quinta-feira, 28 de março de 2013

Yami Oxorongá, Iyami Ajé ("Mãe Feiticeira") ou Ìyá Nlá ("Grande Mãe")


Yami Oxorongá, Iyami Ajé ("Mãe Feiticeira") ou Ìyá Nlá ("Grande Mãe")

é a aglutinação coletiva dos espíritos dos mortos do sexo feminino, chamados individualmente de Ìyámi Agbá ("minha mãe anciã"), mas não são cultuados individualmente. Mães ancestrais respeitadas e temidas, têm o poder de se transformar em pássaros.
Esse poder da ancestralidade coletiva feminina é cultuado e manipulado pelas "Sociedades Gëlèdé", compostas exclusivamente por mulheres. O medo da ira de Ìyámi nas comunidades é tão grande que, nos festivais anuais na Nigéria em louvor ao poder feminino ancestral, os homens se vestem de mulher e usam máscaras com características femininas, dançam para acalmar a ira e manter, entre outras coisas, a harmonia entre o poder masculino e o feminino.
Iyami Oxorongá é a dona da barriga e não há quem resista aos seus ebós fatais, sobretudo quando ela executa o Ojiji, o feitiço mais terrível. Com Iyami todo cuidado é pouco, ela exige o máximo respeito. Iyami Oxorongá, bruxa é pássaro. As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a Dominios de egregoras e espaços abertos. Nesses lugares se invoca a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio dia e à meia-noite, principalmente essa hora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos.

Se é num momento em que se está voando, totalmente espalmada, ou após o seu eco aterrorizador, dizemos respeitosamente A fo fagun wo’lu ( [saúdo] a que voa espalmada dentro da cidade), ou se após gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, dizemos, para agradá-la Atioro bale sege sege ([saúdo] Atioro que pousa elegantemente) e assim uma série de procedimentos diante de um dos donos do firmamento à noite


YEMOWO



YEMOWO, TENHO MUITO POUCO. EIS UM POUCO:

“OGBE OMO RE O FUN NI AJE, O FUN NI ERIN RIN”
(Ele acolhe os seus filhos e dá a eles prosperidade material, dando motivo para eles sorrirem.)
ÒSÀLÀ é tido como aquele que modela a forma da criança dentro da barriga da mãe, sendo por isso chamado de escultor divino, dando filhos inclusive para mulheres estéreis, sendo comum entre os Yorubás se desejar (rezar) para as mulheres grávidas o seguinte:
“Que ÒSÀLÀ modele uma boa obra de arte para você. Entre os Yorubás acredita-se que quaisquer pessoas que nascem com deformações tais como albinos, anões, corcundas, cegos, surdo-mudo, paraplégicos são feitos assim por ÒSÀLÀ para serem consagrados a ele, sendo as pessoas com esses problemas de nascimento chamadas de ENI ÒRÌSÀ (O ser de ÒSÀLÀ ou o escolhido de ÒSÀLÀ).
É por esta razão que qualquer pessoa que tenha qualquer defeito visível de nascimento é tida como sacerdote de ÒSÀLÀ. ÒSÀLÀ é o único ÒRÌSÀ que é capaz de escolher seus sacerdotes dentro do ventre da mãe. Não precisa de qualquer investigação para se saber o ÒRÌSÀ de uma pessoa que nasce com defeito visível de nascimento porque essa pessoa já foi escolhida dentro do ventre da mãe para ser sacerdote de ÒSÀLÀ, sendo a investigação necessária quando se tratar de uma pessoa perfeita, sem nenhuma má formação de nascimento. Os Yorubás crêem que ÒSÀLÀ faz as pessoas com defeitos para que as pessoas perfeitas tenham motivos para agradecer ao escultor divino por tê-las feitos sem defeitos.
ÒSÀLÀ é notável por ser puro, em vida, morava em uma casa pintada com giz branco (EFUN), dizem as lendas também que ele se vestia de roupa branca. ÒSÀLÀ é tão puro que em vida ele foi o único ÒRÌSÀ que praticou monogamia, dizem as lendas que a única mulher que ÒSÀLÀ teve chamava-se YEMOWO.
YEMOWO era uma pessoa comum, não era ÒRÌSÀ e não participava das atividades do marido. YEMOWO não teve filho de ÒSÀLÀ, na verdade, é costume dizer que ÒSÀLÀ faz os filhos para os outros, mas não teve tempo de fazer seu próprio filho, mas analisando espiritualmente a posição de ÒSÀLÀ em relação ao fato dele não ter filho carnal, podemos dizer que ele não precisava de filho carnal porque todos os seres foram feitos por ele, então todos são seus filhos.
YEMOWO foi uma esposa fiel, e que entendia bem as obrigações paternais que ÒSÀLÀ tem para com os seres da Terra, ajudando-o a preparar a argila com que ele modelava os corpos. Para poder melhor realizar suas tarefas de modelador de seres e de líder dos ÒRÌSÀS na tarefa de criação da Terra, ÒSÀLÀ teve dois assistentes AJALA e ALAKEDUN.
AJALA ou AJALA ALAMO (AJALA, o dono da argila) era um artista que tinha o dom de modelar o ORI (cabeça) dos seres. Ele não era um assistente direto de ÒSÀLÀ, mas havia uma ligação entre os dois porque era para AJALA que ÒSÀLÀ mandava os corpos dos seres já feitos para receberem seus ORI (cabeças). Falaremos mais sobre AJALA quando tratarmos sobre o ÒRÌSÀ ORI (O destino).
ALAKEDUN (Anseio) era o imediato de ÒSÀLÀ. Ele era a pessoa que ÒSÀLÀ mandava a OLÓDÙMARÈ para relatar tudo o que estava acontecendo aqui na Terra. Na verdade ALADEDUN veio do Céu para a Terra junto com ÒSÀLÀ desde o início. ALAKEDUN foi uma das sete pessoas comuns que vieram para a Terra com os nove ÒRÌSÀS.

ITAN ÒSÀLÀ
Lenda sobre ÒSÀLÀ
As lendas dizem que ÒSÀLÀ foi nascido e criado na cidade de IGBO onde aprendeu o ato de modelar com argila. Ao atingir a puberdade ele foi para a cidade de IRANJE onde passou a praticar seu ofício de escultor. Na cidade de ODE-IRANJE ele prosperou e ficou famoso, foi nesta cidade que ele se casou com YEMOWO. ÒSÀLÀ viajava muito para fazer entrega de suas esculturas em várias cidades, sendo por isso bastante conhecido em muitas cidades Yorubás com vários nomes. A casa onde ele morava era decorada com vários tipos de esculturas que ele fazia. Estas esculturas serviam para mostrar sua paixão por sua arte e também serviam de amostras para seus clientes. Ele sempre fazia as esculturas dos seres em casais (macho e fêmea). As mais proeminentes de suas esculturas eram imagens de seres humanos, de cobras, de sapos, de peixes de leopardos.
ÒSÀLÀ pintava sua casa de branco e gostava de usar espada feita de latão branco. Ele sempre teve uma exigência em sua vida que, a sua esposa, YEMOWO, fosse sempre a primeira a pegar água no rio. Para cumprir essa exigência sua esposa acordava bem cedo, antes de qualquer pessoa, e assim ela era a primeira a chegar no rio para pegar água.
ÒSÀLÀ foi uma pessoa que teve muitos anos de vida, sendo um dos ÒRÌSÀS que mais tempo viveu na Terra, tendo morrido de velhice. ÒSÀLÀ sempre manteve contato com OLÓDÙMARÈ informando sobre sua atividade e a dos outros ÒRÌSÀS na Terra. Quem levava estas informações era seu imediato ALAKEDUN que gozava de sua confiança. As lendas dizem que ÒSÀLÀ no início gostava muito de beber EMU (vinho natural de palmeira). Ele bebia muito e muitas vezes até ao ponto de ficar embriagado. As bebedeiras de ÒSÀLÀ influenciava na feitura dos corpos que ele criava, havendo por isso muitas falhas. Numa dessas vezes que ALAKEDUN foi levar uma mensagem de ÒSÀLÀ para OLÓDÙMARÈ, ele fez intriga dizendo a OLÓDÙMARÈ que ÒSÀLÀ bebia muito e que isto estava afetando os corpos que ÒSÀLÀ criava e, se fosse preciso, ele ALAKEDUN seria capaz de fazer tudo o que ÒSÀLÀ fazia com mais perfeição e que se OLÓDÙMARÈ quisesse ele tomava conta de tudo. Ai OLÓDÙMARÈ pensou bem e disse para ALAKEDUN que tinha ouvido o que ele tinha dito, mas antes de tomar uma decisão definitiva ele ia querer ouvir ÒSÀLÀ. Então ele mandou ALAKEDUN de volta para Terra com uma mensagem para ÒSÀLÀ, dizendo que ele, OLÓDÙMARÈ, já sabia a razão pela qual os corpos que ÒSÀLÀ fazia estavam tendo falhas e que ele ÒSÀLÀ fosse ao Céu para se explicar sobre o assunto. Ao sair de perto de OLÓDÙMARÈ, ALAKEDUN começou a pensar em como é que ele daria a ÒSÀLÀ a mensagem de OLÓDÙMARÈ e também em qual seria a reação de ÒSÀLÀ. Ai ALAKEDUN ficou com remorso por ter feito a intriga e resolveu ficar no Céu para não ter que enfrentar ÒSÀLÀ.
ÒSÀLÀ esperou muito a volta de seu imediato do Céu, mas foi em vão. Como ALAKEDUN não costumava se demorar neste tipo de visita ao Céu, ÒSÀLÀ decidiu ir até ÒRÚNMÌLÀ (ÒRÌSÀ da Adivinhação) para jogar IFÁ a fim de saber porque ALAKEDUN estava demorando tanto. Ai ÒRÚNMÌLÀ revelou a ÒSÀLÀ a intriga que ALAKEDUN havia feito e o avisou que OLÓDÙMARÈ o estava chamando para se explicar sobre o assunto. Então ÒSÀLÀ perguntou a ÒRÚNMÌLÀ o que ele poderia fazer para aliviar o problema. ÒRÚNMÌLÀ disse para ÒSÀLÀ não beber mais o vinho da palmeira e que dali por diante ele, ÒSÀLÀ, tinha que cozinhar milho branco bem cozido até desmanchar e misturar com leite para fazer mingau. Esta mistura deveria ser colocada dentro de uma cabaça acanudada, e toda vez que ele sentisse vontade de beber ele teria que beber esta mistura. Esta mistura é chamada de EGBO (canjica). ÒSÀLÀ fez tudo como ÒRÚNMÌLÀ tinha mandado e parou de beber. Logo depois OLÓDÙMARÈ mandou outro emissário chamar ÒSÀLÀ para ir ao Céu para explicar o caso.
OLÓDÙMARÈ chamou também todos os ÒRÌSÀS para ouvirem as explicações de ÒSÀLÀ. Ao chegar, ÒSÀLÀ ficou surpreso ao encontrar todos os ÒRÌSÀS principais e o próprio ALAKEDUN com OLÓDÙMARÈ. Então OLÓDÙMARÈ lhe perguntou como estavam os serviços na Terra, no que ÒSÀLÀ respondeu que ele estava fazendo bem os serviços que OLÓDÙMARÈ tinha mandado fazer na Terra e que não havia problema nenhum em suas atividades na Terra. ALAKEDUN então argumentou perante os presentes que ÒSÀLÀ bebia muito e com isto as esculturas estavam saindo com defeitos. ÒSÀLÀ respondeu que ele não bebia nada. ALAKEDUN vendo a cabaça que estava pendurada no pescoço de ÒSÀLÀ disse que a cabaça com vinho era aquela que estava pendurada. ÒSÀLÀ então reafirmou que não bebia e que aquela cabaça continha um preparado de EGBO (milho branco com leite) que ele costumava beber quando sentia sede, e assim ele serviu o EGBO para todos os presentes provarem, e assim viram que não se tratava de vinho. Assim ÒSÀLÀ foi absolvido do caso e ALAKEDUN (Anseio) foi desmascarado em sua tentativa de tomar o lugar do seu chefe. Foi então que OLÓDÙMARÈ ordenou que a partir daquele momento, além de ÒSÀLÀ, ALAKEDUN (Anseio) passaria a servir a todos os ÒRÌSÀS e os seres humanos também. Assim os seres humanos passaram a ter anseios, desejando algo para o futuro mesmo sabendo que não é sempre que todos os nossos desejos são atendidos ou se tornam verdadeiros. A partir daí ÒSÀLÀ tomou nojo de bebidas e não aceitou mais bebidas.

FOTO: ASSENTAMENTO DE OBATALÁ E YEMOWO - NIGÉRIA

PORQUE OSOTOKANSOSO, O CAÇADOR DE UMA SÓ FLECHA, SE CHAMA OXÓSSI



PORQUE OSOTOKANSOSO, O CAÇADOR DE UMA SÓ FLECHA, SE CHAMA OXÓSSI

Okë!

Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas.
Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames.
Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegando o dia, o rei instalava-se no pátio do seu palácio.
Suas mulheres sentavam-se à sua direita,
seus ministros sentavam-se à sua esquerda,
seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas,
e os tambores soavam para saudá-lo.
As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma.
Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa.
O pássaro voava à direita e voava à esquerda...
Até que veio pousar sobre o teto do palácio.
A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras,
furiosas porque não foram também convidadas para a festa.
O pássaro causava espanto a todos !
Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio,
sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio,
as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
As pessoas assustadas comentavam:
"Ah! Que esquisita surpresa!"
"Eh! De onde veio este desmancha-prazeres ?"
"Ih! O que veio fazer aqui?"
"Oh! Bicho feio de dar dó!"
"Uh! Sinistro que nem urubu!"
"Como nos livraremos dele?"
"Vamos rápido chamar os caçadores mais hábeis do reino."
De Idô, trouxeram Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas,
Oxotogun afirmou:
"Que me cortem a cabeça se eu não o matar!"
E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogi, o "Caçador das quarenta flechas".
O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas.
Oxotogi afirmou:
"Que me condenem à morte, se eu não o matar!"
E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas".
Oxotodotá afirmou:
"Que exterminem toda a minha família, se eu não o matar!
Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro.
O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só".
O rei ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
Oxotokanxoxô afirmou:
"Que me cortem em pedaços seu eu não o matar!"
Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos,
foi rápido consultar um babalaô, o adivinho,
e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
"Ah! - disse-lhe o babalaô.
"Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza.
Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza."
E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse às feiticeiras.
A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito,
e foi, rápido, colocar na estrada, gritando três vezes:
"Que o peito do pássaro aceite este presente!"
Foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro.
Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então.
A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito.
O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu.
A notícia espalhou-se:
"Foi Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só", que matou o pássaro!
O Rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse!
Ele ganhará a metade da sua fortuna!
Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio,
e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!!"
Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa,
Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas",
ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios:
Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas", ofereceu-lhe quarenta sacos:
Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas", ofereceu-lhe cinquenta.
E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô
"OXOWUSI! OXOWUSI!! OXOWUSI!!!
O caçador Oxo é popular!"
E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado OXOWUSI.
OXOWUSI! OXOWUSI!! OXOWUSI!!!

Bibliografia:
Livro: Lendas Africanas dos Orixás
Autor: Pierre Fatumbi Verger