quinta-feira, 21 de julho de 2011

O CURADOR MANDUCA E A MÃE D'ÁGUA.

Certa vez, a mais ou menos 5 anos atrás ,fui em um ritual de cura (Pajelança) pois esse ritual sempre me atraiu e fascinou desde de minha infância, muitas das vezes dormir ao som de pandeiros, palmas ,tambores,matracas e chocalhar dos maracás e fiquei até o término do ritual. Conversando com o Mestre Antônio Luis Corre-Beirada pedir á ele que me contasse uma história sobre Mãe d’água e essa história, irei relatar para vcs.

Um curador (pajé) chamado “Manduca” um dia, pela tarde andando pela beira do rio próximo onde morava , avistou uma Mãe d’água, ela estava distraída de costas,tomando banho e ele foi bem devagar,de mansinho e pulou em cima dela e a agarrou pela guelra. (?)
(alguns antigos dizem que as mães d’água tem guelra)
Prendeu a mãe d’água e levou para sua casa, depois que fez isso, correu pelas redondezas o “acontecido” e todos queriam ver a tal da “Mãe d’água”.
O curador manduca a deixou trancada em seu quarto de segredo (um quarto particular que corresponderia á um “peji” nos cultos afro).
A mãe d’água não era como as pessoas imaginavam, metade mulher e metade peixe e sim uma mulher com aspectos normais (pelo menos na aparência), não comia e nem falava.
O curador (pajé) conversava com ela ,mandava andar pelos arredores da casa e nada ela falava ou fazia, apenas observava o curador e sua servente Dona Pupu ( talvez chamava-se Pulquéria ),todo curador tem uma servente ou assistente.
Ela bebia muita água e sempre ficava parada olhando para eles dois.

A FUGA DA MÃE D'ÁGUA.



Depois algum tempo a vizinhança não contendo a tamanha curiosidade começaram a fazer de tudo para olhar a mãe d'água mas,isso sópodeir acontecer epla manhã bem cedo, talvez pelo fato do curador ainda encontrar-se dormindo.

Um dia Dona Pupu estava “tratando peixe” (limpando para cozinhar) e a mãe d’água saiu do quarto e se aproximou da cozinha e ficou observando Dona Pupu.

Quando aproveitou-se da distração da servente e avançou e pegou a guelra do peixe e colocou na boca e saiu correndo desesperada em direção ao rio e chegando ao rio,antes de se jogar dentro d’água ,bateu com a mão para a servente e sumiu ,até hoje........

Depois desse acontecimento a vida do curador Manduca não foi mais a mesma,
e segundo o que disseram foi castigo da Mãe d’água.

Será que ele mereceu???

VERDADE OU MERA CONSCIDÊNCIA?????




No ritual de pajelança (cura), em alguns salões de curadores , quando chegam a linha das mães d'água, uma delas canta a seguinte doutrina:

"Dei um tropeço no caminho, feiticeiro jurou de me apanhar" (bis)
"Ah!! eu sou Mâe d'água, sou encantada , ah!!! eu moro no rolo do mar" (bis)


*teria a doutrina dessa mãe d'água alguma relação com a história contada acima ? ou seria mera conscidência?


Doutrina II

"Mãe d'água preta do rio já vem" (bis)
"Ah!!! ela vai entrar (ou tirar ) no couro , ah!! eu naum sei de quem" (bis)



Seria esse mais um dos muitos mistérios desse mundo fascinante chamado de ENCANTARIA?
NOTA:

Essa história me foi passada pelo encantado Antônio Luis Corre-Beirada em conversa comigo e outras pessoas após um ritual de pajelança.

Essa mesma história foi repassada a Yálôrishá Venina carneiro(Mãe Venina D'Ogun) pelo Babálôrishá e fundador da Casa Fanti-Ashanti Pai Euclides Ferreira (Talabyan) em entrevista de maio de 1987 e encontra-se registrada na obra "MARANHÃO ENCANTADO pag. 51 de autoria da Professora e pesquisadora Mundicarmo Ferreti.
DADOS ESTRAIDOS DA COMUNIDADE ENCANTARIA DO MARANHAO  
autoria Márcio Arthur
http://discmarcioarthurhotmailcom.blogspot.com/ 
 

sábado, 2 de julho de 2011

NOTICIAS

Manaus (AM), 01 de Julho de 2011
Carta aberta N. 02 CARMA/2011
Às Autoridades
Aos Meios de Comunicação
Ao Povo Tradicional de Terreiro
A Comunidade em Geral


Nos últimos 4 meses, no período de março a junho de 2011, a Comunidade Tradicional de Terreiro da Cidade de Manaus foi abalada com o assassinato brutal de 3 sacerdotes de Àsé, sendo um da Nação Ketu, um da Nação Angola e um de Umbanda.
Em ordem cronológica conforme publicado pela imprensa local:
Jornal A Crítica 29 de Junho de 2011
Babalorixá João Gomes da Silva Neto, 48, foi encontrado morto com sinais de espancamento, dentro de casa, na Rua Moisés, comunidade Alfredo Nascimento, Zona Norte. Conforme a polícia, o corpo da vítima estava em avançado estado de decomposição. Ele pode ter sido morto no domingo, 27 (de junho). O corpo de João estava despido e com a cabeça esmagada, provavelmente, por uma pedra, além de várias perfurações no tórax e abdômen. Segundo a polícia, na casa da vítima havia sinais de que ele travou luta corporal com o assassino.
Jornal A Crítica – 1º de maio de 2011
Pai-de-santo Marcelo Santos Aguiar, 44, foi executado com golpes de terçado na madrugada deste domingo (1º) e, depois, enterrado no buraco da fossa da privada que existe nos fundos da casa onde morava, com cerca de um metro de profundidade. Na rua 1º de maio, bairro Nova Vitória, Zona Leste de Manaus, local onde também funcionava o terreiro de Umbanda.
Em Março de 2011
Durante o carnaval foi assassinado o Tata de Nkice Alberto Cecigenan, segundo a polícia por estrangulamento. O crime se deu no Conjunto Cidadão 12 – Zona Norte.
Os três homicídios causaram perplexidade pela crueldade com que foram executados – com fortes evidências de intolerância religiosa e (ou) homofobia, ao mesmo tempo em que causou revolta pela forma com que os meios de comunicação trataram o assunto.
As manchetes de jornal, como sempre, destacaram com pejoração o termo Pai de Santo e os programas de tv, principalmente os de influência evangélica, repercutiram os crimes como consequência da opção da vítima em ser da “macumba” e ser gay.
Com base em informações de Babás e Yás amigos de Babá João Gomes Neto assassinado no dia 27 passado, era costume seu dormir despido, o fato do corpo ter sido encontrado nu não significa dizer que o mesmo estivesse participando de uma orgia sexual gay. Pode ser que o crime tenha sido resultado de um latrocínio e de homofobia, dado os requintes de crueldade.
A CARMA após ouvir suas lideranças na reunião extraordinária realizada no dia 30.06.11, vem a público repudiar essa forma de tratamento sensacionalista, intolerante, homofóbico e racista com que esses crimes foram tratados pelos meios de comunicação e solicita as autoridades competentes como o Ministério Público Estadual e Federal que tomem as devidas providências quanto a esses abusos criminosos e faz destaque ao programa de Tv Comunidade Alerta, Tv Rio Negro, Canal 13 - BAND, apresentado pelo “radialista” (sic) Ronaldo Tabosa. Evangélico assumido que usa do espaço de comunicação concedido pelo Estado para fazer proselitismo e atacar o Povo Tradicional de Terreiro e os homossexuais.
A CARMA solicita o acompanhamento dos inquéritos e processos dos assassinatos pela Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR e da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.
Também alerta para a tênue diferença entre os crimes de homofobia e intolerância religiosa, bem como para a grande incidência de crimes cometidos onde essas duas formas se fazem presentes ao mesmo tempo. Alerta ainda para os incentivos diretos e indiretos aos vários tipos de intolerâncias, tão presentes nos sermões e pregações em ambientes públicos e privados das igrejas hebraico-cristãs, em especial as neo-petencostais.
Tudo isso sob o olhar inerte do Poder Público e da obsequiosidade das conveniências Politico-Partidárias.
Denuncia ainda a crescente banalização e descaso por parte das autoridades policiais e do Judiciário, nos casos de crimes que envolvem pessoas pertencentes ao Povo Tradicional de Terreiro e a grupos homossexuais. Tais crimes são atribuídos ao fato das vítimas pertencerem a esses dois seguimentos da sociedade, assim sendo elas apenas teriam colhido os frutos de suas escolhas sexuais e religiosas.
Por serem as vítimas “macumbeiras e gays” caem no rol do silêncio e do esquecimento como foram os casos dos assassinatos dos Babás Ruy de Xangô e Navarro da Preta Mina. Até hoje não se tem notícias dos assassinos nem dos processos.
A CARMA, em nome do coletivo, exige o respeito, atenção e medidas legais cabíveis tanto da Sociedade como um todo quanto das Autoridades competentes.
O Povo Tradicional de Terreiro é parte integrante da sociedade brasileira, ele paga seus impostos mas não tem seus direitos a cidadania plena respeitados.
Chega de sermos tratados de forma leviana e banal.
Em nome do Coletivo.
Vòdunsí Re Rohsovi Alberto Jorge Silva
Coordenador Geral da CARMA.