prato preferido é o CARURU.
O culto aos gêmeos influenciado pelos costumes brasileiros trazidos pelos escravos alforriados desenvolveu-se no baixo daomé e no dia 27/09 a Associação Fraterna dos Gêmeos em “Cotonou” composta por gêmeos cujos nomes a exemplo do Brasil são Cosme e Damião organiza uma grande festa.



CULTO GELEDE


Segundo os mitos da tradição afro-descendente, já que o mito é o discurso em que se fundamentam todas as justificativas da ordem e da contra-ordem social negra, a luta pela supremacia entre os sexos é constante, simbolizada na ìgbá-dù (cabaça da criação), já que o òrì s à Y e m o ja Odùa, princípio feminino de onde tudo se cria - representação coletiva das Ìyámí ou mães ancestrais, é a metade inferior da cabaça e Obatálá ou Òòsààlà, princípio masculino, a metade superior. A relação Odùa/Obatalá, entendida simbolicamente, não representa uma simples relação de acasalamento do princípio feminino com o masculino.
Há um princípio de completude do outro, de que a vida se constrói de mãos dadas e de que cada um de nós à medida em que estabelece esta relação, estabelece um elo mais completo com as coisas que estão à volta.

Significa todo um processo de equilíbrio e de harmonia. Para se entender bem tal relação, se faz necessário situar as mulheres do ritual G È L È D È , que representam o culto às ÌYÁMÌ, as grandes mães ancestrais, encabeçadas por:Nàná ,Y e m o ja Odùa, Òs un Ijimu, Òs un Ìyánlá,Yewa e O ya. ODÙA simboliza a grande representante do princípio feminino, sendo o elemento responsável por todo o poder criador, do poder das mulheres, liderando o movimento das ÌYÁMÌ, grandes mães ancestrais, que tudo criaram, transformaram e transmutaram desde o princípio dos princípios da formação do universo.

A sociedade G È L È D È S, que já existiu no Brasil, é um ritual de mulheres que vestem panos coloridos - diferentes panos mostrando diferentes procedências. São as diferentes raízes que as pessoas podem ter na maternidade. A máscara È F É -G È L È D È que cobre a cabeça da mulher vai representar o mistério, o maravilhoso, na cultura negra. O uso da máscara significa o símbolo de outro espaço, um espaço vivo, um espaço invisível que não se conhece, mas sente-se!
No Brasil esta sociedade existiu, sua ultima sacerdotisa suprema foi O m ó ník é Ìyálóde-Erelú que tinha o nome católico Maria Julia Figueiredo, uma das Ìyálà se do Il è Ìyá-Nàsó , com sua morte cessaram-se as festividades , que eram realizadas no bairro da Boa Viagem. O propósito da sociedade G È L È D È é propiciar os poderes míticos das mulheres, cuja a boa vontade deve ser cultivada porque é essencial a continuidade da vida para esta sociedade.
Sem o poder feminino, sem o princípio de criação não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade. Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e preservação do mundo: sem a mulher não existe vida, sendo, segundo os mitos, ser reverenciada e respeitada pelos orixás e pelos homens.

As G È L È D È e suas máscaras se tornam uma metáfora, sendo uma linguagem para a mãe natureza. O G È L È é um símbolo das G È L È D È porque personifica o útero, pois ele carrega as crianças e as protege. Através das Ìyámì (mães ancestrais) a arte das máscaras é usada para aglutinar as pessoas que se relacionam como filhos de uma mesma mãe, fazendo com que o espírito se manifeste através desta máscara, seguindo e alimentando o espírito humano. Representam o não uso da violência para resolver questões. Nas culturas negras a mulher está presente em todos os lugares.

As máscaras tem grande importância na vida religiosa, social e política da comunidade, mostrando as diferentes categorias de mulher:
- mulher secreta - ligada ao divino, serve como passagem e receptáculo do sagrado no mundo dos vivos, por gerar frutos.
-mulher símbolo político - não usa violência para resolver as questões, aglutinando as pessoas, vivendo o cotidiano.
- mulher sagrada - símbolo de todos os tempos, pois está virada para o futuro, sempre vulnerável e frágil, mas é aquela que abre o céu ( Ò run) e deixa lugar para a mudança, o futuro, e para a transformação.



A sexualidade da mulher negra faz parte da sua essência de princípio feminino, sendo muitos os mitos que representam a função e o papel mulher vista como útero fecundado, cabaça que contem e é contida, responsável pela continuidade da espécie e pela sobrevivência da comunidade. Não se encontra pecado nesta sexualidade.

Através das ÌYÁ as comunidades - terreiros se constituam num verdadeiro sistema de alianças. Desde a simples condição de irmão de santo até a mais complexa organização hierárquica, há o estabelecimento de um parentesco comunitário, como uma recriação das linhagens e da família extensiva africana. Os laços de sangue são substituídos pelos de participação na comunidade, de acordo com a antigüidade, as obrigações e a linhagem iniciática. Todos estão unidos por laços de iniciação às divindades cultuadas, aos demais iniciados, às autoridades, aos antepassados e aos ancestrais da comunidade.

Através do rito se tem todo um sentido de manifestação das mulheres do grupo: rodando, dançando, se integrando com o cosmos, mostrando que temos consciência de que somos elementos dinâmicos, de que o movimento da roda - já que as mulheres são os elementos que dançam em círculo - representa o altar da criação, da vida, já que a terra está em movimento, o universo está em movimento e só se conseguirá estar em sintonia com o universo através do movimento.
G È L È D È é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades tradicionais yorubás , que expressam o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade.

O culto Gèlèdè visa apaziguar e reverenciar as mães ancestrais para assegurar o equilíbrio do mundo. As principais representações do culto também nos fala um itòn de òséyèkú, que obàtálá e odù logbojé são uma única coisa e no culto a Obàtálá, Ò s òrongà é diretamente participante , o próprio it ò n nos fala: "tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através das mãos das mulheres . esta é uma tradição do culto a Obàtálá, pela relação direta de Y e m o ja Odùa. - ìtòn òsá méjì ( o mito da roupa de Éégún)- quanto ao culto È f é -G è l è d è , os homens participam , até nas chamadas "incorporações"- dàpò sòkan - e uma das principais diferenças, estão nas próprias danças rituais, quando "feminina" e lenta e nobre, quando "a masculina" é firme e agressiva, e cabe aos òsò de Òò s ààlà' esta função.- Seja ako, baká, mundiá, tetedè, okunriu, onilu e "às outras" .

Mas quando se trata da essência da filosofia, na relação Obàtálá (símbolo da ancestralidade masculina) e, Y e m o ja Odùa - (Ò s òròngà - símbolo da ancestralidade feminina) como uma relação perfeita, trazida por Òsé-òyèkú , e também pela relação de ambos com Ikú.
O culto anual de È f é -G è l è d è , originário da cidade de Ketu no décimo quarto século, é organizado no começo da estação agricultural exatamente por uma importante questão dentro da cultura Yorùbá - a Fertilidade. Este culto se organiza da seguinte forma- sua parte diurna é exatamente G è l è d è e sua parte noturna é È f é ( o pássaro ). Os dançarinos são homens, contudo representam homens e mulheres em suas representações.
Isto prova que o culto das G è l è d è não é vetado aos Homens.


Na dança feminina G è l è d è é poderosa e contida, entretanto, na dança masculina é violenta e agressiva.Os nomes citados são os próprios nomes das 9 principais G è l è d è em sua ordem de entrada na praça do mercado, pois este culto , e na verdade todos de acordo com a direção da cabaça de Odù que vai ser desperta( òséyèkú) deveriam ser feitos ao livre como nos ensina o antigo culto à Olòrun. Akò,Baká,Mundiá,Tetedè,Okunriu,Onilu,Isa-orò,Alopajanja-eledè e Woogbáwoobaarsan )
Sendo assim, é exatamente no conhecimento deste culto que podemos perceber que os homens principalmente os "òsò" participam de toda uma enorme variedade de fundamentos do culto na sociedade Ò s òròngà, pois se assim não o fosse, como explicar o tabu de que as mulheres não podem olhar Odù ( ìtòn irètégbè ), como entender que são os Bàbáláwo - filhos de Òrúnmílá que entregam as cabaças com os pássaros as mulheres iniciadas no culto à Ò s òròngà ( itòn irèté méjì )

“ È f é “são as máscaras rituais que simbolizam o espírito das ancestrais femininas e os diferentes aspectos de seu poder sobre a terrasimbolizados pelos pássaros.
As orixás femininas cultuadas nos candomblés brasileiros representam aspectos socializados deste poder conforme a visão de mundo negro africana segundo a qual homens e mulheres se equivalem e controlamdeterminadas forças da natureza Porém a continuidade da vida sobre a terra, atributo eminentemente feminino nesta tradição é reverenciado de modo especial.
Por isso O barì s à o grande ancestral masculino canta:

“E kúnl è o, e Kúnl è f’obinrin o
E obinrin l’ó bí wa, k’àwa tó d’enia
Ogbon àiyé t’obinrin ni, e kúnl è f’obinrin
E obinrin l’o bí wa o, k’àwa tó d’enia”
(Ajoelhem-se para as mulheres.A mulher nos colocou no mundo,nós somos seres humanos
A mulher é a inteligência da terra. A mulher nos colocou no mundo,nós somos seres humanos).

ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ
O f ó ( Encantamento)
Mo júbà ènyin ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ.
(Meus Respeitos a Vós Minha Mãe OXORONGA!)
Mo júbà è nyin Ìyámí Ò s òròngà
O T ò n ó n È j è e nun
O T òo k ó n è j è è d ò
Mo júbà è nyin Ìyámí Ò s òròngà
O T ò n ó n È j è e nun
O T òo k ó n è j è è d ò
È j è ó yè ní Kál è o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò
È j è ó yè ní Kál è o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò (Meus respeitos a vós minha mãe Oxoronga)

Vós que seguíeis os rastros do Sangue interior.
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do sangue do fígado.
Meus respeitos a vós minha mãe Oxoronga
Vós que seguíeis os rastros sangue interior
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do fígado
O sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos,e ele sobrevive, sobrevive ó mãe muito velha o Sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos e ele sobrevive,ó mãe muito velha)

Ìyámì Ò s òròngá não é um orixá, mas sim uma energia ancestral coletiva feminina, cultuada pelas GÈLÈDÈ; sociedade feminina fechada da Ìyámì El é ey e (minha mãe senhora dos pássaros), representada pela máscara dos pássaros. A sociedade Ò s òròngá congrega as àj é–feiticeiras que têm poderes de se
transformarem em determindos pássaros è hurù, e luùlú,àtióro,àgbìgbò e ò s òròngà ,este ultimo refere-se ao próprio som que a ave emite e da nome a Sociedade. Exercem sua força máxima nos horários mais críticos – meio-dia e meia-noite – ocasiões em que é preciso muita cautela para que elas não pousem na cabeça de ninguém.

Suas cerimônias são realizadas no início da
estação do plantio relacionado à fertilidade.
Estas cerimônias tiveram início na região de Ketú, dividindo-se em duas partes a diurna e anoturna. Segundo nos conta um ìtàn do Odù Ogbé Ò sá , diz que quando as Ìyámìs chegaram do Ò run pousaram em sete árvores.



Segundo um Ìt ò n as 7 ávores das Ìyámìs seriam:
Orobo - Garcinea Cola
Àjànrèré - Ficus Elegans
Iroko - Chlorophora Excelsis
Orò - Antiaris Africana
Ogun Bereké - Delonex Régia
Arere - Triplochiton Nigericum
Igi ope - Elaeis Guineensis

Porém outra ìtàn nos da outra apresenta uma relação diferente das sete árvores estas seria as árvores sagradas das Mães Ancestrais:
Ose - Adansanonia Digitalia
Iroko - Chlorophora Excelsis
Ìyá - Daniellia Olivieri
Asunrin - Erythrophelum Guineense
Obobo - Não identificada
Iwó - Não identificada
Arere - Triplochiton Nigericum

A contrario do que se pensa aqui no Brasil existe sim a presença masculina no culto a ìyámí.
São detentoras de poderes terríveis,consideradas as donas da barriga(por onde circularia a energia vital do corpo) Ninguém pode com seus E b o,dos quais, o Òjijì (sombra) é o mais fatal.São ligadas diretamente ao ODU ÒYEKU MEJI, são
propiciadoras para a alteração do destino de uma pessoa. Seus poderes são tamanhos que só se consegue no máximo apaziguá-las,vence-las jamais.Relacionam-se com as ìyámìs Òs un Ijumu e Òs un Ìyánlá a quem estão ligadas pela ancestralidade feminina, bem como a Y e m o ja Odúa, considerada fundadora do culto G È L È D È.

Deve-se lembrar portanto, que "òsò" é um título de quem trás o Égan (símbolo de È s ù o qual
foi dado através das mãos de Ò s òròngà( it ò n ò s éòtúrá )e mesmo assim se foi iniciado no tradicional culto de `Obàtálá /Y e m o ja Odùa e ainda tiver profunda relação com Ikú,através de algumas se suas principais ònifás,como Òyèkú méjì,Òbàrà méjì,Òtúrúpòn méjì e algumas outras poucas.O sangue( è j è )não é de nenhum Òrì s à a não ser de Ò s òròngà como vemos no Oriki ( è j è ó yè ní kál è o - o sangue fresco que recolhe na terra cobre-se de fungos )

Afirma a tradição que as Ìyámí segue o rastro do sangue do fígado e do coração, isto se deve por os chamados À se das oferendas são de Ò s òròngà! estes orgãos se classificam em comportamentos Ofú (aqueles que produzem a fazem circular a energia no corpo) estômago,
bexiga,vesícula biliar,intestino grosso e o intestino delgado,como também em comportamentos Osa (coração,pulmões,rins,
fígado e baço - pâncreas) Estes detalhes são importantíssimos no culto à Ò s òrongà e principalmente no culto È f é -G è l è d è ainda mais se falamos do sacrifício de e l é d é (porco )

Relacionam -se com Ò s òròngà:
È s ù : somente com sua ajuda é que conseguimos a comunicação com as Ìyámí,além de ser a prova viva do poder das Ìyámís.
Ògún: o senhor da cabaça de èédú (carvão) - onà iwó oòrùn (caminho do oeste) é bem mais íntimo de Ò s òròngà,se não fosse ele o senhor do sagrado ato da oferenda de animais,
juntamente com È s ù e Ò s òròngà .
Y e m o ja Odùa* :(Yemòwo) Grande Ìyá, Senhora do ìgbá- e y e (cabaça dos pássaros) é a Ìyá'nlá seu nome é modificação da palavra Odù Logboje, a mulher primordial, também denominada E l e yinjú E g é ,a dona dos olhos delicados fazendo parte das divindadesgeradoras representada pelo Preto, fundadora do culto e sociedade G è l è d è.

Òs un :Grande protetora da gestação, é a Ìyámí-Àkókó, mãe ancestral suprema.
Òs un Ìjimu e Ìyánla:A duas mais velhas Òs un, são as duas ancestrais das mulheres.
Nàná: patrona da lama e dos primórdios da criação do Àiyé,é a O m o Àtìóro oké O fa.
O ya e Yewa:são todas Ìyá- E l é y e possuidoras da cabaça com pássaro símbolo do poder
feminino.
Olórí ìyá-àgbà Àj é E l é y e ,chefe supremo de nossas mães ancestrais possuidoras d pássaros.
Ògágun ati Ò gájùlo ninu awon ìyámí ò s
òròngà.chefe supremo,comandante entre todas as Ìyámí.
Òrúnmìlà:Este foi o único òrì s à que quando as ìyámí estavam zangadas conseguiu apaziguar sua fúria e desta forma salvou o àiyé e
restabeleceu a Harmonia,entre os Homens e Mulheres.


Toda mulher é uma Aj é,porque as Ìyámí
controlam o sangue menstrual elas representamos poderes místicos das mulheres no seu aspecto mais perigoso.São as Avós,as mães em cólera que em sua boa vontade a
própria vida na terra não teria continuidade

Ìtàn do Odù Ò sá Méjì
* Odùa TORNA-SE Ìyámí *
Nos primórdios da criação,Olódùmarè, o Ser Supremo que vive no Ò run,mandou vir ao àiyé (universo conhecido) três divindades:Ògún (senhor do ferro),O barì s à (senhor da criação dos homens) (2 -Um dos òrìsà funfun, sto é,òrì s à que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas) e Odùa(Y e m o ja), a única mulher entre eles.Todos eles
tinham poderes,menos ela, que se queixou então a Olódúnmarè.

Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (ìgbá e l é y e ) e ela se tornou então,através do poder emanado de Olódùmarè, Iyá Won,nossa mãe para eternidade (também chamada de Ìyámí Ò s òròngà,minha mãe Òshòròngà)
Mas Olódùmarè a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela sob pena de ele mesmo repreendê-la.

" Olódùmarè diz qual é o seu poder?
Ele diz: você será chamada para sempre de Mãe de todos.
Ele diz:você dará continuidade.
Olódùmarè lhe entrega o poder.
Ele entrega o poder de e l é iy e para ela.
Ela recebe,o pássaro de Olódùmarè.
Ela,recebe,então,o poder que utilizara com ele.
Ele diz:utilize com calma o poder que eu te dei a você.
Se você utilizar com violência,ele o retomara.
Porque aquela que recebeu o poder se chamar Odù.
O homem não poderá fazer nada sozinho na
ausência da mulher"
"Lati ìgbá náà ni Olódùmarè ti fun obirin l'à se"
(Desde aquela época,Olódùmarè outorgou axé as mulheres)
Elas exerciam todas as atividades secretas:
"O mú Éégún jáde
O mú Orò jáde
Gbogbo nkan,kò si ohun ti ki se nigba náà"
(Ela conduz Egun
Ela conduz Orò
todas as coisas,não ha nada que ela não faça nesse tempo)

Mas ela abusou do poder do pássaro.Preocupado e humilhado,O barì s à foi até Òrúnmìlà fazer o jogo de Ifá,e ele o ensinou como conquistar
apaziguar e vencer Odùa,através de sacrifícios,oferendas( e b o com ìgbín e pas ò n Haste de Àtòrì) e astúcia.
Ele lhe oferta e ela negligentemente, aceita,a carne dos ìgbín.

"Odù náà gba omi ìgbín,o mu ú
Nigbati Odù mu omi ìgbín tán ,inú Odù nr ò di e di e "
(Odù recebe a água de caracol para beber,
quando odù bebeu,o ventre de Odù se
apaziguou)
O barì s à e Odùa foram viver juntos.Ele então lhe revelou seus segredos e,após algum tempo,
ela lhe contou os seus, inclusive que cultuava
Éégún.Mostrou-lhe a roupa de Éégún,o qual não tinha corpo,rosto nem tampouco falava.Juntos eles cultuaram Éégún.
Aproveitando um dia quando Odùa saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egúngún.Com um bastão na mão (opa),O barì s à foi à cidade (o fato de Éégún carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas.

Quando Odùa viu Éégún andando e falando,
percebeu que foi O barì s à quem tornou isto possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a Éégún e a O barì s à,conformando-se com a vitória dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Éégún, e lhe outorgou o poder: tudo o que Éégún disser acontecerá.Odùa retirou-se para sempre do culto de Egúngún, e partiu para partir o culto G è l è d è .Só e l é iy e , indicara seu poder e marcara a relação entre Egúngún e Ìyámí.
" Gbogbo agbára ti Egúngún si nlò agbára e l é iy e ni."
(Todo o poder que utilizara Egúngún é o poder do pássaro)

O conjunto homem-mulher dá vida a Egúngún (ancestralidade) mas restringe seu culto aos
homens,os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por Olódúnmarè através dos abusos de Odùa.
Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente e somente os homens têm direito à individualidade,através do culto de Egúngún.



AS SENHORAS DO PÁSSARO DA NOITE

Iyami Oshorongá é o termo que designa as terríveis ajés, feiticeiras africanas, uma vez que ninguém as conhece por seus nomes. As Iyami representam o aspecto sombrio das coisas: a inveja, o ciúme, o poder pelo poder, a ambição, a fome, o caos o descontrole. No entanto, elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas. Pode-se usar os ciúmes e a ambição das Iyami em favor próprio, embora não seja recomendável lidar com elas.
O poder de Iyami é atribuído às mulheres velhas, mas pensa-se que, em certos casos, ele pode pertencer igualmente a moças muito jovens, que o recebem como herança de sua mãe ou uma de suas avós.

Uma mulher de qualquer idade poderia também adquiri-lo, voluntariamente ou sem que o saiba, depois de um trabalho feito por alguma Iyami empenhada em fazer proselitismo.
Existem também feiticeiros entre os homens, os oxô, porém seriam infinitamente menos virulentos e cruéis que as ajé (feiticeiras).

Ao que se diz, ambos são capazes de matar, mas os primeiros jamais atacam membros de sua família, enquanto as segundas não hesitam em matar seus próprios filhos. As Iyami são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua influência.
Iyami é freqüentemente denominada eleyé, dona do pássaro. O pássaro é o poder da feiticeira; é recebendo-o que ela se torna ajé. É ao mesmo tempo o espírito e o pássaro que vão fazer os trabalhos maléficos.

Durante as expedições do pássaro, o corpo da feiticeira permanece em casa, inerte na cama até o momento do retorno da ave. Para combater uma ajé, bastaria, ao que se diz, esfregar pimenta vermelha no corpo deitado e indefeso. Quando o espírito voltasse não poderia mais ocupar o corpo maculado por seu interdito.
Iyami possui uma cabaça e um pássaro. A coruja é um de seus pássaros. É este pássaro quem leva os feitiços até seus destinos. Ele é pássaro bonito e elegante, pousa suavemente nos tetos das casas, e é silencioso.
"Se ela diz que é pra matar, eles matam, se ela diz pra levar os intestinos de alguém, levarão".
Ela envia pesadelos, fraqueza nos corpos, doenças, dor de barriga, levam embora os olhos e os pulmões das pessoas, dá dores de cabeça e febre, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz.

As Iyami costumam se reunir e beber juntas o sangue de suas vítimas. Toda Iyami deve levar uma vítima ou o sangue de uma pessoa à reunião das feiticeiras. Mas elas têm seus protegidos, e uma Iyami não pode atacar os protegidos de outra Iyami.
Iyami Oshorongá está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que Iyami se sinta ofendida.

Iyami é muito astuciosa; para justificar sua cólera, ela institui proibições. Não as dá a conhecer voluntariamente, pois assim poderá alegar que os homens as transgridem e poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas. Iyami fica ofendida se alguém leva uma vida muito
virtuosa, se alguém é muito feliz nos negócios e junta uma fortuna honesta, se uma pessoa é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas.
E só Orunmilá consegue acalmá-la.