domingo, 30 de setembro de 2012

IMOLE ESÚ


Uma das divindades ancestrais iorubanas que mais escandalizou, confundiu e exasperou aos primeiros missionários e catequistas cristãos europeus em África foi o Imole Eshu, sobretudo porque estes primeiros missionários, reagindo aos estímulos de seus próprios subconscientes e aos tabus sócio-religioso-culturais daquela época, superestimaram um dos atributos deste Imole, qual seja, o de estimulador e regulador da natural atividade sexual, sem a qual não há procriação animal ou humana.

À época, esses primeiros catequistas não se deram conta que estavam imergindo em uma civilização africana autóctone e guerreira, agrícola e pastoril, aonde a atividade sexual regulamentada pela sociedade não era um "pecado" e sim uma benção sempre solicitada às Divindades porque significava a segurança de uma grande descendência.

Sim, o mesmo conceito bíblico do "crescei e multiplicai-vos" !
Mas, na sua feroz repressão a este atributo e à sua representação fálica, esses catequistas "esqueceram-se" das outras atividades primordiais desse Imole ! E esse "esquecimento" influenciou duradouramente até aos iorubanos escravizados e "catequizados" no Brasil, fazendo com que eles pouco repassassem aos seus futuros descendentes e/ou dependentes religiosos outros atributos mais importantes que haviam por detrás daquela representação fálica agora repudiada.

Ao contrário, é em respeito ao conceito ancestral que os Iorubanos tinham de suas Divindades que enumerarei aqui os principais 16 (dezesseis) títulos descritivos dos atributos que o Imole Eshu tinha antes do advento de sua "conversão" forçada em diabo, em nome de uma pretensa superioridade racial e cultural de "conquistadores" que levaram à áfrica mais de trezentos anos de guerras, sangue, suor e lágrimas.

Também só nos referiremos aqui a Eshu por seu título ancestral iorubano de Imole / Ser Sobrenatural de origem divina, para bem diferenciá-lo do conceito de Satã, Caipora ou êxú de Tronqueira que a perda de valores religiososo africanos, causada sobretudo pela escravidão e o sincretismo forçado com o Catolicismo, permitiu insinuar-se até na mente de muitos que se dizem Pai de Santo, quanto mais na mente de seus mais simples seguidores atuais.

Assim, com o devido respeito, começamos por saudar ao Imole Eshu :
Mo ju iba, Esu Oba Baba awon Esu ! Iba se, o !
Saudações, Eshu Senhor e Pai de todos os Eshus !
Que esta homenagem se cumpra !
E pedimos-lhe Ago / licença para citar o seu Orisirisi / Contos Imemoriais onde se fala de seus dezesseis maiores atributos, sobretudo ligados ao Culto de Ifá, e que são tão negligenciados hoje em dia até pelos seus El'esu / Sacerdote de Eshu!

Eis aqui seus maiores dezesseis títulos e suas correspondentes "qualidades", os quais sempre foram ligados aos 16 Odu / Fundamentos de Tradição dos Itan Ifa / Contos de Ifá de Ile Ife / a Cidade Santa de Ifé.

01.Esu Yangi - o Senhor da Laterita Vermelha
02.Esu Agba - o Senhor Ancestral
03.Esu Igba Keta - o Senhor da Terceira Cabaça
04.Esu Okoto - o Senhor do Caracol
05.Esu Oba Baba Esu - o Rei e Pai de todos os Eshus
06.Esu Odara - o Senhor da Felicidade
07.Esu Osije - o Mensageiro Divino
08.Esu Eleru - o Senhor da Obrigação Ritual
09.Esu Enu Gbarijo - o Senhor da Boca Coletiva
10.Esu Elegbara - o Senhor do Poder Mágico
11.Esu Bara - o Senhor do Corpo
12.Esu L'Onan - o Senhor dos Caminhos
13.Esu Ol'Obe - o Senhor da Faca
14.Esu El'Ebo - o Senhor das Oferendas
15.Esu Alafia - o Senhor da Satisfação Pessoal
16.Esu Oduso - o Vigia dos Odus .



Pouca semelhança entre estes nomes e aqueles que, hoje em dia, se lhe atribuem ?
Paciência !
Somem a estes nomes 350 anos de guerras, massacres, escravidão, aculturação por sobrevivência e "catequese" forçada goela abaixo dos vencidos e chegaremos facilmente, com o devido respeito, às Tronqueiras e à troca de nomes do Senhor da Laterita por Êxú do Lodo, o Senhor dos Caminhos por Êxú Tranca-Ruas e o Senhor do Corpo por Êxú dos Cemitérios, como veremos a seguir.

Assim, tendo visto as denominações, vejamos agora as qualificações.
Eshu Yangi é a sua primeira forma mais importante e a que lhe confere a qualidade de Imole / Divindade, pois nos Ritos da Criação, segundo o Credo Iorubá :
-"O ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos transformou-se em lama.
Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, a primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento.

Olorun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflando-lhe Seu Hálito e lhe deu vida. Esta forma, a primeira dotada de existência individual, um rochedo de Laterita, era Eshu Yangi."

Assim, fica claro que Imole Eshu foi criado diretamente por Olorun, mas não da própria e primordial matéria divina, da qual Ele já havia feito Obatala e Oduduwa, o Casal Divino, mas sim daquela matéria que iria formar toda existência genérica subseqüente, ou seja, a Eerupe / Lama, da qual seria criada também toda a Humanidade que um dia Ebora Iku / a Morte devolverá a essa mesma Lama.

Então, Eshu Yangi é o primeiro Ser criado da Existência Genérica e o símbolo por excelência do Elemento Criado. Por isso ele é chamado também de Eshu Agba / Eshu Ancestral. Assim, os seus assentamentos ou sacrários mais antigos e tradicionais eram um simples pedaço de Laterita vermelha enfiado no solo, na Orita Meta / Encruzilhada de Três Caminhos. Algumas vezes, a Laterita vermelha estaria cercada por 7, 14 ou 21 hastes de ferro, mas deste metal bem enferrujado que é o "esqueleto" do metal novo.

Como os mitos da Criação, segundo os Iorubás, demonstram que Imole Eshu foi criado logo após Obatala e Oduduwa por Olorun, ele é, portanto, o Igba Keta / a Terceira Cabaça ou o Terceiro Criado, sendo símbolo da Existência Diferenciada e, em conseqüência, o elemento dinâmico que leva à propulsão, à mobilização, à transformação e ao crescimento. Nesta variante múltipla, ele é o princípio dinâmico que participa forçosamente de tudo o que virá a existir.
E assim foi-se processando a Criação, segundo o Credo Iorubá.

Os Orisirisi Esu continuam contando como Imole Eshu logo descontrolou-se e começou a devorar toda a existência, sendo obrigado por Orunmila, após uma longa perseguição, a vomitar tudo de volta ; entretanto, melhor, em maior quantidade e mais perfeito do que quando o ingerira.

E, tendo sido picado em milhares de pedaços pela espada de Orunmila, transformou-se no Mais Um ou o Um multiplicado pelo Infinito, no Eshu Okoto / Caracol, cuja estrutura óssea espiralada parte de um ponto único, abrindo-se para o Infinito e no qual os Iorubanos conceituavam o crescimento e a multiplicação.

Desta forma, Eshu Yangi também multiplicou-se “infinitamente" e, tendo se tornado no símbolo da restituição e da recomposição, tornou-se ele próprio no Oba Baba Eshu / Rei e o Pai de todos os outros Imole Eshu que dele foram "cortados” e que para sempre acompanhariam os Imole e todos os mortais.
Os Ese Itan Ifa / Versos dos Contos de Ifá, contam-nos a razão da denominação das outras variantes múltiplas de Imole Eshu.



Numa explanação livre dos versos desses Contos, no que se refere ao Imole Osetuwa, podemos ler que quando os Imole vieram à Terra para coadjuvar Obatala e Oduduwa a reger a Criação, Olorun ensinou-lhes tudo quanto precisavam saber para que a vida na Terra fosse Odara / Feliz.

Mas, apesar de os Imole fazerem tudo quanto lhes tinha sido prescrito por Olorun, sobrevieram na Terra todos os tipos de desgraças sobretudo uma terrível e prolongada seca.
Os Imole reuniram-se e chegaram à conclusão de que os fatos desastrosos estavam além da sua compreensão e que deveriam mandar alguém, sábio e instruído, à presença de Olorun para que Este lhes mandasse a solução dos problemas que afligiam a Terra, agora sob o risco de total desaparecimento.

Orunmila, o Orixá da Divinação Sagrada, partiu nessa missão e data daí o fato de que Orunmila passou a ser um dos dois Imole que podem apresentar-se perante Olorun e suportar-Lhe o esplendor. Ao lhe ser permitido facear Olorun, Orunmila ouviu Dele que a razão para todas as desgraças que assolavam a Terra estava no fato de que eles, os Imole não haviam convidado para morar no Ode Aiye, ou seja, a moradia dos Imole na Terra, ao Ser que se constituía no décimo sétimo dentre eles.Quando assim o fizessem, tudo voltaria a frutificar!

E foi assim que Orunmila tornou-se o Arauto de Olorun para a ligação dos dois mundos o Orun / Além e o Aiye / Terra. Retornando ao Ode Aiye, junto com os outros quinze Imole, Orunmila começou a procurar pelo "décimo sétimo" o qual deveria ser convidado a morar com eles.

Depois de muitas tentativas infrutíferas decidiram que uma poderosa Aje / Senhora do Feitiço - a Ebora Osum - deveria conceber um filho de Oso / Senhor do Poder Mágico, filho esse que receberia, ainda no ventre materno, o Ashe / Força Mágica de todos os Imole por imposição conjunta de suas mãos, para que se transformasse assim no Mensageiro por excelência das Oferendas dos Imole e se acabassem as desgraças que assolavam a Terra.

Assim foi gerado um filho do "Feitiço com o Poder Mágico" o qual recebeu o nome de Osetuwa e este novo Orixá Gerado passou a tentar cumprir o seu dever de mensageiro, mas sem obter absolutamente nenhum sucesso!
Até que um dia, em aflição, lembrou-se de procurar o quase desconhecido Imole Eshu Odara / Eshu da Felicidade, para pedir-lhe conselhos e ajuda.

E Osetuwa dirigiu-se a Eshu Odara e pediu-lhe a ajuda para levar as Oferendas dos Imole a Olorun. E Eshu Odara respondeu a Osetuwa:
Como ?
Jamais pensei que você viesse me avisar antes de partir !
Por este seu gesto, hoje o Orun / Além lhe abrirá as portas.
E, então, Osetuwa e Eshu Odara puseram-se a caminho e partiram em direção aos portões do Orun. Quando lá chegaram, as portas já se encontravam abertas.

Osetuwa, então, pôde entregar as Oferendas dos Imole a Olorun e Este, aceitando-as por virem através de Imole Eshu, deu a Osetuwa .."todas as coisas necessárias à sobrevivência do Mundo". Osetuwa voltou ao Aiye / Mundo Material e tudo frutificou novamente!
Tão gratos lhe ficaram os Imole que o cobriram de presentes e o celebraram como o único dentre eles que conseguira levar as Oferendas ao Orun. Mas Osetuwa, com humildade, levou todos os presentes que recebera e deu-os todos a Eshu Odara.

Quando os deu a Eshu, o mesmo disse :
-“ Como ??? Há tanto tempo eu entrego os sacrifícios e nunca houve ninguém para retribuir-me a gentileza !
-“ Você, Osetuwa, todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a Terra se não os entregarem primeiro a você para que você os possa trazer a mim farei com que as Oferendas não sejam aceitas!
E foi assim que Osetuwa tornou-se em um poderoso Akin Oso / Manipulador do Poder, duplamente por seu nascimento e pela confirmação de Imole Eshu Odara, por ter mostrado a todos os Imole que Eshu era realmente o Osije / Mensageiro Divino e que também tinha o poder de aceitar ou recusar os sacrifícios rituais porque era o verdadeiro Eleru/Senhor da Obrigação Ritual.



A partir de então, os seiscentos Imole decidiram dar ao Imole Eshu um “pedaço de suas próprias bocas” para que ele pudesse falar por todos, quando fosse perante Olorun, pois era patente que ele era o outro Imole, além de Orunmila, que podia apresentar-se perante Ele. Imole Eshu, muito sabiamente, “uniu todos esses pedaços em sua própria boca” e assim tornou-se o Enu Gbarijo / Boca Coletiva de todos os Imole.

Desde então, corno retribuição de Eshu aos outros Imole, cada um desses possui ao seu lado o seu Eshu Okoto / Caracol, o Mais Um, a quem ambos delegam os seus poderes. Desta forma, por delegação espontânea de todos os Imole, Eshu tornou-se também o Elegbara / Senhor do Poder Mágico. E como toda a Criação é também regida pelos Imole, todo o Ser vivente no Aiye / Mundo, assim como possui o seu Olori, ou seja, o seu Orixá ou sua Ebora, que são o Senhor ou a Senhora de sua Ori / Cabeça, também tem que ter o seu Eshu Bara / Eshu do Corpo, pois Bara vem de Oba = Senhor + Ara = Corpo.

Isto explica muitas coisas que são atribuídas nos cultos afro-brasileiros a Eshu, pois que ele é responsável pela natural atividade sexual, que é um atributo do corpo, pois sem ela não há procriação, que é multiplicação e abundância, quer seja vegetal, animal ou humana.

E, para isso, Imole Eshu, sendo o Elegbara e o Bara, recebeu de Olorun os instrumentos-símbolos desta sua ação dinamizadora e frutificadora :
- o Ado Iran, a Cabaça arredondada de longo pescoço, o recipiente de poder mágico que contém inesgotável Axé / Força Mágica, bastando ser apontada a um objetivo para emanar e propagar esse poder mágico ;
- o Gorro ou Penteado tradicional em coque de ponta alongada e caída, terminada na forma da glande peniana humana.

Daí ser o Pênis humano, em ereção, uma de suas mais populares e ancestrais representações, feitas em pedra, como as da localidade africana de Tondediru, ou, mais simplesmente, modeladas em barro à beira dos caminhos. E este foi, como já dissemos no início, um dos aspectos de Imole Eshu que mais escandalizou os missionários de outras religiões, que então dispararam contra ele todas as suas “armas”

Mas, nunca atentaram para o fato de que em nenhum dos milhares de Versos de Contos de lfá, Imole Eshu jamais - repitamos - jamais assume a função de procriador e mais : suas diversas formas multiplicativas têm por origem a divisão do seu próprio Ser em “milhares” de partes pela espada de Orunmila.

Mas Imole Eshu tinha uma outra função capital que despertou o interesse dos catequistas das novas religiões, que nela viram a oportunidade otimizada para a destruição de sua importância entre os Iorubás : a sua função de Executor Divino.
Como Imole Eshu é o Mensageiro Divino e o Senhor do Carrego Ritual prescrito por Orunmila-Ifá, ele é também o L'Onan / Senhor dos Caminhos, tanto dos benéficos (Ona Rere), quanto dos maléficos (Ona Buruku), que ele abre ou fecha aos mortais conforme verifique se os sacrifícios prescritos aos fiéis foram ou não cumpridos, ajudando aqueles que os cumprem e punindo os que, devidamente avisados, não o fazem.

Por isso, ele é também o Ol'obe / Senhor da Faca, significando ser o Executor dos Sacrifícios, mas também, no sentido ritualístico, "Aquele que tem o poder de vida e morte". à Obe / Faca, Imole Eshu junta ainda a sua Opa / Bolsa, na qual carrega os seus objetos ritualísticos mágicos, entre eles os "fragmentos de cabaças", símbolo do Ser destruído mas, por sua vez, destruidor, talvez um dos seus emblemas mais temidos e somente manipulados por seus El'esu, ou seja, pelos Sacerdotes do Imole Eshu.

Por tudo isso, Imole Eshu está sempre "do lado de fora", nos “caminhos”, onde tem seu lugar predileto, a Orita Meta / Encruzilhada de Três Caminhos, onde ele aceita, carrega, transporta e premia, mas, também, de onde vigia, adverte, recusa e pune.



Foi então que os primeiros catequistas de outras religiões passaram a pregar que todas as desgraças acontecidas aos fiéis dos Orixás Iorubás, merecidas ou não, derivavam da ação nefasta e indiscriminada de Imole Eshu, o qual apenas faria o Mal pelo Mal.

Por sua vez, os Iorubás escravizados viram nesta interpretação equivocada de Executor por Malfeitor, uma nova arma para se defenderem e passaram a ameaçar abertamente os seus inimigos com as artes punitivas do Imole "Esu", que assim começou a transformar-se em "êxú" e a sincretizar-se, nas mentes mais fracas, com a figura do “diabo” medieval católico.

Daí a ele começar a ser representado e apresentado como um Ser tenebroso e mau foi apenas a mesma “descida de ladeira” por onde escorregaram os sincrético cultos afro-brasileiros, notadamente a Umbanda Popular, até estarem lançadas as bases do “sincretismo dentro do sincretismo" e aparecer a Kimbanda que, na verdade, nada mais é que o ponto mais alto da “curva do desespero” a que foram lançados os povos escravizados no Brasil.

Mas, na realidade, no Credo Iorubá, Imole Eshu é o símbolo, não da subtração, mas sim da restituição que os humanos devem fazer, através de Oferendas, daquelas coisas que eram necessárias à sobrevivência do Mundo e que Olorun deu aos Imole Osetuwa e Eshu para salvá-la e não para destruí-la.

E é na execução das Oferendas com esta intenção, que só Eshu Elebo / Senhor das Ofendas é capaz de tornar aceitável a Olorun, que está a "chave" que permite ao fiel alcançar o seu objetivo. E se conseguir alcançar o seu objetivo, naturalmente obterá também a satisfação (Alafia) dos seus anseios maiores ; assim, deve agradecer também a Eshu Alafia / Senhor da Satisfação Pessoal.

É sobretudo sob as múltiplas variantes de Bara, Enu Gbarijo, Elebo e Alafia que o Orixá Orunmila se utiliza do Imole Eshu para poder atuar como o Arauto dos Orixás sobre os destinos humanos no Jogo Divinatório de Ifá, quer através do Opon e do Opele, quer através dos Búzios.

Por isso mesmo, os Odu / Fundamentos de Tradição sempre aconselham a Pa Esu, ou seja, a apaziguar ao Imole Eshu e não a tentar suborná-lo para ter um “malfeitor” às ordens.
Por isso mesmo, Imole Eshu é o Princípio Restaurador do Equilíbrio no Credo Iorubá.

Daí as suas representações pouco conhecidas, à fora sua representação fálica, ora “fumando cachimbo”, simbolizando a absorção e a ingestão, ora “tocando flauta”, simbolizando a doação e a restituição.

E assim, os Orisirisi Esu contam corno ele distribui generosamente crescimento e honras, “vomitando-os" após ter ingerido todo tipo de alimentos e bebidas rituais das Oferendas e como há um determinado elemento, o Aasaa / Fumo de rolo picado que infalivelmente provoca essa inusitada transformação, multiplicação e restituição”.

Tudo isso ele assim faz em troca de somente três coisas : a coragem do fiel em tentar cumprir seu próprio destino; respeito do fiel aos Fundamentos de Tradição dos Orixás e a oferta de seu Ebo / Oferenda específico que lhe é destinada no seu ritual próprio, o Ipade, cujo literal significado é justamente “ato de reunião de apaziguamento” e não para pedidos de destruições e vinganças aleatórias, como pensam aqueles que, na verdade, não conhecem a essência do Senhor lmole Eshu, porque se esqueceram ou não conhecem as suas raízes espirituais ancestrais, ou, pior ainda, as renegam !



A oferenda Ebo é constituída de elementos materiais muito simples, mas de profundo significado, ao contrário do que se vê "despachado" pelas esquinas de nossas cidades e que quase não guardam relação alguma com o seu significado original :

Omi (a água), a Oferenda por excelência, que fertiliza, apazigua e vitaliza tanto o Além quanto a Terra, especialmente se for a Omi Ato (água de chuva), a “água-sêmen” do céu !

Epo (o Azeite de Dendê) : símbolo da dinâmica da realização, da descendência, relacionada com o Eje Pupo / “sangue vermelho” ou essência do Vermelho dos elementos gerados ;

Otin (bebida destilada branca) : vinho de palmeira em áfrica e cachaça no Brasil, relacionada com o Eje Funfun / “sangue branco” ou essência do Branco dos elementos geradores;

Iyefun (a farinha) : qualquer farinha, a qual é símbolo do Eje Dudu / “sangue preto” ou essência do Preto dos elementos gestantes e fecundos, quase sempre na forma do Akasa, bolinho de pasta branca de milho deixado de molho, ralado e cozido, envolto na folha especial Ewe Eko.

Dito isto (e mais haveria ainda a dizer), eis porque tão poderosa divindade sempre foi e ainda é cultuada e servida antes até que servidos e cultuados sejam os Orixás, em qualquer situação e lugar ... ...
Remarquemos a mais que, especificamente no Ebo de seu Ipade, Imole Eshu não recebe sangue animal e sim seu sucedâneo transmudado - o Epo / Azeite de Dendê.
Assim, sem ferirmos a Tradição Ancestral, podemos afirmar que é um direito da Corrente Astral do Aumbhandan - A Umbanda Esotérica do Brasil - não se utilizar de sacrifícios de sangue, nem mesmo parar preceituar tão poderosa divindade.

Usos e costumes ancestrais de outros povos, legítimos e fundamentados à sua época, podem muito bem serem transmudados em novos tempos, como já acontecia mesmo em áfrica, aonde os Babalawos tinham, a seu critério, o poder de substituir os animais preceituados para oferenda por suas penas, escamas e couros, devendo o valor de mercado do animal a ofertar ser distribuído, em esmolas, entre os carentes de sua comunidade.
Por outro lado, a atuação do Imole Eshu como Mensageiro dos Orixás para a entrega de oferendas a Olorun, dificilmente é compatível ou coerente com a sua posterior identificação com o "Satã" pelos cristãos e muçulmanos. Tal tentativa de analogia, só se explica por não se encontrar no Credo Iorubá a idéia de “diabo” ou “inferno”, como se os entendem em outras religiões não-africanas.

De fato, mesmo face à situação irregular dos suicidas, no pensamento Iorubá, seres carentes de coragem em enfrentar seu próprio destino, os Iorubanos jamais criaram a idéia grosseira de uma eterna punição; para eles, prêmio ou castigo eram provações a serem experimentadas aqui mesmo nesta Terra ou pela falta de retorno à ela.
Assim, a idéia de um "Êxú" essencialmente trevoso e mau é uma contrafação sincrética com o “diabo” medieval católico, forçada e imposta pela escravidão e conseqüente perda de valores iniciatórios das religiões africanas no Brasil, mas que nunca existiu em áfrica em tempo algum.

E, muito embora nas lendas populares, Imole Eshu passasse a ser conhecido como "manhoso", “trapaceiro" e notoriamente "encrenqueiro", mormente se não for "apaziguado" por seu Ebo, a sua suposta imagem de malignidade decorre, na verdade, de ele ter o importante papel de Executor Divino, punindo aqueles que descuram as oferendas prescritas para eles, mas recompensando aqueles que as cumprem.



Entretanto, ele nada faz por conta própria, servindo fielmente a Olorun e ao Orixá Orunmila-Ifá. Também, os Orixás e as Eborás podem convocá-lo para se utilizar da variedade de punições postas sob o seu comando. E isto porque, com imensa sabedoria, o Credo Iorubano ancestral prega que Orixá algum pune diretamente seus “Filhos", mesmo os transviados, os transgressores e os ofensores : isto é função do Imole Eshu.

Os Versos dos Contos de lfá dizem que Imole Eshu é também encarregado por Olorun para vigiar as ações de outras Divindades no Aiye / Terra. E isto só pode se dar, dizem os fiéis, porque ele é notável e notoriamente equânime no seu papel de Executor Divino.

É por tudo isso que todos os devotos de todas os Orixás e Eborás se voltam para Orunmila-lfa em tempos de dificuldades, buscando essa equanimidade e, a conselho dos Babalaôs, oferendam a Imole Eshu e, por seu intermédio, a Olorun.

Para que os Babalaôs não se excedam nas prescrição dessas oferendas, lmole Eshu está sempre presente na Divinação Sagrada de Ifá, como o décimo sétimo lkin / Coquinho de Dendê, o Olori lkin / Senhor (o Cabeça dos Coquinhos de Dendê Consagrados), o qual leva a sua efígie gravada.

Por essa razão, este décimo sétimo lkin é também chamado de Oduso / Vigia dos Odu, do verbo Iorubá So / Vigiar, ou seja, colocado no Tabuleiro de Ifá em uma posição tão privilegiada quanto a do Babalaô, ele representa Eshu Oduso que é o Vigia dos Odu / Signos-Resposta do Sistema lfá e, conseqüentemente de suas verdadeiras interpretações pelos Babalaôs, pois todo o bom cumprimento do Iwa / Destino do Consulente depende de se bem compreender a Mensagem que Orixá Orunmila quer transmitir ao Consulente.

Daí se compreender que a ligação do Imole Eshu com o Jogo de Ifá é inquestionável.
Assim, como vemos, Imole Eshu não é nem mau nem tenebroso, antes, pelo contrário, freqüenta o Orun /Além, reporta-se diretamente a Olorun e dialoga com os Imole / Divindades e com os Onile / Antepassados. Ele também não é vingativo indiscriminadamente, mas é o Transformador Divino que trata com equanimidade Divindades, Ancestrais, Babalaôs e Humanos por ordens de Olorun.

E nada executa por sua própria vontade, mas cumprindo fielmente as ordens de Olorun e os ditames do Iwa / Destino livremente escolhido por cada Ori Orun / Individualidade no Além de cada fiel e, através de Orunmila-Ifá, cumpre também as ordens das Divindades.



E se ele é considerado “trapaceiro" e “encrenqueiro”, o é pelos culpados, porque ele é o fiscal de Olorun junto aos Orixás e, ainda, o Vigia dos Babalaôs e do bom cumprimento das obrigações rituais e sacrificiais por cada Fiel.

E se ele pode até matar, conforme se lê em diversos Ese dos Itan Ifá, é também ele que representa a Vida e a sua dinamização/continuação, através do legítimo e natural prazer sexual que leva os humanos a procriar.

E se assim é há milênios, a lmole Eshu só é devida a coragem de cada fiel em tentar realizar o seu Destino livremente escolhido antes de nascer, a sua Oferenda específica - o Ebo - do seu ritual Ipade e a nossa saudação, não de medo ou horror, mas de respeito, como a ele fez Osetuwa :

-"Agba Esu, Mo ju iba ! Iba se o ! “-
-" Eshu Ancestral, presto-lhe minha homenagem ! “-

-“ Oh ! Que esta homenagem se cumpra ! "-
Assim sendo, quero terminar esta explanação com a tradução livre, mas coerente, de parte de um dos Versos dos Contos de Ifá, o do Odu ôbará Meji :
Obara ni,
ki ndojubole Ki n'ba buru,
Ki Elegbara o jeki ngo lo
Nje ikuderin Moforibale l'Elegbara.
-"Obará Meji pediu que eu me prostrasse em reverência,
cobrindo minha cabeça.
Que eu deveria me prostrar e me cobrir em respeito,
para que Elégbará me permitisse prosseguir
em meu caminho de felicidade e riqueza.
Assim, minha morte transformar-se-á em longa vida de alegria.

Portanto, curvo-me ante Elégbará !"-
Então, assim, também eu o faço e assim também eu peço :
-" Imole Eshu, aqui está minha oferenda ! “-
-“ Por favor, peça a Olorun que aceite esta oferenda
e alivie meu sofrimento ! " -

Tó ! ( Assim seja ! ) Adupê, ó ! ( Oh, Obrigado! )









O RITUAL DO SACRIFÍCIO

Um dos objetivos deste estudo, é dar subsídios para que os iniciados, os estudiosos e os freqüentadores do Candomblé, possam argumentar sobre assuntos polêmicos que envolvem nossa Religião, a Religião dos Orixás.
Dentre os vários assuntos, temos os rituais que envolvem os sacrifícios animais praticados habitualmente em nossos Rituais.

Os Cristãos, Católicos e Protestantes, são os que mais repudiam o nosso sacrifício animal. Eles deveriam estudar mais o seu Antigo Testamento, em específico o "Levítico", onde os sacrifícios, não só de animais, são relatados.

O Livro "The Lion Handbook to the Bible", Lion Publishing – England Herts – 1973 de autoria de David e Pat Alexander, relata que o Levítico é o código das leis dadas por Deus a seu povo
através de Moisés no Sinai.

As cerimônias e outros ritos e normas não eram um fim em si mesmas. A oferta do sacrifício dia após dia, ano após ano, a recordação anual do dia da expiação recordavam constantemente a Israel o pecado que o separava da presença de Deus.

Os israelitas infringiam a aliança com ele desobedecendo as suas leis e estavam condenados à morte. Mas Deus, na sua misericórdia, mostrou-lhes que haveria de aceitar um sucedâneo, a saber, a morte de um animal perfeito e inocente, em lugar da vida do pecador. Suas leis mostram que Deus age em harmonia com as leis naturais para o bem do povo, diz o livro.

Levítico 1-7 – Os Sacrifícios
1 - O Holocausto (capítulo 1 e 6,1-6) único sacrifício em que se queima o animal todo, um sinal de consagração.
2 - Oferta de cereais ou de farinhas (capítulo 2 e 6, 7-11) acompanhava muitas vezes o holocausto e o sacrifício de comunhão (item 1 acima).
3 - O sacrifício da comunhão (capítulo 3 e 7, 11-36)
4 - O sacrifício do pecado (4,1-5,13 e 6, 17-23)
5 – O sacrifício da reparação ( 5,14-26 e 7, 1-10)

O Fiel trazia sua oferta (um animal sem defeito físico tirado da própria manada ou rebanho ou, no caso do povo pobre, rolas ou pombos) até o pátio diante do tabernáculo. Colocava a mão sobre ele para significar que o animal o representava e depois o imolava (sacrificava).

Se o sacrifício era público o Sacerdote era quem realizava essa operação. O Sacerdote tomava a bacia com o sangue e com ele espargia o altar, queimando a seguir algumas partes específicas do animal que continham determinadas porções de gordura. O que restava era consumido pelos Sacerdotes e suas famílias ou ainda pelo Sacerdote junto com os ofertantes.

Os sacrifícios exprimiam a gratidão do indivíduo pela bondade de Deus, ou eram simplesmente manifestações espontâneas de devoção e homenagem.

O sacrifício pelo pecado e o sacrifício da reparação (Levítico 4-5, 26) referem-se às transgressões contra a lei de Deus ou situação em que foi cometida uma falta contra o próximo, porém ambos demonstram a exigência de enfrentar o pecado pelo uso do sangue.
O Sacerdote como representante de Deus tinha a função de declarar se o fiel e sua oferta eram aceitos ou rejeitados por Deus.

A prática do sacrifício animal remonta ao início das relações entre Deus e os homens (Gênesis 4,4) e no Novo Testamento explica a morte de Jesus (Hebreus 9,11). O Levítico 17,11 diz que o sacrifício é algo dado por Deus ao Homem. A pessoa que leva a oferta apodera-se da vida do sangue animal sacrificado e pode doá-la a Deus, injetando nova vida nas suas relações com Deus.

Este é um pequeno espaço histórico, para a dignificação da Religião dos Orixás, tão agredida pelas Doutrinas Cristãs, principalmente pelas Protestantes. Então, cabe-nos o direito de mostrar quão hipócritas são aqueles que nos agridem e nos repudiam com bases em seus Livros Sagrados, que mostram largamente a pratica de ritos idênticos aos nossos e com a mesma simbologia .



A Religião dos Orixá é extremamente tradicionalista e não muda sua liturgia com fins hipócritas, somente para agradar a visão leiga dos fiéis na tentativa de obter fins lucrativos. O que era feito há 6000 anos é mantido até hoje por nós, mas não com uma conotação diabólica como desejam nos impor usando uma mídia já desgastada. Hoje o Homem é culto, busca informar-se e encontra a verdade relativa ao nosso mundo religioso.

O Orixá nunca esteve envolto ao mundo da Magia Negra, ao baixo astral, ao Satanismo ou muito menos ligado a demônios somente porque realizamos em nossos ritos o sacrifício animal. Nós pregamos os ensinamentos dos Orixás que são puros em sua essência, não ficamos pregando mais os atos dos demônios do que a palavra de Deus tirada de livros sagrados de autoria duvidosa.

Nossa doutrina religiosa foi mantida pela boa vontade do Homem fiel a Deus, mantendo todos os nossos conhecimentos na memória e transmitindo-os pela oralidade. Não temos livros sagrados adaptados a cada momento da história em decorrência das necessidades das instituições religiosas.

Não expulsamos demônios em forma de "teatro" para enganar pobres coitados crédulos dizimistas que acreditam nas encenações de atores bem pagos para se contorcerem em público ou darem testemunhos suspeitos, sempre idênticos, sem provas. Não "amarramos" espíritos ruins em nome de Deus.

O que desejamos é somente poder expor que nossa Religião, a Religião dos Orixás, tem como objetivo ( RELIGAR) o Homem a Deus através da manutenção de ritos tradicionalistas; através de uma hierarquia rígida mantida entre os seguidores e Iniciados; através da exigência de uma conduta honrada e moral dentro das verdadeiras Ègbé (Sociedades).

Desejamos mostrar com clareza que nossos verdadeiros Sacerdotes são homens sábios, estudiosos e perseverantes na sua religiosidade, tudo isso com base em uma filosofia mitológica milenar. Qualquer outra versão não tem sustentação real, tratando-se de invencionismo de muitos que pretendem impressionar ou lucrar em benefício próprio usando o nome dos ( Orixás Yorùbá ).

Se fazemos sacrifícios é porque somos autorizados por Deus, conforme também era praticado em Israel. Além do mais, a energia pura do Orixa, absorve a essência espiritual do animal a ele imolado e a eleva espiritualmente, evoluindo-o rapidamente, o que deveria levar milhões de anos para evoluir na escala espiritual, sem contar que, a carne do animal é consumida durante as festas, proporcionando a energia da satisfação alimentar, que o Orixá absorve e transforma em realizações das necessidades materiais dos ofertantes.

O sacrifício é necessário, tanto para a evolução espiritual do animal, como para a alimentação dos participantes (comer animal vivo, sem sacrificá-lo é realmente impossível!) .



Não podemos esquecer que nas mesquitas, anualmente, até os nossos dias, é sacrificado um cordeiro para Alláh. Mas ninguém gosta de agredir o Islã. E sabem muito bem o porquê !

Èjè (sangue) é vida, todos nós aprendemos isso nos templos verdadeiramente consagrados aos Orixás. Tiradas as partes sagradas dos animais que são ofertadas às Divindades, o restante é consumido pelos ofertantes. Não há desperdício nos Ilé Orixá, em respeito à natureza, conforme nos determinam as Divindades.

Os animais ofertados não podem sofrer para serem imolados, conforme nos determina o Orixá Ogun Olóòbe, o Senhor da Faca. O ritual é cercado do máximo respeito seguido de procedimentos de abstinência, onde a pureza e a limpeza espiritual e orgânica dos presentes é exigida com rigor para que eles possam participar desse tipo de oferenda e só aos Iniciados devidamente preparados por anos cabe exercer o ato de imolar o animal. Isso não cabe a qualquer pessoa despreparada.

Há uma liturgia a ser seguida a risca em detalhes, onde o epo pupa (azeite de dendê), iyò (o sal), oyin (o mel), omi (a água), otí (a aguardente), ataare (a pimenta) são rezados e encantados recebendo pela palavra propriedades mágicas, para poderem ser ofertados às Divindades como símbolos de doçura, progresso, prosperidade, fartura, fertilidade, alegrias e paz, afim de que essas bênçãos sejam retribuídas a todos em troca da oferta.

Sem que nunca se esqueça de ofertar para Onílè (o globo terrestre) sua parte, pois é ele quem sustenta os nossos pés. Esta frase metafórica Yorùbá nos ensina que é a Mãe Natureza quem nos permite mais uma reencarnação no Àiyé (na Terra) e por isso devemos mostrar nossa gratidão a ela durante os ritos de oferendas.
Só pode ver maldade em uma ritualistica dessa quem é mal no mais profundo de sua essência intima, no próprio caráter ou pelo desconhecimento, acabando por julgar sem saber o que verdadeiramente está sendo realizado num ritual em nome de Deus.

Pois graças a esse Deus, Olodùmarè, nós não fazemos apologia aos demônios, pois os desconhecemos na nossa cultora religiosa. Para a cultura Religiosa Yorùbá Deus não "permitiria que os Anjos Caíssem". Quem faz mal aos homens é o próprio Homem ! Nós somos raízes da Energia Universal (Oloorum) e por isso mesmo temos o poder criador.

O diabo foi criado nada menos que pelos Cristãos, pela necessidade de justificar suas deficiências e erros e o mesmo (diabo) vem criando poderes através da energia emitida por determinados evangélicos modernos que o mentaliza e o supre energeticamente através da suas invocações e exorcismos diários. Nosso Deus jamais criaria o Demônio, pois o mesmo é a antítese de Deus, senão o mesmo não seria Onisciente, Onipotente e Onipresente!

A Religião dos Orixás não deseja ser melhor que as outras Religiões. Deseja somente ser respeitada, assim como sabe respeitar. Desejamos somente que as pessoas possam cumprir seu papel em mais uma passagem pela vida no Àiyé com auxílio dos ensinamentos deixados pelos Orixás.

Desejamos somente crescer nas experiências de viver. Desejamos poder aprender a conviver num mesmo espaço físico com os outros homens, porque o nosso espírito não tem para onde evoluir já que o Homem é um deus-finito. Evoluir o espírito do Homem seria tentar superar a Deus, pois o nosso espírito foi criado de Deus, portanto somos partículas divinas. Já fomos criados sendo deuses.

Tudo o que necessitamos já recebemos de Deus no momento da Criação, só temos que aprender a usar o que nos foi dado por Ele.

Ibejii & Hoho


Os gêmeos (Ibeji entre os Yorubas e Hoho entre os Fon) são objeto de culto.
Não são nem Orisá e nem Vodun, mas o lado extraordinário desses duplos nascimentos é uma prova viva do princípio da dualidade e confirma que existe neles uma parcela do sobrenatural,a qual recai em parte na criança que vem aomundo depois deles.

Recomenda-se tratar os gêmeos de maneira sempre igual e de compartilhar com muita equidade tudo o que lhes for oferecido.
Quando um deles morre com pouca idade o costumeexige que uma estatueta representando o defunto seja esculpida e que a mãe a carregue sempre. Mais tarde o gêmeo sobrevivente ao chegar à idade adulta cuidará sempre de oferecer à efígie do irmão uma parte daquilo que ele come e bebe. Os gêmeos são, pata os pais uma garantia de sorte e de fortuna.

Os irmão “Lander” quando exploravam o rio Niger em 1830, descrevem que:
Na quinta feira 15 de abril, várias mulheres carregando pequenas representações de crianças em madeira passaram perto de nós durante a manhã.As mães que perderam um filho
carregam essas grosseiras imitações em sinal de luto, durante um tempo indefinido. Nenhuma delas resolveu-se a se desfazerem nosso beneficio de uma dessas lembranças de afeto materno....

È de acreditar que a mortalidade seja imensa entre as crianças pois quase todas as mulheres que encontramos levaram uma ou várias figurinhas de madeira a que já nós referimos. Cada vez que essas mães paravam para refrescar-se não deixavam de apresentar aos lábios dessas pequenas imagens uma parte do seu alimento.

Segundo “Richard Burton “ diz...O Orisá das crianças. Estátuas feias e pequenas carregadas pelas mulheres no pano que atam à cintura quando um dos gêmeos morre ou éexterminado. Esses ídolos são enfeitados com anéis epulseiras de contas.Em lagos 2 homens os confeccionam ao preço de 3 shillings por peça.

O “Padre Baudin” diz.... O Ibeji dos Yoruba é a divindade tutelar dos gêmeos. Um macaquinho preto é sagrado para os Ibejis, fazem ao animal oferendas de frutas e sua carne não pode ser comida pelos gêmeos ou por seus pais. Esse macaco recebe o nome de EDON DUDU ou EDON ORIOKUN.
Um dos gêmeos é geralmente chamado de EDON ou EDUN . Quando morre um dos gêmeos a mãe carrega juntamente com o sobrevivente uma estatueta de madeira que mede de sete a oito polegadas do mesmos sexo da criança morta para impedir que o sobrevivente permaneça ligado ao defunto e também para dar aos espírito do morto um objeto no qual ele possa fixar-se sem perturbar aquele que sobreviveu.

Em “Epapo” aldeia à beira da laguna de Lagos situada entre esta cidade e “Badagris” existe em louvor aos Ibejis um templo célebre onde os gêmeos e os pais realizam peregrinações.
“Stephen Farrow, acrescenta.... os nomes dados aos gêmeos são geralmente Taiwo ( To-aiye-wo, para experimentar o mundo) e Kainde (Kehin-de, vir atrás)

“Richar Barton” reporta-se aos Fon escreve o seguinte:
Hoho, o fetiche dos gêmeos que protege esses seres exepcionais. Em Allada esse nascimento era infamante. Os homens não queriam acreditar que uma mulher pudesse ter 2 filhos de um homem. Em Abomey onde se deseja aumentar a população à mãe é objeto de honrarias. Os fetiches dos gêmeos não tem esposas. A cerâmica dos HOHO assemelha-se a dois fornilhos de cachimbo ligados um ao outro e um utensílio de ferro denominado “Asen” que consiste em 2 pequenos cones de ferro atados a uma vareta de ferro com seis polegadas de comprimento e também pertence aos Hoho’s.



“Lê Hérissé” publica
Como todo acontecimento notável, o nascimento dos g~emeos impressionou o espírito dos dahomeanos que lhe deram uma explicação fabulosa.

A crença popular afirma que os gêmeos provêm de ZOUN, mata ou regiões vagas, às quais regressam após sua morte. Existem quatro ZOUN. Recebem o nome de “ Ouekero” e correspondem a nossos pontos cardeais, cada um deles tem seu bosque fechado em torno de Abomey.

Se se quiser preservar os gêmeos de uma destino desfavorável convém antesed mais anda saber de qual ZOUN eles provêm, é FÁ quem informa sobre a questão aos pasi interessados. Após a manifestação de FÁ os gêmeos quando já podem andar são levados aos Zoun indicado, onde são realizados modestos sacrifícios e oferendas de milho, azeite-de-dende e miúdos de frangos. Em seguida todos dirigem-se em procissão ao mercado.
Os gêmeos usam um traje novo, trazem rosário de búzios e nos pulsos e tornozelos pulseiras feitas com conchas.

Sua mãe precede-os agitando uma sineta, algumas mulheres participam do cortejo e de vez em quando entoam cânticos. No mercado estende-se uma esteira no chão para permitir aos gêmeos sentarem-se quanto os parentes e amigos desfilam para cumprimentar a ditosa mãe.
Bem comportados e sérios os infantes submetem-se a todas as cerimônias.

O nome escolhido para os gêmeos é ZINSU e SAGBO para os meninos e ZINHUE e DOLU para as meninas. Se ao nascer eles se apresentarem pelos pés seus nomes serão respectivamente, AGOSU, AGOSA,AGOSI e AGOHUE.
A criança que nasce após os gêmeos chama-se DOSU se for menino e DOSI se for menina.
Eis alguns outros pormenores tais como me foram confiados em Abomey: “ se alguém está doente interroga-se FÁ e se Hoho pedir para comer vai-se até a mata e desenha-se um VEVE no chão com farinha de milho e azeite-de-dendê”

A oferenda consiste em duas cabaças e duas quartinhas pintadas de branco e vermelho, são pronunciadas as seguintes palavras: “ Mijolonan pala we i whe bonai do te me nue “ (vamos levar Hoho à sua casa para dar-lhe comida que vc pediu)
Um macaco deve passar pelas árvores do contrário Hoho não irá à casa . Se na volta um ou mais macacos aparecerem é sinal de que ele aceita a oferenda: “ Hoho wai agbantoe” ( os gêmeos aceitam a bagagem)

Os presentes gritam .. Bu, bu, bu, bu batendo na boca acompanhados de uma sineta(gan) obedecendo ao seguinte Cântico:
Ti gogo gogo, ti go , ti gogo gogo. Ti go.

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No Brasil o culto aos gêmeos Ibeji é sincretizado com o culto a Cosme e Damião. As semanas que precedem o dia 27 de setembro são marcadas na Bahia por festividades muito alegres durante as quais o prato preferido é o CARURU.
O culto aos gêmeos influenciado pelos costumes brasileiros trazidos pelos escravos alforriados desenvolveu-se no baixo daomé e no dia 27/09 a Associação Fraterna dos Gêmeos em “Cotonou” composta por gêmeos cujos nomes a exemplo do Brasil são Cosme e Damião organiza uma grande festa.



CULTO GELEDE


Segundo os mitos da tradição afro-descendente, já que o mito é o discurso em que se fundamentam todas as justificativas da ordem e da contra-ordem social negra, a luta pela supremacia entre os sexos é constante, simbolizada na ìgbá-dù (cabaça da criação), já que o òrì s à Y e m o ja Odùa, princípio feminino de onde tudo se cria - representação coletiva das Ìyámí ou mães ancestrais, é a metade inferior da cabaça e Obatálá ou Òòsààlà, princípio masculino, a metade superior. A relação Odùa/Obatalá, entendida simbolicamente, não representa uma simples relação de acasalamento do princípio feminino com o masculino.
Há um princípio de completude do outro, de que a vida se constrói de mãos dadas e de que cada um de nós à medida em que estabelece esta relação, estabelece um elo mais completo com as coisas que estão à volta.

Significa todo um processo de equilíbrio e de harmonia. Para se entender bem tal relação, se faz necessário situar as mulheres do ritual G È L È D È , que representam o culto às ÌYÁMÌ, as grandes mães ancestrais, encabeçadas por:Nàná ,Y e m o ja Odùa, Òs un Ijimu, Òs un Ìyánlá,Yewa e O ya. ODÙA simboliza a grande representante do princípio feminino, sendo o elemento responsável por todo o poder criador, do poder das mulheres, liderando o movimento das ÌYÁMÌ, grandes mães ancestrais, que tudo criaram, transformaram e transmutaram desde o princípio dos princípios da formação do universo.

A sociedade G È L È D È S, que já existiu no Brasil, é um ritual de mulheres que vestem panos coloridos - diferentes panos mostrando diferentes procedências. São as diferentes raízes que as pessoas podem ter na maternidade. A máscara È F É -G È L È D È que cobre a cabeça da mulher vai representar o mistério, o maravilhoso, na cultura negra. O uso da máscara significa o símbolo de outro espaço, um espaço vivo, um espaço invisível que não se conhece, mas sente-se!
No Brasil esta sociedade existiu, sua ultima sacerdotisa suprema foi O m ó ník é Ìyálóde-Erelú que tinha o nome católico Maria Julia Figueiredo, uma das Ìyálà se do Il è Ìyá-Nàsó , com sua morte cessaram-se as festividades , que eram realizadas no bairro da Boa Viagem. O propósito da sociedade G È L È D È é propiciar os poderes míticos das mulheres, cuja a boa vontade deve ser cultivada porque é essencial a continuidade da vida para esta sociedade.
Sem o poder feminino, sem o princípio de criação não brotam plantas, os animais não se reproduzem, a humanidade não tem continuidade. Assim, o princípio feminino é o princípio da criação e preservação do mundo: sem a mulher não existe vida, sendo, segundo os mitos, ser reverenciada e respeitada pelos orixás e pelos homens.

As G È L È D È e suas máscaras se tornam uma metáfora, sendo uma linguagem para a mãe natureza. O G È L È é um símbolo das G È L È D È porque personifica o útero, pois ele carrega as crianças e as protege. Através das Ìyámì (mães ancestrais) a arte das máscaras é usada para aglutinar as pessoas que se relacionam como filhos de uma mesma mãe, fazendo com que o espírito se manifeste através desta máscara, seguindo e alimentando o espírito humano. Representam o não uso da violência para resolver questões. Nas culturas negras a mulher está presente em todos os lugares.

As máscaras tem grande importância na vida religiosa, social e política da comunidade, mostrando as diferentes categorias de mulher:
- mulher secreta - ligada ao divino, serve como passagem e receptáculo do sagrado no mundo dos vivos, por gerar frutos.
-mulher símbolo político - não usa violência para resolver as questões, aglutinando as pessoas, vivendo o cotidiano.
- mulher sagrada - símbolo de todos os tempos, pois está virada para o futuro, sempre vulnerável e frágil, mas é aquela que abre o céu ( Ò run) e deixa lugar para a mudança, o futuro, e para a transformação.



A sexualidade da mulher negra faz parte da sua essência de princípio feminino, sendo muitos os mitos que representam a função e o papel mulher vista como útero fecundado, cabaça que contem e é contida, responsável pela continuidade da espécie e pela sobrevivência da comunidade. Não se encontra pecado nesta sexualidade.

Através das ÌYÁ as comunidades - terreiros se constituam num verdadeiro sistema de alianças. Desde a simples condição de irmão de santo até a mais complexa organização hierárquica, há o estabelecimento de um parentesco comunitário, como uma recriação das linhagens e da família extensiva africana. Os laços de sangue são substituídos pelos de participação na comunidade, de acordo com a antigüidade, as obrigações e a linhagem iniciática. Todos estão unidos por laços de iniciação às divindades cultuadas, aos demais iniciados, às autoridades, aos antepassados e aos ancestrais da comunidade.

Através do rito se tem todo um sentido de manifestação das mulheres do grupo: rodando, dançando, se integrando com o cosmos, mostrando que temos consciência de que somos elementos dinâmicos, de que o movimento da roda - já que as mulheres são os elementos que dançam em círculo - representa o altar da criação, da vida, já que a terra está em movimento, o universo está em movimento e só se conseguirá estar em sintonia com o universo através do movimento.
G È L È D È é originalmente uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso, existente nas sociedades tradicionais yorubás , que expressam o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem estar da comunidade.

O culto Gèlèdè visa apaziguar e reverenciar as mães ancestrais para assegurar o equilíbrio do mundo. As principais representações do culto também nos fala um itòn de òséyèkú, que obàtálá e odù logbojé são uma única coisa e no culto a Obàtálá, Ò s òrongà é diretamente participante , o próprio it ò n nos fala: "tudo aquilo que o homem vier a conseguir na terra, o será através das mãos das mulheres . esta é uma tradição do culto a Obàtálá, pela relação direta de Y e m o ja Odùa. - ìtòn òsá méjì ( o mito da roupa de Éégún)- quanto ao culto È f é -G è l è d è , os homens participam , até nas chamadas "incorporações"- dàpò sòkan - e uma das principais diferenças, estão nas próprias danças rituais, quando "feminina" e lenta e nobre, quando "a masculina" é firme e agressiva, e cabe aos òsò de Òò s ààlà' esta função.- Seja ako, baká, mundiá, tetedè, okunriu, onilu e "às outras" .

Mas quando se trata da essência da filosofia, na relação Obàtálá (símbolo da ancestralidade masculina) e, Y e m o ja Odùa - (Ò s òròngà - símbolo da ancestralidade feminina) como uma relação perfeita, trazida por Òsé-òyèkú , e também pela relação de ambos com Ikú.
O culto anual de È f é -G è l è d è , originário da cidade de Ketu no décimo quarto século, é organizado no começo da estação agricultural exatamente por uma importante questão dentro da cultura Yorùbá - a Fertilidade. Este culto se organiza da seguinte forma- sua parte diurna é exatamente G è l è d è e sua parte noturna é È f é ( o pássaro ). Os dançarinos são homens, contudo representam homens e mulheres em suas representações.
Isto prova que o culto das G è l è d è não é vetado aos Homens.


Na dança feminina G è l è d è é poderosa e contida, entretanto, na dança masculina é violenta e agressiva.Os nomes citados são os próprios nomes das 9 principais G è l è d è em sua ordem de entrada na praça do mercado, pois este culto , e na verdade todos de acordo com a direção da cabaça de Odù que vai ser desperta( òséyèkú) deveriam ser feitos ao livre como nos ensina o antigo culto à Olòrun. Akò,Baká,Mundiá,Tetedè,Okunriu,Onilu,Isa-orò,Alopajanja-eledè e Woogbáwoobaarsan )
Sendo assim, é exatamente no conhecimento deste culto que podemos perceber que os homens principalmente os "òsò" participam de toda uma enorme variedade de fundamentos do culto na sociedade Ò s òròngà, pois se assim não o fosse, como explicar o tabu de que as mulheres não podem olhar Odù ( ìtòn irètégbè ), como entender que são os Bàbáláwo - filhos de Òrúnmílá que entregam as cabaças com os pássaros as mulheres iniciadas no culto à Ò s òròngà ( itòn irèté méjì )

“ È f é “são as máscaras rituais que simbolizam o espírito das ancestrais femininas e os diferentes aspectos de seu poder sobre a terrasimbolizados pelos pássaros.
As orixás femininas cultuadas nos candomblés brasileiros representam aspectos socializados deste poder conforme a visão de mundo negro africana segundo a qual homens e mulheres se equivalem e controlamdeterminadas forças da natureza Porém a continuidade da vida sobre a terra, atributo eminentemente feminino nesta tradição é reverenciado de modo especial.
Por isso O barì s à o grande ancestral masculino canta:

“E kúnl è o, e Kúnl è f’obinrin o
E obinrin l’ó bí wa, k’àwa tó d’enia
Ogbon àiyé t’obinrin ni, e kúnl è f’obinrin
E obinrin l’o bí wa o, k’àwa tó d’enia”
(Ajoelhem-se para as mulheres.A mulher nos colocou no mundo,nós somos seres humanos
A mulher é a inteligência da terra. A mulher nos colocou no mundo,nós somos seres humanos).

ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ
O f ó ( Encantamento)
Mo júbà ènyin ÌYÁMÍ Ò S ÒRÒNGÀ.
(Meus Respeitos a Vós Minha Mãe OXORONGA!)
Mo júbà è nyin Ìyámí Ò s òròngà
O T ò n ó n È j è e nun
O T òo k ó n è j è è d ò
Mo júbà è nyin Ìyámí Ò s òròngà
O T ò n ó n È j è e nun
O T òo k ó n è j è è d ò
È j è ó yè ní Kál è o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò
È j è ó yè ní Kál è o
Ó yíyè, yíyè, yèyé kòkò (Meus respeitos a vós minha mãe Oxoronga)

Vós que seguíeis os rastros do Sangue interior.
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do sangue do fígado.
Meus respeitos a vós minha mãe Oxoronga
Vós que seguíeis os rastros sangue interior
Vós que seguíeis os rastros do sangue do coração e do fígado
O sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos,e ele sobrevive, sobrevive ó mãe muito velha o Sangue vivo que é recolhido pela terra cobre-se de fungos e ele sobrevive,ó mãe muito velha)

Ìyámì Ò s òròngá não é um orixá, mas sim uma energia ancestral coletiva feminina, cultuada pelas GÈLÈDÈ; sociedade feminina fechada da Ìyámì El é ey e (minha mãe senhora dos pássaros), representada pela máscara dos pássaros. A sociedade Ò s òròngá congrega as àj é–feiticeiras que têm poderes de se
transformarem em determindos pássaros è hurù, e luùlú,àtióro,àgbìgbò e ò s òròngà ,este ultimo refere-se ao próprio som que a ave emite e da nome a Sociedade. Exercem sua força máxima nos horários mais críticos – meio-dia e meia-noite – ocasiões em que é preciso muita cautela para que elas não pousem na cabeça de ninguém.

Suas cerimônias são realizadas no início da
estação do plantio relacionado à fertilidade.
Estas cerimônias tiveram início na região de Ketú, dividindo-se em duas partes a diurna e anoturna. Segundo nos conta um ìtàn do Odù Ogbé Ò sá , diz que quando as Ìyámìs chegaram do Ò run pousaram em sete árvores.



Segundo um Ìt ò n as 7 ávores das Ìyámìs seriam:
Orobo - Garcinea Cola
Àjànrèré - Ficus Elegans
Iroko - Chlorophora Excelsis
Orò - Antiaris Africana
Ogun Bereké - Delonex Régia
Arere - Triplochiton Nigericum
Igi ope - Elaeis Guineensis

Porém outra ìtàn nos da outra apresenta uma relação diferente das sete árvores estas seria as árvores sagradas das Mães Ancestrais:
Ose - Adansanonia Digitalia
Iroko - Chlorophora Excelsis
Ìyá - Daniellia Olivieri
Asunrin - Erythrophelum Guineense
Obobo - Não identificada
Iwó - Não identificada
Arere - Triplochiton Nigericum

A contrario do que se pensa aqui no Brasil existe sim a presença masculina no culto a ìyámí.
São detentoras de poderes terríveis,consideradas as donas da barriga(por onde circularia a energia vital do corpo) Ninguém pode com seus E b o,dos quais, o Òjijì (sombra) é o mais fatal.São ligadas diretamente ao ODU ÒYEKU MEJI, são
propiciadoras para a alteração do destino de uma pessoa. Seus poderes são tamanhos que só se consegue no máximo apaziguá-las,vence-las jamais.Relacionam-se com as ìyámìs Òs un Ijumu e Òs un Ìyánlá a quem estão ligadas pela ancestralidade feminina, bem como a Y e m o ja Odúa, considerada fundadora do culto G È L È D È.

Deve-se lembrar portanto, que "òsò" é um título de quem trás o Égan (símbolo de È s ù o qual
foi dado através das mãos de Ò s òròngà( it ò n ò s éòtúrá )e mesmo assim se foi iniciado no tradicional culto de `Obàtálá /Y e m o ja Odùa e ainda tiver profunda relação com Ikú,através de algumas se suas principais ònifás,como Òyèkú méjì,Òbàrà méjì,Òtúrúpòn méjì e algumas outras poucas.O sangue( è j è )não é de nenhum Òrì s à a não ser de Ò s òròngà como vemos no Oriki ( è j è ó yè ní kál è o - o sangue fresco que recolhe na terra cobre-se de fungos )

Afirma a tradição que as Ìyámí segue o rastro do sangue do fígado e do coração, isto se deve por os chamados À se das oferendas são de Ò s òròngà! estes orgãos se classificam em comportamentos Ofú (aqueles que produzem a fazem circular a energia no corpo) estômago,
bexiga,vesícula biliar,intestino grosso e o intestino delgado,como também em comportamentos Osa (coração,pulmões,rins,
fígado e baço - pâncreas) Estes detalhes são importantíssimos no culto à Ò s òrongà e principalmente no culto È f é -G è l è d è ainda mais se falamos do sacrifício de e l é d é (porco )

Relacionam -se com Ò s òròngà:
È s ù : somente com sua ajuda é que conseguimos a comunicação com as Ìyámí,além de ser a prova viva do poder das Ìyámís.
Ògún: o senhor da cabaça de èédú (carvão) - onà iwó oòrùn (caminho do oeste) é bem mais íntimo de Ò s òròngà,se não fosse ele o senhor do sagrado ato da oferenda de animais,
juntamente com È s ù e Ò s òròngà .
Y e m o ja Odùa* :(Yemòwo) Grande Ìyá, Senhora do ìgbá- e y e (cabaça dos pássaros) é a Ìyá'nlá seu nome é modificação da palavra Odù Logboje, a mulher primordial, também denominada E l e yinjú E g é ,a dona dos olhos delicados fazendo parte das divindadesgeradoras representada pelo Preto, fundadora do culto e sociedade G è l è d è.

Òs un :Grande protetora da gestação, é a Ìyámí-Àkókó, mãe ancestral suprema.
Òs un Ìjimu e Ìyánla:A duas mais velhas Òs un, são as duas ancestrais das mulheres.
Nàná: patrona da lama e dos primórdios da criação do Àiyé,é a O m o Àtìóro oké O fa.
O ya e Yewa:são todas Ìyá- E l é y e possuidoras da cabaça com pássaro símbolo do poder
feminino.
Olórí ìyá-àgbà Àj é E l é y e ,chefe supremo de nossas mães ancestrais possuidoras d pássaros.
Ògágun ati Ò gájùlo ninu awon ìyámí ò s
òròngà.chefe supremo,comandante entre todas as Ìyámí.
Òrúnmìlà:Este foi o único òrì s à que quando as ìyámí estavam zangadas conseguiu apaziguar sua fúria e desta forma salvou o àiyé e
restabeleceu a Harmonia,entre os Homens e Mulheres.


Toda mulher é uma Aj é,porque as Ìyámí
controlam o sangue menstrual elas representamos poderes místicos das mulheres no seu aspecto mais perigoso.São as Avós,as mães em cólera que em sua boa vontade a
própria vida na terra não teria continuidade

Ìtàn do Odù Ò sá Méjì
* Odùa TORNA-SE Ìyámí *
Nos primórdios da criação,Olódùmarè, o Ser Supremo que vive no Ò run,mandou vir ao àiyé (universo conhecido) três divindades:Ògún (senhor do ferro),O barì s à (senhor da criação dos homens) (2 -Um dos òrìsà funfun, sto é,òrì s à que têm como principal preceito o uso do branco nos ritos e nas oferendas) e Odùa(Y e m o ja), a única mulher entre eles.Todos eles
tinham poderes,menos ela, que se queixou então a Olódúnmarè.

Este lhe outorgou o poder do pássaro contido numa cabaça (ìgbá e l é y e ) e ela se tornou então,através do poder emanado de Olódùmarè, Iyá Won,nossa mãe para eternidade (também chamada de Ìyámí Ò s òròngà,minha mãe Òshòròngà)
Mas Olódùmarè a preveniu de que deveria usar este grande poder com cautela sob pena de ele mesmo repreendê-la.

" Olódùmarè diz qual é o seu poder?
Ele diz: você será chamada para sempre de Mãe de todos.
Ele diz:você dará continuidade.
Olódùmarè lhe entrega o poder.
Ele entrega o poder de e l é iy e para ela.
Ela recebe,o pássaro de Olódùmarè.
Ela,recebe,então,o poder que utilizara com ele.
Ele diz:utilize com calma o poder que eu te dei a você.
Se você utilizar com violência,ele o retomara.
Porque aquela que recebeu o poder se chamar Odù.
O homem não poderá fazer nada sozinho na
ausência da mulher"
"Lati ìgbá náà ni Olódùmarè ti fun obirin l'à se"
(Desde aquela época,Olódùmarè outorgou axé as mulheres)
Elas exerciam todas as atividades secretas:
"O mú Éégún jáde
O mú Orò jáde
Gbogbo nkan,kò si ohun ti ki se nigba náà"
(Ela conduz Egun
Ela conduz Orò
todas as coisas,não ha nada que ela não faça nesse tempo)

Mas ela abusou do poder do pássaro.Preocupado e humilhado,O barì s à foi até Òrúnmìlà fazer o jogo de Ifá,e ele o ensinou como conquistar
apaziguar e vencer Odùa,através de sacrifícios,oferendas( e b o com ìgbín e pas ò n Haste de Àtòrì) e astúcia.
Ele lhe oferta e ela negligentemente, aceita,a carne dos ìgbín.

"Odù náà gba omi ìgbín,o mu ú
Nigbati Odù mu omi ìgbín tán ,inú Odù nr ò di e di e "
(Odù recebe a água de caracol para beber,
quando odù bebeu,o ventre de Odù se
apaziguou)
O barì s à e Odùa foram viver juntos.Ele então lhe revelou seus segredos e,após algum tempo,
ela lhe contou os seus, inclusive que cultuava
Éégún.Mostrou-lhe a roupa de Éégún,o qual não tinha corpo,rosto nem tampouco falava.Juntos eles cultuaram Éégún.
Aproveitando um dia quando Odùa saiu de casa, ele modificou e vestiu a roupa de Egúngún.Com um bastão na mão (opa),O barì s à foi à cidade (o fato de Éégún carregar um bastão revela toda a sua ira) e falou com todas as pessoas.

Quando Odùa viu Éégún andando e falando,
percebeu que foi O barì s à quem tornou isto possível. Ela reverenciou e prestou homenagem a Éégún e a O barì s à,conformando-se com a vitória dos homens e aceitando para si a derrota. Ela mandou então seu poderoso pássaro pousar em Éégún, e lhe outorgou o poder: tudo o que Éégún disser acontecerá.Odùa retirou-se para sempre do culto de Egúngún, e partiu para partir o culto G è l è d è .Só e l é iy e , indicara seu poder e marcara a relação entre Egúngún e Ìyámí.
" Gbogbo agbára ti Egúngún si nlò agbára e l é iy e ni."
(Todo o poder que utilizara Egúngún é o poder do pássaro)

O conjunto homem-mulher dá vida a Egúngún (ancestralidade) mas restringe seu culto aos
homens,os quais, todavia, prestam homenagem às mulheres, castigadas por Olódúnmarè através dos abusos de Odùa.
Também por esta razão é que as mulheres mortas são cultuadas coletivamente e somente os homens têm direito à individualidade,através do culto de Egúngún.



AS SENHORAS DO PÁSSARO DA NOITE

Iyami Oshorongá é o termo que designa as terríveis ajés, feiticeiras africanas, uma vez que ninguém as conhece por seus nomes. As Iyami representam o aspecto sombrio das coisas: a inveja, o ciúme, o poder pelo poder, a ambição, a fome, o caos o descontrole. No entanto, elas são capazes de realizar grandes feitos quando devidamente agradadas. Pode-se usar os ciúmes e a ambição das Iyami em favor próprio, embora não seja recomendável lidar com elas.
O poder de Iyami é atribuído às mulheres velhas, mas pensa-se que, em certos casos, ele pode pertencer igualmente a moças muito jovens, que o recebem como herança de sua mãe ou uma de suas avós.

Uma mulher de qualquer idade poderia também adquiri-lo, voluntariamente ou sem que o saiba, depois de um trabalho feito por alguma Iyami empenhada em fazer proselitismo.
Existem também feiticeiros entre os homens, os oxô, porém seriam infinitamente menos virulentos e cruéis que as ajé (feiticeiras).

Ao que se diz, ambos são capazes de matar, mas os primeiros jamais atacam membros de sua família, enquanto as segundas não hesitam em matar seus próprios filhos. As Iyami são tenazes, vingativas e atacam em segredo. Dizer seu nome em voz alta é perigoso, pois elas ouvem e se aproximam pra ver quem fala delas, trazendo sua influência.
Iyami é freqüentemente denominada eleyé, dona do pássaro. O pássaro é o poder da feiticeira; é recebendo-o que ela se torna ajé. É ao mesmo tempo o espírito e o pássaro que vão fazer os trabalhos maléficos.

Durante as expedições do pássaro, o corpo da feiticeira permanece em casa, inerte na cama até o momento do retorno da ave. Para combater uma ajé, bastaria, ao que se diz, esfregar pimenta vermelha no corpo deitado e indefeso. Quando o espírito voltasse não poderia mais ocupar o corpo maculado por seu interdito.
Iyami possui uma cabaça e um pássaro. A coruja é um de seus pássaros. É este pássaro quem leva os feitiços até seus destinos. Ele é pássaro bonito e elegante, pousa suavemente nos tetos das casas, e é silencioso.
"Se ela diz que é pra matar, eles matam, se ela diz pra levar os intestinos de alguém, levarão".
Ela envia pesadelos, fraqueza nos corpos, doenças, dor de barriga, levam embora os olhos e os pulmões das pessoas, dá dores de cabeça e febre, não deixa que as mulheres engravidem e não deixa as grávidas darem à luz.

As Iyami costumam se reunir e beber juntas o sangue de suas vítimas. Toda Iyami deve levar uma vítima ou o sangue de uma pessoa à reunião das feiticeiras. Mas elas têm seus protegidos, e uma Iyami não pode atacar os protegidos de outra Iyami.
Iyami Oshorongá está sempre encolerizada e sempre pronta a desencadear sua ira contra os seres humanos. Está sempre irritada, seja ou não maltratada, esteja em companhia numerosa ou solitária, quer se fale bem ou mal dela, ou até mesmo que não se fale, deixando-a assim num esquecimento desprovido de glória. Tudo é pretexto para que Iyami se sinta ofendida.

Iyami é muito astuciosa; para justificar sua cólera, ela institui proibições. Não as dá a conhecer voluntariamente, pois assim poderá alegar que os homens as transgridem e poderá punir com rigor, mesmo que as proibições não sejam violadas. Iyami fica ofendida se alguém leva uma vida muito
virtuosa, se alguém é muito feliz nos negócios e junta uma fortuna honesta, se uma pessoa é por demais bela ou agradável, se goza de muito boa saúde, se tem muitos filhos, e se essa pessoa não pensa em acalmar os sentimentos de ciúme dela com oferendas em segredo. É preciso muito cuidado com elas.
E só Orunmilá consegue acalmá-la.





VODUN NO BENIN


Vodun no Benin

Uma característica existencial do homem desde o despertar de sua consciência é a religiosidade que brota a partir do limite que cede a ascensão necessária ao transcendente,não sendo limitado a um culto ou a um veículo estabelecido todos os homens são religiosos de alguma forma,mesmo que uns sejam mais do que outros.A religião de cada homem deve muito ás culturas das quais eles são essências.

No caso do Benin,é evidente que encontraremos algumas divergências no fenômeno Vodum.
A maior parte do povo beninense têm as raízes culturais muito semelhantes e praticamente a mesma origem histórica,por essas razões nessa região dos fons a religiosidade é manifestada totalmente em Vodum,mesmo para aqueles que se converteram a outras religiões.
Vodum é adorado e venerado como divindade.
Isso também define o todo social o psicológico,e está em torno da estrutura sobrenatural deste tipo popular de religiosidade.Na verdade oVodum está no todo.

Antes da chegada de outras religiões no Benin, principalmente o cristianismo,todas as famílias faziam parte do culto Vodum.Quando esses missionários chegaram,tentaram converter a população alegando que Vodum era demônio.
Encontram muita resistência por parte dos fons que tinham e têm raízes profundas no culto de seus ancestrais.

Vejamos agora uma breve explanação sobre no que consiste o Vodum e seus objetivos.

Mawu,o Deus Supremo

A cultura do sul do Benin,representada pelos Fons,Gun,Mina e Ewe é considerada por uma mesma concepção de divindades.
A convicção na existência de um Deus superior é geral,este Deus,conhecido como um Ser Supremo Transcendente,é chamado de Mawu,Ele criou tudo.
Este Deus já existia entre esse povo muito antes da chegada das grandes religiões monoteístas (Cristianismo, Islamismo)

Para os Fon,este Deus Mawu também éconhecido como: Dada Segbô,Sêmêdô ou Gbedoto
dependendo a que obra de Mawu a pessoa esta se referindo.
Dada Segbo - enfatizando a criação do mundo.
Sêmêdô - enfatizando o princípio da existência.
Gbedoto - enfatizando o princípio da vida.

Mas,se não há nenhuma dúvida acerca do Deus Supremo Mawu na mentalidade desses povos,
então de onde vem esta prática de Vodum?Responder esta pergunta significa mostrar a
relação existente entre Mawu e Vodum.

Mawu e Vodum
Mawu é considerado o grande Deus supremo pelos fons e sendo assim não deve ser
incomodado a toda hora com os problemas pessoais.
Os fons acreditam que o ser humano não pode alcançá-lo se não for através dos Voduns.

Para o povo do Benin Mawu delegou sua força/
energia aos Voduns para que esses tomassem conta dos homens e os ajudassem.
Vodum é identificado como uma criatura de Mawu de acordo com a expressão “Mawu wê do Vodu lê”(os representantes de Mawu estão entre os homens para atender suas necessidades) Vodum representa tudo que é sagrado e toda asenergias que vêem do mundo invisível para influências o mundo dos vivos.

Os Voduns recebem cultos devido à sua
proximidade com os homens.
Qualidades divinas são atribuídas a eles,
caracterizados por serem espíritos que estão acima de todas as leis naturais.
Não existe um culto específico para Mawu,a não ser orações e referências espontâneas como:
“Mawu na blô”(Deus ajudará, Deus te ajude),“Kpê Mawu ton” (Deus pode tudo) que são utilizadas em diversas ocasiões.

Vejamos os setes primeiros Voduns que Mawu enviou a terra:

Sakpata - É o filho mais velho de Mawu,a quem a terra foi confiada,AyiVodum (Vodum da terra).
Sua energia é temida, seus atributos são a varíola e as manchas brancas e vermelhas na pele.Sakpata tem muitos filhos,incluindo Ada
Tangni Vodum da lepra) e Sinji Aglosumato( Vodum das chagas incuráveis).


Xevioso(ou Hevioso/Xebioso) - Este é o JiVodum(Vodum do céu)que se manifesta como trovão e relâmpago.
É o segundo filho de Mawu,considerado o Vodum da justiça,que castiga ladrões,mentirosos e criminosos. Xevioso tem vários filhos,incluindo Aklobé e Aveheketi.Seus atributos são:o raio,o machado duplo o carneiro a cor vermelha e o fogo.

Agbe - Este é ToVodum (Vodum das águas)
É representado por uma serpente símbolo de tudo que dá vida.Entre seus filhos está Dan Toxosu,que representa e protege os deficientes físicos e mentais.

Gu - É o Vodum do ferro e da guerra,que dá ao homem a sua tecnologia.Ele não aceita a cumplicidade com o mal.Por conseguinte é capaz de destruir todos os culpados por atos infames e criminosos.Esta personalidade de Gu é expressa pelos Fons como “da Gu do”(Gu castiga,Gu mata).

Age - Quinto filho de Mawu.É o Vodum da
agricultura e das florestas.Reina sobre osanimais e pássaros.

Djo - É o Vodum responsável pelo ar.

Legba - O filho mais novo de Mawu,o sétimo. Não ganhou nenhuma atribuição na terra,como os irmãos,por ser extremamente ciumento e cometer atos que prejudicavam os irmãos e os homens.
Recebeu de Mawu a guarda do portal entre os dois mundos;o dos homens e o de Mawu, ele passou a ser o mensageiro entre os irmãos,os homens e Mawu.Ele é tudo aquilo que está além do bem e do mal.

Ao lado dos filhos de Mawu se encontram Voduns protetores de clãs.Estes são os Toxwyo(antepassados divinizados)
Cabe a estes manterem o vínculo entre o mundo invisível e a vida diária dos que vivem no mundo visível.

De acordo com o que foi apresentado acima, podemos classificar os Voduns como:

Interétnico - Voduns associados à natureza: JiVodum,AyiVodum e ToVodum.
Interétnico - Voduns associados às histórias místicas:Leba e Gu.
Étnico-AkoVodum - Os Voduns ancestrais divinizados: Toxwyo,Agasu e outros.
GoroVodum - São Voduns mais modernos cultuados principalmente em Ghana.
Eles protegem contra feitiçarias:Kokun,o Vodum das forças misteriosas e violentas é um deles.

Após estas investigações, parece ser importante uma pergunta:então o que é Vodumexatamente?

Pode ser dito que Vodum constitui uma classe especial de criaturas de Mawu, vivendo entre os homens. Ele está acima da humanidade,mas não é “Deus”. As expressões Fon definem: “Vodum gongon, Vodum d’ablu” (Vodum é mistério, Vodum é segredo)É por isso que Mgr. Robert Sastre disse: “devemos nos referir ao contexto social e cultural que invoca Vodum a fim de aprender o que realmente é Vodum”.

Dentro do que foi dito acima, surgem algumas questões: Quais as práticas ou implicações que ilustram suas manifestações? Vodum pode ser assimilado como fetichismo ou até mesmo naturalismo? Que relação estabelece entre o indivíduo iniciado em seu culto e o seu todo
cósmico, social e ambiente espiritual?

Estes podem ser naturalismo, fetichismo, expressões e manifestações animistas,mas a visão básica é o argumento do naturalismo e fetichismo Vodum ligado a alguns epifenômenos em sua prática.
Vodum está relacionado a diversos elementos do universo e a objetos materiais nos cultos de devoção,onde são retratados e sacrifícios lhes são oferecidos (montículos de terra,barras de metais,árvores,pedras etc)

Isso nos impele a outras perguntas:Vodum é uma pessoa?Ele está no mesmo patamar que o homem?Ou está acima ou abaixo dele?
A resposta a estas questões podia ser aquela em que Vodum é a estrutura ética e religiosa que estabelece uma sociedade,mas esta seria uma visão limitada de Vodum.

Certas pessoas erroneamente igualam Vodum a Fetiche. Realmente, alguns vêem o culto do Vodum como uma idolatria primitiva de objetos materiais ou como um culto de matéria,sem se importarem com sua rica funcionalidade que ilustraremos abaixo. Alem disso, convém notar que estas visões erradas devem-se às abordagen
etnológicas do fenômeno de Vodum que se abstém à sua função apenas física, cósmica e social na mediação religiosa.



É verdade que“Me we no ylo do Vodu b’e non nyin Vodu”(não é porque o homem o chama Vodum que é Vodum)mas por ver nele forças geradas pela interação complexa de sentido,
intenções,gestos e palavras ditas. Está além de uma questão de suporte antropológico o qual coloca Vodum num sistema simbólico onde deve ser a sua performance a mediação necessária do físico e,em sendo assim,da matéria em geral.
Deste modo seria mais correto traduzir“Me we no ylo do Vodu b’e non nyin Vodu” como: Uma atitude pessoal de identificação e aceitação do sagrado com o símbolo.

Vodum evoca o mistério e tudo que se refere ao divino.Desta maneira,a suspeita é retirada pelo menos no que diz respeito à essência ainda que permaneça nas manifestações um tanto que desviadas do fenômeno Vodum.E a globalização dasrelações de que Vodum é um símbolo é ainda uma outra prova disto.

A palavra“Gbe”que significa“a vida” significa igualmente “O Universo” E é este segundo significado que focalizamos aqui.O universo
criado no seu desenvolvimento cósmico não é estranho ao desenvolvimento de Vodum.

Nas expressões concretas do universo há um Vodum da terra(Sakpata)um Vodum do céu (Xevioso)um Vodum da águas(Agbe)e Voduns que representam os antepassados (Toxwyo
como vimos.

Na verdade, todos os elementos do universo são implicados no fenômeno Vodum.
Não é o que a mentalidade da imaginação do sul do Benin concebe de uma cosmogênese de
Vodum: Vodum não é o gerador nem o criador do universo,mas seu elo com tudo da natureza,é uma mediação e a proteção do homem.
Com efeito,a sua relação com“Gbe”encontra
apenas o seu significado pela sua relação com o“Gbeto”(o homem).

Vodum e o Homem

A religiosidade se manifesta num homem através do fenômeno Vodum,a motivação
para que ele faça e use símbolos que
representem seu Vodum.Além disso os homens dizem que Vodum é um mistério,é o inefável quando se concentram noselementos naturais,é o extraordinário, o herói e o poderoso em
questões de existência humana.

Enquanto o homem não conhece o nome de seu Vodum,ele o chama de“nu me sen”o venerável o adorado)Isso durante o princípio de sua iniciação no culto.

Depois de identificado o Vodum,o homem passa a ser dominado por ele.Doravante nenhum aspecto da vida do homem acontece sem que seu Vodum saiba e participe.

O Fá,mensageiro do Vodum,intervém enquanto a criança está no útero materno.
Identifica o destino e se necessário,o altera. Semelhante a todos os nascimentos e através das situações existentes, Fá participa das iniciações dos Voduns.

Curiosamente e paradoxalmente Vodum não acompanha seu iniciado na morte física. No enterro de um vodunsi são feitos rituais para remover o Vodum do morto.Aqui encontramos dois significados importantes:

1)O Vodum toma conta dos vivos e não dos mortos.
2)Vodum é um intermediário entre seu iniciado e Mawu e,quando ocorre a morte física,Vodum volta para Mawu.

Como princípio de mediação,Vodum tem um papel importante na organização da sociedade humana.

Agbasa-Yiyi (sala da vida)

O agbasa-yiyi é de suma importância na vida do povo Fon.É o primeiro de uma série de três rituais de iniciação ao culto Fá.
Meninos e meninas podem ser iniciados até a segunda etapa do culto, porém somente os
homens poderão chegar à terceira etapa.

A cerimônia do agbasa-yiyi não tem
rigorosamente data fixada porém não poderá
ser feita após os três meses do nascimento.

A proposta do Agbasa-Yiyi é apresentar a criança na “sala da vida”(agbasa)e aos ancestrais.É um rito da integração de uma ou de várias crianças da mesma geração dentro da comunidade familiar,incluindo os antepassados e os espíritos protetores da família.

A consulta do Bokono revela o Joto da criança, em outras palavras,o Vodum ou o Mexo (antepassado;às vezes divinizado)





O Joto é a referência de uma forçaprotetora.É um elemento dinâmico que intervém na formação da personalidade do indivíduo.
O Joto é a parte vital que anima a criança.Ele pode ser chamado de Sê-Joto ou Sê Mekokanto (SÊ-o que molda o corpo humano com a argila).É ele quem apresenta para o Deus criador o barro do qual foi modelado o corpo do recém-chegado para a vida terrena(Gbe-Tome).Ele é a energia vital e espiritual que molda e conduz a existência da pessoa.
O Joto é o pai da vida para a existência o
colaborador direto de Mawu na geração da criança.

Uma vez que o JOTO é conhecido, diz-se a seguinte saudação“SÊ Doo Nú We” (seja bem-vindo, oh, SÊ!).Esta saudação de boas-vindas é feita pelo ritual do Jono Kpikpe (encontro,boas-vindas ao estranho, ao convidado)

Em princípio a criança não recebe o nome de seu Joto, o nome será dado após esse(o Joto)ser consagrado e cultuado,quando então a criança usará este nome dentro da religião e foradela.
Se o indivíduo for chamado por um outro nome haverá severas penalidades.

Apesar da terminologia ambígua do termo Joto, qualquer idéia de reencarnação est
absolutamente descartada.A criança não é a reencarnação do seu Joto ancestral.

A religião Fon está convicta de que o SÊ é imortal.
Quando uma pessoa morre e vai para o
Yêsùnyimê(mundo dos espíritos, mundo
metafísico) o SÊ volta para Segbo(o grande SÊ, que é Deus)em outras palavras para suasorigens seu estado original.

O papel do Joto é colocar suas mãos na cabeça do candidato à vida (alodotanumêto),e oconduzir na terra, ser sua sombra protetora. Não há reencarnação, mas uma transmissão de personalidade.A alma individual do Joto não se reencarna em seu protegido,mas transmite sua parte social e seu status.
Uma prova disto é que muitas pessoas podem ter o mesmo Joto.

O Sê-Mekokanto (ancestral que reuniu o barro e modelou o corpo da criança recém-nascida) coloca na criança sua personalidade social,a que Ele se tornou através de seu processo histórico,o qual aquele personifica por toda a vida,e que é mantido pelo grupo que irá educar a criança recém-nascida.

A personalidade social e a consciência histórica que o ancestral leva ao seu descendente constituem uma herança fisiológica que dá significado à sua vida e coincide com o que foi mencionado acima.
O ancestral protetor vem para materializar o direito da segurança e manutenção da vida. Assim o Sê-Mekokanto assegura a continuidade da vida da família da qual ele foi um dos
primeiros elos importantes.

O Joto é às vezes ajudado em sua missão por um outro ancestral ou espírito divinizado, agindo como um Joto auxiliar ou companheiro do primeiro,uma realidade que é vista pelo FON
como um valor inestimável.

Para identificar o Joto,primeiro precisamos determinar o DÚ,que é o nome dado ao signo ou figura encontrada no sistema divinatório do FÁ.

Existem vários signos que servem para revelar o Joto da pessoa.A partir de agora,o DÚ que foi revelado e o Joto constituem dois componentes inseparáveis do pessoal,social e destino religioso do indivíduo. Enquanto o Joto é a parte tipológica do indivíduo,o DÚ é a vontade de buscar e saudar a desejada terceira parte (SÊGBO).

Manifestado perto do Joto,o DÚ é a palavra do oráculo, a voz do ser supremo sobre cadapessoa. Como a voz do Sê,DÚ é também o caminho que Sê traça para o homem seguir.
DÚ é a palavra de vida dada como uma medida de direção para quem acaba de entrar na terra da vida (gbêtomê)e dentro do mundo dos homens (gbêtolê mê)Ele traça o caminho a ser seguido em outras palavras,ele estabelece a lei (SU).

Até a criança atingir a idade da razão, é a mãe que respeita os mandamentos de seu DÚ.
Em geral as mães tomam para elas a
responsabilidade de seguir estes mandamentos para o resto de suas vidas. Sendo assim elas demonstram que a vida deve ser preservada e todos devem cooperar para que isso seja mantido.



AGOO-MA-YI-SOGWÉ é o estágio que denota o final da adolescência (por volta dos 20 anos).
Neste período a segunda iniciação para FÁ
acontece e é chamada de Fá-Sinsên(adoração a FÁ) ou Fá-Yiyi(recepção do FÁ).

Neste período de suas vidas,rapazes e meninas estão geralmente vivendo uma crise dejuventude.
Diz-se que a juventude é“perturbada” por FÁ.O adolescente deverá “receber” e “adorar”FÁ em ato público religioso,lutando contra si mesmo pois deverá proferir o mais profundo“SIM” à
vontade de DEUS (GBÊ)para que se tornem mais fortes.A consulta do FÁ revela o signo(DÚ)sob o qual os rapazes ou moças se apresentarão.Este será o DÚ (palavra do oráculo)dos adolescentes.

Para cada um e com cada um,o Bokono(adivinhador)retira o adrá,em outras palavras ele oferece o sacrifício que tira os obstáculos dos caminhos,acidentes e infortúnios(adrá).A eles é dado o FÁ e eles o recebem,é a palavra de Mawu-Gbêdoto(Deus)para cada um que definitivamente deixa a infância e entra para a vida adulta.

A terceira iniciação para o FÁ é reservadasomente aos candidatos homens.Eles atingiram a fase adulta.É a porta,ainda que uma porta estreita para os segredos do sistema divinatório de FÁ,é chamada Fá-Titê(consulta do Fá)um rito através do qual o Fávi (filho de FÁ)recebe a revelação de todo seu destino.

Desnecessário dizer,dado o caráter esotérico desta iniciação comparada às anteriores,que os não iniciados e as mulheres não são nemmesmo aceitos como espectadores.
A cerimônia acontece no Fázun (floresta de FÁ)Como um iniciado o candidato tem um Bokono responsável por ele.O Bokono pega com asmãos juntas as nozes sagradas, reza três vezes para Mawu-Gbêdoto (Deus Do Criador)pedindo que
envie o Joto do Fávi ao lado de seu protegido. Assim, sob a proteção de seu Joto,o Fávi manipula o Fágbo (oráculo de Fá com 36 nozes)para extrair a figura parcial do DÚ(signo do
oráculo)e conforme Fá vai respondendo os signos são traçados no solo.Uma vez que o signo é formado,o Jogbona (o assistente do Bokono na cerimônia) o lê em voz alta.

Após a leitura dos signos traçados no solo,o Jogbona junta a terra onde o DÚ foi escrito e coloca em um saco de tecido.Isso constitui oKpoli do Fávi(sinal visível do princípio espiritual que
está no homem,o visível sinal de SÊ)

Após este,outra consulta é feita para assegurar que o sinal que saiu é para o bem do Fávi.Uma resposta positiva de FÁ é saudada com alegria e satisfação por todos.Para uma resposta negativa,
será feita uma oferta de sacrifícios para tirar Ku (morte),Azon(doença),Hwê(culpa),Hen (pobreza,
miséria).

Ao final deste sacrifício de exorcismo,o Fávi passará por um ritual de banho de água fresca.O cabelo do Fávi,unhas,e tudo que nele epresente impurezas,são enterrados na floresta sagrada.
Todos voltam para casa do Bokono,que é o pai espiritual do Fávi.

Se o significado esotérico do sinal não for legível para todos os participantes da cerimônia,e por causa do FÁVI, depois que saem da Fázun(floresta sagrada)eles se reúnem na casa do Bokono onde os mais velhos dão as devidas explicações e no caso de dúvidas o Bokono se pronuncia.

Ao longo do período de iniciação,o sexo não é
permitido ao Fávi,ele está num período de
clausura e num relacionamento especial com o sagrado.A abstinência sexual proporciona ao
candidato a preservação de toda a sua energia vital, força Divina.A liberação do sexo acontece após o terceiro dia de seu retorno da Fázun.

Isso acontece após uma próxima consulta de FÁ para ter certeza que o DÚ do Fávi veio para seu bem.Após esta consulta e a liberação do sexo o Bokono faz recomendações para o Fávi.
Isto é um tipo de tradição na constituição de seu novo estado.Deverá haver um sentido de
irmandade entre os outros Fávi havendo também respeito ao pai espiritual,bem como para os
outros Bokonos.

Finalmente o Fávi está vestido com suas roupas de tecido branco,então ele irá par a casa com seu FÁ. Ele é um iniciado completo doravante sabe o significado da vida.



O Noviciado,O vodunsi - Escola da Vida

No dia exato em que uma criança entra no Hun-Kpame,ou Vodum-Kpame(convento,templo)o Vodum toma posse da criança que por trêsmeses será chamada de KAJEKAJI(neófito)O que nós chamamos de “noviciado”é o processo que os
fará tornar-se na verdade o que eles
misticamente já são.

Os neófitos são cuidados pelo Xwegan(que é o cabeça do templo) o Kangan (responsável pela disciplina) o(a) Hunso e a(o) Nagbo que são mestre e mestra do noviço respectivamente.
O Hunkpame(convento)é uma escola severa de renúncia e resistência.Dentro dela os eleitos são iniciados no culto dos Voduns,a quem foram consagrados para a vida toda.

Iniciar-se para o Vodum é o momento de
particular importância e de profundas marcas na vida do indivíduo.É o desejo de gradualmente
conduzir sua existência profana para sua
existência como pessoa sagrada.O noviço passa por várias separações, cada separação significa uma morte da vida profana que levava antes.

Primeiramente o vodunsi deverá fazer vários juramentos de absoluto silêncio no que concerne ao que ele viu e ouviu ou verá ou ouvirá no convento.Qualquer vodunsi que não guardar seu juramento será considerado um traidor.Aquele que fracassar em sua iniciação em sua
consagração e não souber como se comportar em ambiente profano,será considerado uma pessoa infiel e uma ameaça para a autoridade, não do homem,mas da divindade.Aquele que se portar com rebeldia ou com raiva será culpado e somente conseguirá amenizar sua situação após vários ritos de Fá(conjuração)Ewusla(purificação).
Na pedagogia da iniciação,o neófito deveráprovar sua capacidade de resistência nos caminhos de sua formação que serão os caminhos de sua vida.

O treinamento contínuo,que é uma característica geral do sistema educacional Fon,é a expressão mais forte dentro do Hunkpame,disciplina e
tenacidade são essências,punições corporais servem para desenvolver estas características.A este respeito pode ser dito:o corpo registra conhecimento.Cada vodunsi armazena em seu corpo o solo onde a iniciação foi semeada por meio de gestos,atitudes,palavras e,se necessário for,flagelação.As palavras e gestos dos
professores deverão ser memorizados e
reproduzidos exatamente pelos estudantes.

A pedagogia da iniciação envolve a transmissão de gestos e palavras,o que requer esforço de ambas as partes, iniciador e iniciando “mente, coração e o corpo trabalham juntos para construir o homem em seu total”

Além de aprender a linguagem do Vodum,os cantos culturais e as danças,para satisfazer as necessidades materiais do convento e do Hunnon (sacerdote de Vodum)o jovem deverá dedicar-se a si mesmo,trabalhando no campo em períodos fixados,fazendo cestos,esteiras e roupas de ráfia, que serão vendidos no mercado local pelos serviçais do convento.Não há “vida fácil” no
período de iniciação;a preguiça deverá ser odiada como se fosse uma praga;“kajekaji mo no do hwememelo” que quer dizer: “O neófito não tem descanso”

O vodunsi,masculino ou feminino,deverá mostrar maturidade e seriedade com as coisas dareligião. Desta maneira eles contribuirão com o equilíbrio,
ordem social,cultural e integridade religiosa de sua comunidade e seu povo.
Antes de retornar ao mundo dos não iniciados, depois de sua consagração e sua iniciação,entre outras recomendações,eles deverão cultivar o
senso de irmandade com todos os outrosvodunsi respeitar o Vodum e sentirem-se responsáveis pela terra de seus ancestrais.

A cerimônia de dar areia para o ex-kajekaji acontece em datas estabelecidas pelos Voduns. Podem demorar de 10 a 20 anos para acontecer. No período desta cerimônia, o Vodunon manda chamar todos os que foram iniciados no mesmo período e os coloca em retiro(xwe mi faz xo)algumas horas,depois o Vodunon coloca um pouco de terra nas mãos de cada iniciado e diz:“Danxome ko tonye die emi so do alome nu hwima nu e je ayi gbede o”(Aqui está a terra do danxome,a qual eu coloco em suas mãos jamais a deixe cair !).


Vodum da Hennu (Família), do To (país) - Sociologia

HENNU designa a família, a primeira unidade da organização social.
É umacomunidade co-sanguínea,unida por um único ancestral,com as mesmas proibições
alimentares e morais, e que cultua Voduns e divindades aos quais é leal.

TO é um agrupamento de várias famílias ou muitos Xwe (ruê - parentes próximos).
Como na hennu, também existe uma hierarquia de proibições (tosu) prescrita pela prática sagrada(SIN),Vodum(s)protetor(s)e sacerdotes dedicados ao culto.
Aqui, mais que um nível familiar, a influência recíproca dá autoridade política e religiosa aos parentes.Sempre é o Vodum que prevalece na consagração de chefes habituais e geralmente os oráculos do Vodum também são irrevogáveis: devido ao medo que eles inspiram, provam um aumento mais fácil do controle do social.

Desta maneira, na sociedade tradicional, uma categoria social sem seus Voduns está frágil e destinada a desaparecer. Deve-se notar aqui que, à parte do ético ou do Vodum interético, a maioria dos Voduns são mais eficientes quando eles são de origem estrangeira, em outras
palavras, importados.De fato, com estes
exemplos, o papel funcional do Vodum nos fará admitir uma dimensão instrumental do fenômeno.

Vodum e o Monoteísmo

Identificando o Vodum como um fetichismo de idolatria ou um animismo supersticioso, alguns etimologistas chegaram à conclusão de que o culto ao Vodum é perfeitamente a ilustração do politeísmo.
Isso talvez seja verdadeiro se tiver como referência o panteão dos deuses gregos. Mas, em qualquer analogia explorada e dentro de certas proporções, até mesmo um deus desconhecido, ao qual um templo em Atenas foi dedicado na epoca do Apóstolo Paulo, não tem o mesmo valor que o MAWU do sul do Benin, a quem nenhum culto é feito mesmo que chamado por todos os sacerdotes de todos os Voduns.

Na verdade o fenômeno do Vodum tem um único objetivo,embora com uma multiplicidade de expressões e manifestações na imaginação coletiva das pessoas.
O culto feito para as divindades conhecidas como Vodum é um atalho ao Deus verdadeiro, cuja revelação ainda está faltando. Devido a isso, é para este Deus que todo culto é dirigido, toda adoração é feita a Ele. Assim,na mesma maneira é o grande Deus que criou todos os homens e todos estes Voduns, e deu ao homem estas divindades como intermediários.

Devemos notar que há alguma dificuldade para que seja aceito Jesus Cristo como o único mediador entre o homem e Deus, deve ser notado que os termos desta comparação estão desproporcionados: CRISTO está além dos modelos. Está claro que continuar falando de politeísmo no contexto Vodum está fortemente correto, ainda que pareça ser um monoteísmo poliedral, que indique um ativo relacionamento com o cosmo, natureza e o fenômeno da morte da existência humana dentro de um contraste com a relação direta com Deus. Ninguém pode dizer absolutamente que estamos na presença de um panteísta (Deus em todas as coisas), sendo um tanto PAN-IN-TOEIST (todas as coisas em Deus). Neste estágio não estamos distantes de retirar a convicção cristã de um único deus. Mas isso não é nada mais que uma apologia do Vodum, o qual não seria i ngênuo e enganador se o Vodum estiveste limitado a esta substância positiva que o caracteriza.


Abordagem Crítica da Funcionalidade do Vodum

Vodum, apesar de suas ramificações funcionais, que acabamos de ver, bem como seu valor ético que continuaremos a abordar,também tem o lado negativo.
Abordaremos somente os dois principais.

Do Sagrado para a Violência

Vendo a prática do ponto moral e cultural
(comportamental),poderia ser admitido que o culto Vodum seria um ditador do sagrado.

Geralmente, em religiões tradicionais, o sagrado é o que nos supera,é a quem nós confiamos nossas forças,e que assegura nossa felicidade. Sendo assim, entendemos que a soberania dos reinos não está longe do sagrado.No caso do Vodum, o sagrado assume uma dimensão de terror.Um certo Vodum poderábuscar
vinganças,outro poderá matar,ainda outro poderá requerer sacrifício humano.

O homem que conseguir servir ao Vodum, e ter o crédito popular por isto, poderá finalmente obter qualquer liberdade. Esquecem que estão falando em nome do sagrado. A violência torna-se normal, principalmente sobre aqueles que ousam perguntar o porquê do que acontece.

Esta violência manifesta-se dentro do convento Vodum, bem como nas suas adjacências. Até mesmo quando o culto Vodum é demonstrado como folclore ou comoatividade cultural,a violência está presente.
Face a esta violência, a liberdade humana inexiste, inclusive pelo fato do indivíduo ser forçado a entrar para o convento.

Com a vinda do cristianismo, a autoridade da igreja tinha que lutar com os chefes dos templos Voduns,em casos onde os catequizadores eram seqüestrados.Em comparação com estes casos de violência física, a dimensão misteriosa do culto Vodum era ainda mais assustadora.

Vodum e Feitiçaria

Com a funcionalidade do Vodum descrita acima, poder-se-ia dizer simplesmente ser ele uma religião naturalista. Por mais que o poder do fenômeno esteja baseado nas duas realidades, Magia e Feitiçaria, são elas que dão força e crédito e viabilizam toda uma estrutura de hierarquia com a população. É um universo
complexo, onde nem todos podem entrar e sair. O pior é o que se faz de mal com este poder.

As duas palavras chaves são: BÔ (magia) e AZÉ (feitiçaria) O culto, em sua formalidade, deveria ser feito para a proteção contra todo o mal, mas quem conhece o veneno também conhece seu antídoto.
Não há nada mais perigoso neste mundo que o mau tomar forma de bom e se impor como um código de conduta.

É precisamente esta conivência entre o culto Vodum e o círculo esotérico que dificulta profundamente uma culturação, dado que no culto do Vodum os aspectos estão amplamente misturados com algumas culturas.
Distinguindo o Culto da Cultura na área cultural do sul do Benin, a profunda influência do fenômeno religioso sobre a estrutura social, econômica e política é inegável.

O tempo atual está solidamente enraizado no tempo dos ancestrais venerados; quase tudo que acontece é minuciosamente detalhado,explicado, entendido e vivido na comunidade de acordo com o desejo do Vodum.

A farmacopéia constitui a força maior dos conventos. Cada família, cada filho ou cada grande grupo sócio-geografico (To) tem seu Vodum especial que se impõe em todas as questões do cotidiano. A base da sabedoria é o medo do Vodum.Espera-se que a vida econômica receba ajuda do Vodum, em outras palavras, a política é marcada pela realidade do Vodum. Destas várias pesquisas coletadas na fonte,
conclui-se que a religião Vodum suplanta a cultura.

Tal dedução é muito mais teórica do que real. O Vodum não absorve tudo aquiloque é cultural. Existe uma forte tendência para que a religião substitua a cultura. O culto religioso pode reivindicar, por si próprio, atos significativos (gestos,palavras,atitudes...) pelos quais o homem mostra sua relação de comunhão com o transcendental. No Vodum este é um ato específico de devoção e religiosidade.



Os atos essenciais de culto na religião Vodum são sacrifícios (ação de graça, renúncias) oferendas e orações. Refeições comunitárias e ritos de purificações anuais completam a vasta forma do culto ritualístico.O impacto do culto na vida cultural vai além das proibições morais que emanam especificamente do Vodum. Esta distinção necessária entre o culto e a cultura é a condição de um diálogo sincero entre esta cultura e o cristianismo,de forma a começar um processo de culturação. Mas esta definição precisa não é de modo algum uma insinuação de que a religião como um todo é negativa e idólatra.

Se a verdade é para ser dita deve-se reconhecer que as deficiências e falhas do Vodun(encanto,magia,feitiçaria e fetichismo) exploram os sentidos úteis, na questão pelo poder.
Há uma substituição de símbolos que representam a natureza. Isto leva a atitudes supersticiosas e mágicas infusão difundida de maldade e terror na prática do Vodum. Esta verdade defende a perplexidade e ceticismo quando encarada com a moral que o Vodum passa aos seguidores.

No Hennu, o Ako (linhagem) e o To, o Vodum, constituem elementos da coesão social. Numa cerimônia habitual de cada grupo social de seu Vodum particular,promove-se grandes momentos de uma irmandade em ação.
Os seguidores de um mesmo Vodum compartilham as mesmas proibições e prescrições legais.
As regras do Vodum estabelecem uma vida de solidariedade entre os indivíduos.Brigas entre os seguidores do mesmo Vodum são geralmente sanadas no convento ou na casa de um Vodunon em contrapartida,o Vodum não tolera nenhuma transgressão de suas proibições;o que mantém entre os adeptos sinceros do Vodum uma
permanente cultura de fidelidade.

Podemos observar isso nos próprios africanos que se converteram ao cristianismo,pois eles não mais praticam o culto Vodum,mas continuam sendo fiéis aos tabus determinados pelo Vodum. Finalmente,deve-se notar que o Vodum não se opõe às regras da vida conhecidas como Gbesu (a vida do homem), ele aceita tudo que faz parte do cotidiano do homem. O Gbesu segura a destruição da vida e abomina a traição dos amigos. As características a serem focalizadas por issosão os valores de fraternidade,solidariedade, comunhão e fidelidade religiosa,sem o esquecimento das proibições sociais ditadas pelo Vodum.

CONCLUSÃO

Para concluir o comentário sobre a religião tradicional do Benin, devo dizer que não foi possível falar tudo. Ainda assim, apesar de todos os excessos ao seu descrédito,o Vodum na sua pureza permanece num solo fértil, apesar da presença dos evangelizadores que insistem em acabar com o culto Vodum,o que parece ser uma utopia, muito mais hoje do que foi no passado.

Na verdade, os dezessete anos de permanência dos policiais Marxistas-Leninistas no Benin, 1972/1989, com uma campanha anti-religião e caça às bruxas,contribuiu para a diminuição da importância e reduziu a influência do Vodum. Mas com a renovação democrática,iniciada em 1990, o Vodum ganhou vitalidade.
De 28 de maio a 01 de junho/1991um simpósio dos grandes líderes dos cultos Vodum aconteceu com o propósito de restaurar a legalidade do reconhecimento desta religião tradicional.
Em 1992 outro grande festival internacional do Vodum foi organizado e aconteceu no Benin "Ouidah-1992"

O objetivo deste foi mostrar a renovação do culto. No mesmo ano ocorreu a visita do Papa João Paulo II ao Benin, onde houve um encontro com os líderes e muitos seguidores do Vodum, não como um sinal de diálogo, mas como a indicação de que a igreja ao menos reconhece que o culto Vodum tem seu lugar.
Esta combinação de circunstâncias significa que o Vodum no Benin é atualmente organizado e estruturado, por si mesmo, mais e mais como uma religião tradicional,há até O Dia Nacional do Vodum (10 de janeiro) Em suma,para alcançar os adeptos do Vodum, a igreja cristã não conseguirá mais usar a bíblia e a água benta,mas sobretudo precisará de diálogo.