Um dos objetivos deste estudo, é dar subsídios para que os iniciados, os
estudiosos e os freqüentadores do Candomblé, possam argumentar sobre assuntos
polêmicos que envolvem nossa Religião, a Religião dos Orixás.
Dentre os
vários assuntos, temos os rituais que envolvem os sacrifícios animais praticados
habitualmente em nossos Rituais.
Os Cristãos, Católicos e Protestantes,
são os que mais repudiam o nosso sacrifício animal. Eles deveriam estudar mais o
seu Antigo Testamento, em específico o "Levítico", onde os sacrifícios, não só
de animais, são relatados.
O Livro "The Lion Handbook to the Bible",
Lion Publishing – England Herts – 1973 de autoria de David e Pat Alexander,
relata que o Levítico é o código das leis dadas por Deus a seu povo
através
de Moisés no Sinai.
As cerimônias e outros ritos e normas não eram um
fim em si mesmas. A oferta do sacrifício dia após dia, ano após ano, a
recordação anual do dia da expiação recordavam constantemente a Israel o pecado
que o separava da presença de Deus.
Os israelitas infringiam a aliança
com ele desobedecendo as suas leis e estavam condenados à morte. Mas Deus, na
sua misericórdia, mostrou-lhes que haveria de aceitar um sucedâneo, a saber, a
morte de um animal perfeito e inocente, em lugar da vida do pecador. Suas leis
mostram que Deus age em harmonia com as leis naturais para o bem do povo, diz o
livro.
Levítico 1-7 – Os Sacrifícios
1 - O Holocausto (capítulo 1 e
6,1-6) único sacrifício em que se queima o animal todo, um sinal de consagração.
2 - Oferta de cereais ou de farinhas (capítulo 2 e 6, 7-11) acompanhava
muitas vezes o holocausto e o sacrifício de comunhão (item 1 acima).
3 - O
sacrifício da comunhão (capítulo 3 e 7, 11-36)
4 - O sacrifício do pecado
(4,1-5,13 e 6, 17-23)
5 – O sacrifício da reparação ( 5,14-26 e 7, 1-10)
O Fiel trazia sua oferta (um animal sem defeito físico tirado da própria
manada ou rebanho ou, no caso do povo pobre, rolas ou pombos) até o pátio diante
do tabernáculo. Colocava a mão sobre ele para significar que o animal o
representava e depois o imolava (sacrificava).
Se o sacrifício era
público o Sacerdote era quem realizava essa operação. O Sacerdote tomava a bacia
com o sangue e com ele espargia o altar, queimando a seguir algumas partes
específicas do animal que continham determinadas porções de gordura. O que
restava era consumido pelos Sacerdotes e suas famílias ou ainda pelo Sacerdote
junto com os ofertantes.
Os sacrifícios exprimiam a gratidão do
indivíduo pela bondade de Deus, ou eram simplesmente manifestações espontâneas
de devoção e homenagem.
O sacrifício pelo pecado e o sacrifício da
reparação (Levítico 4-5, 26) referem-se às transgressões contra a lei de Deus ou
situação em que foi cometida uma falta contra o próximo, porém ambos demonstram
a exigência de enfrentar o pecado pelo uso do sangue.
O Sacerdote como
representante de Deus tinha a função de declarar se o fiel e sua oferta eram
aceitos ou rejeitados por Deus.
A prática do sacrifício animal remonta
ao início das relações entre Deus e os homens (Gênesis 4,4) e no Novo Testamento
explica a morte de Jesus (Hebreus 9,11). O Levítico 17,11 diz que o sacrifício é
algo dado por Deus ao Homem. A pessoa que leva a oferta apodera-se da vida do
sangue animal sacrificado e pode doá-la a Deus, injetando nova vida nas suas
relações com Deus.
Este é um pequeno espaço histórico, para a
dignificação da Religião dos Orixás, tão agredida pelas Doutrinas Cristãs,
principalmente pelas Protestantes. Então, cabe-nos o direito de mostrar quão
hipócritas são aqueles que nos agridem e nos repudiam com bases em seus Livros
Sagrados, que mostram largamente a pratica de ritos idênticos aos nossos e com a
mesma simbologia .
A Religião dos Orixá é extremamente tradicionalista e não muda sua liturgia com
fins hipócritas, somente para agradar a visão leiga dos fiéis na tentativa de
obter fins lucrativos. O que era feito há 6000 anos é mantido até hoje por nós,
mas não com uma conotação diabólica como desejam nos impor usando uma mídia já
desgastada. Hoje o Homem é culto, busca informar-se e encontra a verdade
relativa ao nosso mundo religioso.
O Orixá nunca esteve envolto ao mundo
da Magia Negra, ao baixo astral, ao Satanismo ou muito menos ligado a demônios
somente porque realizamos em nossos ritos o sacrifício animal. Nós pregamos os
ensinamentos dos Orixás que são puros em sua essência, não ficamos pregando mais
os atos dos demônios do que a palavra de Deus tirada de livros sagrados de
autoria duvidosa.
Nossa doutrina religiosa foi mantida pela boa vontade
do Homem fiel a Deus, mantendo todos os nossos conhecimentos na memória e
transmitindo-os pela oralidade. Não temos livros sagrados adaptados a cada
momento da história em decorrência das necessidades das instituições religiosas.
Não expulsamos demônios em forma de "teatro" para enganar pobres
coitados crédulos dizimistas que acreditam nas encenações de atores bem pagos
para se contorcerem em público ou darem testemunhos suspeitos, sempre idênticos,
sem provas. Não "amarramos" espíritos ruins em nome de Deus.
O que
desejamos é somente poder expor que nossa Religião, a Religião dos Orixás, tem
como objetivo ( RELIGAR) o Homem a Deus através da manutenção de ritos
tradicionalistas; através de uma hierarquia rígida mantida entre os seguidores e
Iniciados; através da exigência de uma conduta honrada e moral dentro das
verdadeiras Ègbé (Sociedades).
Desejamos mostrar com clareza que nossos
verdadeiros Sacerdotes são homens sábios, estudiosos e perseverantes na sua
religiosidade, tudo isso com base em uma filosofia mitológica milenar. Qualquer
outra versão não tem sustentação real, tratando-se de invencionismo de muitos
que pretendem impressionar ou lucrar em benefício próprio usando o nome dos (
Orixás Yorùbá ).
Se fazemos sacrifícios é porque somos autorizados por
Deus, conforme também era praticado em Israel. Além do mais, a energia pura do
Orixa, absorve a essência espiritual do animal a ele imolado e a eleva
espiritualmente, evoluindo-o rapidamente, o que deveria levar milhões de anos
para evoluir na escala espiritual, sem contar que, a carne do animal é consumida
durante as festas, proporcionando a energia da satisfação alimentar, que o Orixá
absorve e transforma em realizações das necessidades materiais dos ofertantes.
O sacrifício é necessário, tanto para a evolução espiritual do animal,
como para a alimentação dos participantes (comer animal vivo, sem sacrificá-lo é
realmente impossível!) .
Não podemos esquecer que nas mesquitas, anualmente, até os nossos dias, é
sacrificado um cordeiro para Alláh. Mas ninguém gosta de agredir o Islã. E sabem
muito bem o porquê !
Èjè (sangue) é vida, todos nós aprendemos isso nos
templos verdadeiramente consagrados aos Orixás. Tiradas as partes sagradas dos
animais que são ofertadas às Divindades, o restante é consumido pelos
ofertantes. Não há desperdício nos Ilé Orixá, em respeito à natureza, conforme
nos determinam as Divindades.
Os animais ofertados não podem sofrer para
serem imolados, conforme nos determina o Orixá Ogun Olóòbe, o Senhor da Faca. O
ritual é cercado do máximo respeito seguido de procedimentos de abstinência,
onde a pureza e a limpeza espiritual e orgânica dos presentes é exigida com
rigor para que eles possam participar desse tipo de oferenda e só aos Iniciados
devidamente preparados por anos cabe exercer o ato de imolar o animal. Isso não
cabe a qualquer pessoa despreparada.
Há uma liturgia a ser seguida a
risca em detalhes, onde o epo pupa (azeite de dendê), iyò (o sal), oyin (o mel),
omi (a água), otí (a aguardente), ataare (a pimenta) são rezados e encantados
recebendo pela palavra propriedades mágicas, para poderem ser ofertados às
Divindades como símbolos de doçura, progresso, prosperidade, fartura,
fertilidade, alegrias e paz, afim de que essas bênçãos sejam retribuídas a todos
em troca da oferta.
Sem que nunca se esqueça de ofertar para Onílè (o
globo terrestre) sua parte, pois é ele quem sustenta os nossos pés. Esta frase
metafórica Yorùbá nos ensina que é a Mãe Natureza quem nos permite mais uma
reencarnação no Àiyé (na Terra) e por isso devemos mostrar nossa gratidão a ela
durante os ritos de oferendas.
Só pode ver maldade em uma ritualistica dessa
quem é mal no mais profundo de sua essência intima, no próprio caráter ou pelo
desconhecimento, acabando por julgar sem saber o que verdadeiramente está sendo
realizado num ritual em nome de Deus.
Pois graças a esse Deus,
Olodùmarè, nós não fazemos apologia aos demônios, pois os desconhecemos na nossa
cultora religiosa. Para a cultura Religiosa Yorùbá Deus não "permitiria que os
Anjos Caíssem". Quem faz mal aos homens é o próprio Homem ! Nós somos raízes da
Energia Universal (Oloorum) e por isso mesmo temos o poder criador.
O
diabo foi criado nada menos que pelos Cristãos, pela necessidade de justificar
suas deficiências e erros e o mesmo (diabo) vem criando poderes através da
energia emitida por determinados evangélicos modernos que o mentaliza e o supre
energeticamente através da suas invocações e exorcismos diários. Nosso Deus
jamais criaria o Demônio, pois o mesmo é a antítese de Deus, senão o mesmo não
seria Onisciente, Onipotente e Onipresente!
A Religião dos Orixás não
deseja ser melhor que as outras Religiões. Deseja somente ser respeitada, assim
como sabe respeitar. Desejamos somente que as pessoas possam cumprir seu papel
em mais uma passagem pela vida no Àiyé com auxílio dos ensinamentos deixados
pelos Orixás.
Desejamos somente crescer nas experiências de viver.
Desejamos poder aprender a conviver num mesmo espaço físico com os outros
homens, porque o nosso espírito não tem para onde evoluir já que o Homem é um
deus-finito. Evoluir o espírito do Homem seria tentar superar a Deus, pois o
nosso espírito foi criado de Deus, portanto somos partículas divinas. Já fomos
criados sendo deuses.
Tudo o que necessitamos já recebemos de Deus no
momento da Criação, só temos que aprender a usar o que nos foi dado por Ele.
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