O ponto de partida deste texto é surpreendente e simples: a vida é um processo de conhecimento; assim, se o objetivo é compreendê-la, é necessário entender como os seres vivos conhecem o mundo eis o que RITA DE CÁSSIO MONTEIRO da cognição. O modo como se da o conhecimento é um dos assuntos que ha séculos instiga a curiosidade humana Desde o renascimento, em suas diversas formas tem sido visto como a representação fiel de uma realidade independente de conhecer. Ou seja, as produções artísticas e os saberes não eram considerados construções da mente humana. Com alguns intervalos de contestações (como aconteceu logo no início do século XX, por exemplo), a idéia de que o mundo é pré-dado em relação à experiência humana é hoje predominante – e isso talvez mais por motivos filosóficos, políticos e econômicos do que propriamente por causa de descobertas cientifica de minha amiga e irmã RITA DE CÁSSIA MONTEIRO. BÀBÁLORÌSÁ SIQUEIRA D’ODE.
Sucessivos abortos numa mesma mulher, partos seguidos da morte da criança recém nascida, morte de crianças ou jovens, repentinas e associadas a estágios significativos de vida, tais como mudanças nas fases de crescimento, aniversários, casamento ou nascimento do primeiro filho, são identificadas como acontecimentos ligados aos Àbíkú.
O que é “Àbíkú”?
A tradução literal “nascido para morrer” (a bi ku) ou “o parimos e ele morreu” (a bi o ku), designando crianças ou jovens que morrem antes de seus pais. Há, assim, dois tipos de Àbíkú: o primeiro, Àbíkú – Omode, designando crianças e o segundo, Àbíkú – Agba, referindo-se a jovens ou adultos que morrem, via de regras, em momentos significativos de suas vidas e sempre antes dos pais, apresentando nisso uma alteração da ordem natural que socialmente é aceita e entendida como: aqueles que chegaram ao Aiyé (mundo físico) primeiro voltam primeiro ao Orún (mundo espiritual). Nessa questão, além da lógica natural, está presente a garantia da continuidade no Aiyé e a certeza da lembrança e do culto ao ancestral que deixa descendentes que recontarão sua história ao longo dos tempos, garantindo sua “sobrevivência” na comunidade.
No Orún vive um grupo de crianças chamadas Emere ou Elegbe e este grupo constitui o Egbe Orún Àbíkú, ou seja, sociedade das crianças que nascem para morrer. Contam os mitos que a primeira vez que os Àbíkú vieram para a terra foi em Awaiye e constituíam um grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, chefe deles no Orún. Na encruzilhada que une o Orún ao Aiyé, ikorita meta, todos pararam e vários pactos foram feitos, definindo o momento particular do retorno de cada um ao Orún.
Alguns voltariam quando vissem pela primeira vez o rosto da mãe, outros quando casasse, um terceiro grupo voltaria quando completasse determinado tempo de vida, um quarto grupo voltaria quando tivessem o primeiro filho, e assim por diante. E o carinho dos pais, o amor que recebessem ou os presentes não seriam capazes de retê-los no Aiyé. Alguns assumiram o compromisso de que nem nasceriam. Esse pacto deveria ser cumprido e os seus companheiros no Orún manterem-se presentes na sua vida, interagindo no seu dia a dia, para que não o esquecessem e retornassem ao Orún tão logo o momento pactuado ocorresse.
Como chega a ocorrer o nascimento ou a manifestação de um Àbíkú em uma gravidez? O Yorùbá acredita que a ação do Àbíkú ocorre por determinação do destino da mãe, ou por força de magia/feitiçaria, ou por condições acidentais. A Drª. Rita de Cássia, em suas pesquisas “Ayedungbe: a terra é doce para nela se viver – rito na luta contra a morte de Àbíkú”, definem essas condições acidentais como “aquisição inadvertida de um Àbíkú por uma mulher grávida que não tenha tomado os necessários cuidados para evitar isso”.
Existe a crença de que uma mulher grávida, ao passar por determinados locais em que os Àbíkú se estabelecem se não estiver devidamente protegida, pode ver-se invadida por este “espírito” e tornar-se sujeita à gravidez de um Àbíkú. Por isso cuidados especiais são tomados pelas mulheres tão logo tenham consciência do estado de gravidez. Não é raro que mulheres grávidas carreguem junto à barriga um “ota”, devidamente preparado, para evitar essa “invasão” por parte de um Elegbe. Sacrifícios, oferendas e rezas são feitas também com o objetivo de evitar que uma mulher tenha filhos Àbíkú ou que, grávida, venha a ser “invadida” por um deles.
Deixando de lado condições acidentais ou efeito de magia/feitiçaria, temos observado que a ocorrência de Àbíkú numa mãe invariavelmente repete uma história familiar que podemos reconhecer procurando os seus antecedentes. Ou seja, podemos procurar nos antecedentes familiares da mãe para constatar, invariavelmente, que este Àbíkú vem se fazendo presente na família, geração após geração, em linha direta ou não.
Outra questão interessante é que podemos afirmar com grande precisão que alguns Odú de nascimento predispõem a ocorrência de Elegbe. Assim, temos que mulheres regidas pelo Odú Ogundabede (Ogunda + Ogbe) são naturalmente predispostas a gerarem filhos Àbíkú e, identificadas, quando ainda não são mães, certas oferendas são realizadas e alimentos são-lhes dados para prevenir a ocorrência. Ebó igualmente é feito nas situações em que já geraram filhos ou planejam gerar – um preá é colocado acima da porta de entrada da casa e um peixe acima da porta de trás, para proteger os moradores da visita dos Elegbe que ali vêm em busca de seus companheiros.
Neste caso, deixam de ter acesso ao interior da casa e levarão, no lugar da pessoa a que vieram buscar, o preá e o peixe. Um Orin Egbe, cantiga dedicada a Aragbo ou Ere Igbo, Òrìsá protetor das crianças Àbíkú, fala-nos desse Ebó. Entendemos, assim, que Egbe é cultuado e louvado com a finalidade de defender as crianças da morte prematura e oferendas lhe são feitas para que “desistam” de levar os Àbíkú de volta para o Orún, sendo um de seus objetivos a questão da manutenção dessas crianças no Aiyé. Segundo a Profª. Dra, Rita de Cássia na obra já citada, “… Estabelece-se assim um jogo de forças entre Aragbo e a comunidade de Àbíkú que deseja levar seus membros do Aiyé, mundo físico, para o Òrún, mundo dos mortos, mundo espiritual.
“Cultos e oferendas são realizados tanto para que a comunidade de Àbíkú abra mão de levá-los de volta, como para que Ere igbo os proteja de serem reconduzidos à terra espiritual.” Todas as pessoas nascidas dentro do Odú Ogundabede, homens e mulheres, devem cultuar Egbe. Entende-se também que quem o cultua evoca as suas bênçãos em benefício das crianças do núcleo familiar. Aliás, o culto de Egbe e suas festas trazem muita semelhança com as festas e o culto que se fazem para “Cosme e Damião” e que são, muitas vezes, confundidas com o culto do Òrìsá Ibedjí. Este Òrìsá e Egbe (ou Aragbo) são de distintas naturezas, justificam abordagens e tratamentos diferenciados, têm formas particulares de serem louvados, são cultuados por diferentes razões e necessidades, e os seus cultos não podem ser confundidos sob pena de incorrermos em erro de fundamento.
Por último, dois aspectos são importantes de serem nomeados: o primeiro, diz respeito ao que podemos chamar de comportamento peculiar da criança Àbíkú. São, certamente, crianças que se distinguem por este aspecto. Segundo, a resistência, na nossa cultura, que os pais têm em aceitar o foto de terem um filho Àbíkú e a dificuldade conseqüente em lidar com esta criança e todas as necessidades decorrentes da luta pela sua permanência no Aiyé. Cabe aí um importante papel para o sacerdote que pode ajudá-los a compreender a questão, dar-lhes orientação e acompanhamento durante todo o processo.
O termo Àbíkú não se pontua apenas a aqueles que nascem para morrer, como determina o conceito Yorùbá, pois sendo assim todos nós seríamos Àbíkús. Costumo dizer, para exemplificar, que Àbíkú tem qualidade, ou seja, existem vários tipos de Àbíkú e formas de atuação e agregação, numa mesma concepção. Pode-se cuidar de uma criança Àbíkú, fazendo-a conviver normalmente entre os seus fazendo oferendas, ebós, tratamento do Orí que são capazes de reter no mundo o Àbíkú e de, lhe fazer esquecer sua promessa de volta, rompendo assim o ciclo de idas e vindas constantes entre o Òrún e o Aiye, fazendo pactos também.
Os Àbíkú têm influência na família, são poderosos manipuladores, videntes, espíritos envelhecidos, atitudes de adulto, etc. A energia de um Àbíkú pode rondar uma gravidez, muitos rompimentos e perda de bebê estão relacionados, porém, não se pode confundir falta de cuidados e tratamento adequado na gravidez com Àbíkú. Quando o zelador observa através do jogo a presença de Àbíkú, o tratamento começa no ventre da mãe com as obrigações necessárias e ebós, através de Òsún, Orí, Èsu, Egungun, Òsàlá.
Existem também os Òrìsás Àbíkú Òsàlá e Nanã, pois regem a vida e a morte nos dois planos de vida e energia, sendo assim, todas as pessoas de Òsàlá e Nanã seriam Àbíkús inclusive a própria iniciação os diferencia como especiais. Mas, independentes disso, outras pessoas de qualquer outro Òrìsá pode ser da família Àbíkú, a família Kóreo.
Um conceito interessante, que vale uma reflexão é que: uma pessoa pode introduzir em sua vida o espírito Àbíkú, quando antecipa os seus ciclos naturais em função da ambição ou opções de vida. Isto a levará a tornar-se um Àbíkú, pois certamente terá a data da sua morte antecipada. Àbíkú é muito mais do que se pode imaginar, sem dúvida alguma, há conceitos, preceitos, ewós, etc, e deve ser tratado simultaneamente no mundo visível e invisível.
Àbíkú – a palavra já diz tudo: A = Nós; Bi = Nascer; Ku = Morrer (Nós nascemos para morrer)
No Òrún; um mundo paralelo que nos rodeia, onde vive os Deuses e Antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu; mora um grupo de crianças chamado Egbe Òrún u Àbíkú – as crianças que nascem para morrer em curto espaço de tempo, gerando grande sofrimento para as suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko (chefe de grupo) e os meninos por Ìyájanjasa (a mãe que bate e corre). A permanência dos Àbíkú ou Emere é condicionada a um pacto que fazem na vinda do Òrún para o Aiye (a Terra) com Onibode Òrún, o porteiro do Céu. Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Àbíkú, uma criança cujo acordo foi não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente. Quando uma criança Àbíkú nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Òrún, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Òrún e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto. Várias histórias de Àbíkú nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos òdú Odi, Obara, Ejiogbe, Irete-Irosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros (Tradição oral).
IWORI-WOSA
O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar
Não se pode permitir que sua intenção se concretize
Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane)
Que estava vindo do Céu para a Terra
Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte? Carneiro
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença? Carneiro
EJIOGBE
O olho da agulha não goteja pus
No banheiro não se põe uma canoa a navegar
Ifá foi consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria morrer logo na flor da idade
O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos. Eles voltariam ao Òrún quando:
Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;
Casassem;
Completassem sete dias de vida;
Tivessem novo irmão;
Construíssem uma casa;
Começassem a andar.
E nenhum queria aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam insuficientes para retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem. Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinou entre si também roupas, rituais, chapéus e turbantes, tingidos de Òsún que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e que, se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas, poderiam segurá-las na Terra. As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú, em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para alegrar os Àbíkú, que seriam untados com Òsún, e não voltariam mais ao Òrun, rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú. Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebo determinados por Òrúnmìlà, trocando ou acrescentando um nome que os desanimassem de morrer novamente, usando folhas sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú, colocando em seus tornozelos Sawoor, fazendo em seus corpos pequenas incisões, e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado Óndè que seria preso à cintura da criança.
Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como recomendavam os Itan Ifá – troncos de bananeira, cabras, galos, pombos, roupas e chapéus tingidos com Òsún, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, a serem entregues no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas águas. Estes Ebo possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam mais. Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e Iyajanjasa insistissem em vir a Terra em busca de suas crianças, e conseguisse levá-las de volta ao Òrún, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrún não os reconhecessem ou aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem a Terra e não quereriam mais nascer.
Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Bàbáláwo e descobre estar dando a luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais. O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebo, o uso de folhas, procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher estiverem mortos, e para que ela possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun, mantendo-a viva. Até que a criança complete nove anos, sempre próximo a data do aniversário, determinada oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos. A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule sua volta ao Òrún. Guizos em quantidade devem ser presos os seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso, pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu. A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás, pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la. As folhas são usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida. O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não atraia uma nova criança Àbíkú. Se a mãe tiver também problemas com Egbe, chamada Eleeriko, uma deusa considerada o feminino de Egungun, que atormenta as crianças, marcando-lhes o corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbe, entregando-lhe cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia.
Também um altar com símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas com sacrifícios de animais, tambores e dança. Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbe que também pode dar filhos às mães que a louvam. Há alguns Òrìkí de Egbe que demonstram bem esta ligação. Este que damos a seguir é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbe envie crianças sadias que não sejam Àbíkú ou Emere.
Mãe, proteja-me, eu irei ao rio
Não permita Emere seguir-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa
Olugbon morrei e deixou filhos atrás dele
Arega morreu e deixou filhos atrás dele
Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele
Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim
Eu não poderei morrer de mãos vazias, sem descendentes.
No Brasil, porém, o termo Àbíkú, dito “Abikum” tem significado totalmente diverso. A mãe que entra grávida para o processo de iniciação dá a luz a uma criança que já nasce “feita pronta”, sem necessidade da tonsura ritual. Quando esta criança completa sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsá, sua cabeça é recoberta por uma cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança “Abikum” o sangue não deve correr. Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsá, a elas está vetada a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de “feita sem ter sido raspada”, e é tido com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la. Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas determinadas são “Abikum”. E, sendo assim, pais e mães ambiciosos, programam seus filhos para que nasçam nestes dias, e até mesmo operações cesarianas são realizadas, para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento apropriadas para “Abikum”. O modo de encarar a pessoa “Abikum” muda de casa para casa, podendo ser acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação. Os pais e mães de Santos brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser realizado dentro da problemática Àbíkú. Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa têm a mesma crença nos Àbíkú, embora dêem a eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama. Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.
Famílias que já perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e uma explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsá e do Candomblé Ketú, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o sofrimento dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra. Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia nº. 14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual farei citações literais mais adiante. Outros autores africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em considerações superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro. O fato de não possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de Awaiye, não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das famílias das crianças Àbíkú.
Tomando por base as recomendações do Itan Ifá, um Ebo poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira, roupas e gorros tingidos de Òsún e bordados de guizos e búzios, pratos com comidas [Iyan; Akara; Ekuru; Eko; Doces; Canjica; Frutas; Mel; Guizos; Bebidas; Animais; Cabra; Pombo; Galo; Folhas]. As roupas serão colocadas nos galhos das árvores, as comidas e oferendas ao redor no chão, ou monta-se um carrego como para a morte, embrulhado em pano branco, que será enterrado ou solto nas águas de um rio. Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebo. Nada, porém dever ser feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas. As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para fazer fricções no corpo, ou na feitura de pos mágicos que serão esfregados nas incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para banhos rituais. Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu poder de atuação no Ebo. Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger:
Ewé Abirikolo, insinu Òrún e pehinda.
(Folhas de Abirikolo, coveiro do Céu, voltai)
Ewé Agidimagbayin, Òlòrún maa ti kun, a ku mo
(Folha de Agidimagbayin, Òlòrún fecha a porta do Céu para que não morramos mais)
Ewé Idi l’ori ki ona Òrun temi odi (Folha de Idi, dizei que o caminho do Céu está fechado para mim)
Ewé Ija Agbonrin (Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu)
Ewé Lara Pupa ni Òsún a won Àbíkú
(A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú)
Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú omo
(Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú)
Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni, nwon ba ri Opa Emere
(Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere).
As crianças Àbíkú devem, no sétimo dia a partir do nascimento, se forem meninas, ou no nono dia, se forem meninos (se for o caso de gêmeos, o dia certo é o oitavo) passar pelo ritual de Ikomojade , quando recebem um nome específico que desestimule sua volta ao Òrun. Nesta cerimônia são usada água, dendê, sal, mel, obì, peixe, gin, atare.
NOMES ÀBÍKÚ
Omolabake – Esta é uma criança que eu mimarei.
Kujore – Deus poupou este aqui.
Siwoku – Pare de morrer. Tire as mãos da morte.
Kalejaye – Sente-se e goze a vida.
Omotunde – A criança voltou.
Maku – Não morra.
Kikelomo – Crianças são feitas para serem mimadas.
Moloko – Não tem mais enxada para enterrar.
Ayedun – A vida é doce.
Os nomes Àbíkú negam a morte e contam a doçura e a alegria da vida. Contam também como a Terra é bela e boa para se viver. Deve-se sempre chamar a criança por este nome, que pode ser incorporado oficialmente ou não aos seus outros nomes e sobrenomes. Isto também ajuda no rompimento do vínculo com o Egbe Òrún Àbíkú. Como a descoberta do pacto é algo difícil, sempre próximo ao dia do aniversário da criança, até que esta complete 19 anos ou pelo prazo que o Ifá determinar, deve ser feitas oferendas nos locais sacralizados, acompanhadas ou não de Ebo a Egbe Eleriko. Para Òrìsá Egbe se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos; Akasa; Iyan; Akara; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces – em um número de 01 ou 06. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num rio, com acompanhamento de rezas e cantigas.
REZA (DE IBADAN)
Egbe a afável mãe, aquela que é apoio suficiente para aqueles que a cultuam.
Aquela que veste veludo, a elegante que come Cana-de-açúcar na estrada de Oyó.
Aquela que gasta muito dinheiro em óleo de palma.
Aquela que está sempre fresca e tem fartura de óleo com o qual ela realiza maravilhas.
Aquela que tem dinheiro para o luxo, a linda.
Aquela que sucumbe a seu marido como a uma pesada clave de ferro.
Aquela que tem dinheiro para comprar quando as coisas estão caras.
CANTIGA (DE LALUPON) Por favor, use um Oja, o Oja é usado para atar as crianças em nossas costas.
Eu posso cultuá-la todo o quinto dia.
A Mãe Egbe que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias.
Os Àbíkú não são, como querem certos autores ou sacerdotes, seres maléficos, que tem por “missão” causar sofrimento às suas mães. Eles carregam consigo, por causa de seu constante morrer/renascer, o peso de Iku, a morte, e são seres divididos entre a vontade de ficar na Terra com suas famílias e o desejo e a obrigação de retornar ao Egbe Òrun. O Bàbálorìsá ou Yàlorìsá tem verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto é crer que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas que isso não é verdade, por quaisquer meios. Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo tempo soluções adequadas, que se citem casos e exemplos, naturalmente sem falar em nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que oferendas “podem” reter o Àbíkú na Terra, se feitas corretamente, mas antes que tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsá é de grande valia. Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz crianças normais.
Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos “nunca” devem ser abandonados. Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação com o tratamento espiritual. Os pais não devem considerar isso com castigo, karma, feitiço ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento. Para isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus argumentos. Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus filhos. Se formos analisar profundamente, neste texto chegaremos a uma conclusão o culto foi criado devido à dor da separação isso é nítido em todos os òrìkís e odúras (rezas e orações) se não pararmos os genocídios ainda teremos muito a aprender e se não conseguirmos mostrará que nada aprendemos com a historia, pois na verdade se criou os Àbíkús devido a morte em massa de crianças e mães em guerras africanas pelos diferentes entendimentos étnicos, bem é notório o desespero de algumas mães, a busca desesperada de seu filhos e também existem alguns Àbíkús que são aqueles abortos ou aquelas crianças indesejadas ou mesmo criança de estrupos o que nasceram pelo ódio pela perversidade.
O culto aos Àbíkús vem mostra algo que deve se mudar, mas que até o momento só tem piorado, hoje crianças respiram o emi (sopro divino) e morrem em seguida, e algumas pessoas acham que estes viraram Àbikú existem vários espíritos entre eles os bons e os ruins aqueles que apenas respiram a vida, e outros que viveram até seus 07 anos de idade e outros que não completaram a gestação, cada um destes tem um motivo para se apresentar a terra, ou naquela família, obs. devemos refletir sobre todos os pontos de vista sobre Àbikú, mas devemos primeiramente não criar fantasia sobre um assunto tão importante na vida de pessoas que perderam ou que desejam ter seus Bebes em suas mãos. Quanto a iniciação de Àbikú deixo bem claro que esta possibilidade é quase impossível, pois vejam bem: se orixá é fonte de energia da natureza deste mundo dos vivos,porque razão faríamos uma alma Àbíkú como Òrìsá?
Outro ponto importante, se Òrìsá é luminosidade com certeza ele tem as formas de parar o Àbíkú, se não o culto esta dentro de eguns não de Òrìsás lembrando que Òrì-sás significa cabeças de luz. O Àbìasé é outra coisa muito diferente de Àbíkú, Àbìasé seria um ancestral, um selador de Òrìsá que não cumpriu seu Rumgêbre na terra dos vivos então seu Òrìsá vem em outra pessoa mais jovem para assim continuar com seus feitos. Podemos chamar de Àbìasé um wáo que nasce num barracão e perde seu zelador de Òrìsá ele pode ser escolhido para ser o Àbìasé da casa, ou seja, ele é o herdeiro, pode acontecer também que 07 anos antes da morte do sacerdote o Òrìsá escolha seu sucessor neste caso ele não é Àbìasé ele é o que herdará todos os segredos da casa por ter uma dinastia dentro do Òrìsá do sacerdote que lhe iniciou. Espero te tirado alguma duvida e me coloca a disposição, não para esclarecer, mas sim para que juntos podemos encontrar uma forma de melhor servir ao Òrún (céu) e assim termos mais paz aqui no mundo dos vivos!
Sucessivos abortos numa mesma mulher, partos seguidos da morte da criança recém nascida, morte de crianças ou jovens, repentinas e associadas a estágios significativos de vida, tais como mudanças nas fases de crescimento, aniversários, casamento ou nascimento do primeiro filho, são identificadas como acontecimentos ligados aos Àbíkú.
O que é “Àbíkú”?
A tradução literal “nascido para morrer” (a bi ku) ou “o parimos e ele morreu” (a bi o ku), designando crianças ou jovens que morrem antes de seus pais. Há, assim, dois tipos de Àbíkú: o primeiro, Àbíkú – Omode, designando crianças e o segundo, Àbíkú – Agba, referindo-se a jovens ou adultos que morrem, via de regras, em momentos significativos de suas vidas e sempre antes dos pais, apresentando nisso uma alteração da ordem natural que socialmente é aceita e entendida como: aqueles que chegaram ao Aiyé (mundo físico) primeiro voltam primeiro ao Orún (mundo espiritual). Nessa questão, além da lógica natural, está presente a garantia da continuidade no Aiyé e a certeza da lembrança e do culto ao ancestral que deixa descendentes que recontarão sua história ao longo dos tempos, garantindo sua “sobrevivência” na comunidade.
No Orún vive um grupo de crianças chamadas Emere ou Elegbe e este grupo constitui o Egbe Orún Àbíkú, ou seja, sociedade das crianças que nascem para morrer. Contam os mitos que a primeira vez que os Àbíkú vieram para a terra foi em Awaiye e constituíam um grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, chefe deles no Orún. Na encruzilhada que une o Orún ao Aiyé, ikorita meta, todos pararam e vários pactos foram feitos, definindo o momento particular do retorno de cada um ao Orún.
Alguns voltariam quando vissem pela primeira vez o rosto da mãe, outros quando casasse, um terceiro grupo voltaria quando completasse determinado tempo de vida, um quarto grupo voltaria quando tivessem o primeiro filho, e assim por diante. E o carinho dos pais, o amor que recebessem ou os presentes não seriam capazes de retê-los no Aiyé. Alguns assumiram o compromisso de que nem nasceriam. Esse pacto deveria ser cumprido e os seus companheiros no Orún manterem-se presentes na sua vida, interagindo no seu dia a dia, para que não o esquecessem e retornassem ao Orún tão logo o momento pactuado ocorresse.
Como chega a ocorrer o nascimento ou a manifestação de um Àbíkú em uma gravidez? O Yorùbá acredita que a ação do Àbíkú ocorre por determinação do destino da mãe, ou por força de magia/feitiçaria, ou por condições acidentais. A Drª. Rita de Cássia, em suas pesquisas “Ayedungbe: a terra é doce para nela se viver – rito na luta contra a morte de Àbíkú”, definem essas condições acidentais como “aquisição inadvertida de um Àbíkú por uma mulher grávida que não tenha tomado os necessários cuidados para evitar isso”.
Existe a crença de que uma mulher grávida, ao passar por determinados locais em que os Àbíkú se estabelecem se não estiver devidamente protegida, pode ver-se invadida por este “espírito” e tornar-se sujeita à gravidez de um Àbíkú. Por isso cuidados especiais são tomados pelas mulheres tão logo tenham consciência do estado de gravidez. Não é raro que mulheres grávidas carreguem junto à barriga um “ota”, devidamente preparado, para evitar essa “invasão” por parte de um Elegbe. Sacrifícios, oferendas e rezas são feitas também com o objetivo de evitar que uma mulher tenha filhos Àbíkú ou que, grávida, venha a ser “invadida” por um deles.
Deixando de lado condições acidentais ou efeito de magia/feitiçaria, temos observado que a ocorrência de Àbíkú numa mãe invariavelmente repete uma história familiar que podemos reconhecer procurando os seus antecedentes. Ou seja, podemos procurar nos antecedentes familiares da mãe para constatar, invariavelmente, que este Àbíkú vem se fazendo presente na família, geração após geração, em linha direta ou não.
Outra questão interessante é que podemos afirmar com grande precisão que alguns Odú de nascimento predispõem a ocorrência de Elegbe. Assim, temos que mulheres regidas pelo Odú Ogundabede (Ogunda + Ogbe) são naturalmente predispostas a gerarem filhos Àbíkú e, identificadas, quando ainda não são mães, certas oferendas são realizadas e alimentos são-lhes dados para prevenir a ocorrência. Ebó igualmente é feito nas situações em que já geraram filhos ou planejam gerar – um preá é colocado acima da porta de entrada da casa e um peixe acima da porta de trás, para proteger os moradores da visita dos Elegbe que ali vêm em busca de seus companheiros.
Neste caso, deixam de ter acesso ao interior da casa e levarão, no lugar da pessoa a que vieram buscar, o preá e o peixe. Um Orin Egbe, cantiga dedicada a Aragbo ou Ere Igbo, Òrìsá protetor das crianças Àbíkú, fala-nos desse Ebó. Entendemos, assim, que Egbe é cultuado e louvado com a finalidade de defender as crianças da morte prematura e oferendas lhe são feitas para que “desistam” de levar os Àbíkú de volta para o Orún, sendo um de seus objetivos a questão da manutenção dessas crianças no Aiyé. Segundo a Profª. Dra, Rita de Cássia na obra já citada, “… Estabelece-se assim um jogo de forças entre Aragbo e a comunidade de Àbíkú que deseja levar seus membros do Aiyé, mundo físico, para o Òrún, mundo dos mortos, mundo espiritual.
“Cultos e oferendas são realizados tanto para que a comunidade de Àbíkú abra mão de levá-los de volta, como para que Ere igbo os proteja de serem reconduzidos à terra espiritual.” Todas as pessoas nascidas dentro do Odú Ogundabede, homens e mulheres, devem cultuar Egbe. Entende-se também que quem o cultua evoca as suas bênçãos em benefício das crianças do núcleo familiar. Aliás, o culto de Egbe e suas festas trazem muita semelhança com as festas e o culto que se fazem para “Cosme e Damião” e que são, muitas vezes, confundidas com o culto do Òrìsá Ibedjí. Este Òrìsá e Egbe (ou Aragbo) são de distintas naturezas, justificam abordagens e tratamentos diferenciados, têm formas particulares de serem louvados, são cultuados por diferentes razões e necessidades, e os seus cultos não podem ser confundidos sob pena de incorrermos em erro de fundamento.
Por último, dois aspectos são importantes de serem nomeados: o primeiro, diz respeito ao que podemos chamar de comportamento peculiar da criança Àbíkú. São, certamente, crianças que se distinguem por este aspecto. Segundo, a resistência, na nossa cultura, que os pais têm em aceitar o foto de terem um filho Àbíkú e a dificuldade conseqüente em lidar com esta criança e todas as necessidades decorrentes da luta pela sua permanência no Aiyé. Cabe aí um importante papel para o sacerdote que pode ajudá-los a compreender a questão, dar-lhes orientação e acompanhamento durante todo o processo.
O termo Àbíkú não se pontua apenas a aqueles que nascem para morrer, como determina o conceito Yorùbá, pois sendo assim todos nós seríamos Àbíkús. Costumo dizer, para exemplificar, que Àbíkú tem qualidade, ou seja, existem vários tipos de Àbíkú e formas de atuação e agregação, numa mesma concepção. Pode-se cuidar de uma criança Àbíkú, fazendo-a conviver normalmente entre os seus fazendo oferendas, ebós, tratamento do Orí que são capazes de reter no mundo o Àbíkú e de, lhe fazer esquecer sua promessa de volta, rompendo assim o ciclo de idas e vindas constantes entre o Òrún e o Aiye, fazendo pactos também.
Os Àbíkú têm influência na família, são poderosos manipuladores, videntes, espíritos envelhecidos, atitudes de adulto, etc. A energia de um Àbíkú pode rondar uma gravidez, muitos rompimentos e perda de bebê estão relacionados, porém, não se pode confundir falta de cuidados e tratamento adequado na gravidez com Àbíkú. Quando o zelador observa através do jogo a presença de Àbíkú, o tratamento começa no ventre da mãe com as obrigações necessárias e ebós, através de Òsún, Orí, Èsu, Egungun, Òsàlá.
Existem também os Òrìsás Àbíkú Òsàlá e Nanã, pois regem a vida e a morte nos dois planos de vida e energia, sendo assim, todas as pessoas de Òsàlá e Nanã seriam Àbíkús inclusive a própria iniciação os diferencia como especiais. Mas, independentes disso, outras pessoas de qualquer outro Òrìsá pode ser da família Àbíkú, a família Kóreo.
Um conceito interessante, que vale uma reflexão é que: uma pessoa pode introduzir em sua vida o espírito Àbíkú, quando antecipa os seus ciclos naturais em função da ambição ou opções de vida. Isto a levará a tornar-se um Àbíkú, pois certamente terá a data da sua morte antecipada. Àbíkú é muito mais do que se pode imaginar, sem dúvida alguma, há conceitos, preceitos, ewós, etc, e deve ser tratado simultaneamente no mundo visível e invisível.
Àbíkú – a palavra já diz tudo: A = Nós; Bi = Nascer; Ku = Morrer (Nós nascemos para morrer)
No Òrún; um mundo paralelo que nos rodeia, onde vive os Deuses e Antepassados, palavra facilmente traduzível por Céu; mora um grupo de crianças chamado Egbe Òrún u Àbíkú – as crianças que nascem para morrer em curto espaço de tempo, gerando grande sofrimento para as suas famílias. As meninas são chefiadas por Oloiko (chefe de grupo) e os meninos por Ìyájanjasa (a mãe que bate e corre). A permanência dos Àbíkú ou Emere é condicionada a um pacto que fazem na vinda do Òrún para o Aiye (a Terra) com Onibode Òrún, o porteiro do Céu. Este pacto é cumprido rigorosamente pelos Àbíkú, uma criança cujo acordo foi não nascer, realmente não nascerá; outra que combine voltar quando romper seu primeiro dente terá morte súbita, por acidente ou por doença, horas ou dias após o aparecimento deste dente. Quando uma criança Àbíkú nasce, seu par, aquele seu companheiro mais chegado no Òrún, começará a interferir em sua vida, atormentando-a, aparecendo-lhe em sonhos, a fim de que não se esqueça de seus amigos do Òrún e rapidamente volte para eles, assim que houver cumprido o seu pacto. Várias histórias de Àbíkú nos são relatadas nos Itan Ifá, pelos òdú Odi, Obara, Ejiogbe, Irete-Irosun, Otura-Rete, Iwori-Wosa entre outros (Tradição oral).
IWORI-WOSA
O dia que uma criança dá o aviso que vai se suicidar
Não se pode permitir que sua intenção se concretize
Ifá foi consultado para Matanmi (não me engane)
Que estava vindo do Céu para a Terra
Ele foi avisado que deveria fazer sacrifício
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Morte? Carneiro
O que devemos sacrificar para não sermos enganados pela Doença? Carneiro
EJIOGBE
O olho da agulha não goteja pus
No banheiro não se põe uma canoa a navegar
Ifá foi consultado para Òrúnmìlà
Quando ele fazia um pacto com Emere (Àbíkú)
Um pacto fora feito com Emere (Àbíkú)
Ele não iria morrer logo na flor da idade
O caso do Emere (Àbíkú) agora fica seguro com Ifá
A primeira vez que os Àbíkú vieram para a Terra foi em Awaiye, rei de Awaiye, num grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, rei de Awaiye e chefe deles no Òrun. Na vinda para a Terra, todos pararam no portal do Céu e vários pactos foram feitos. Eles voltariam ao Òrún quando:
Vissem pela primeira vez o rosto de sua mãe;
Casassem;
Completassem sete dias de vida;
Tivessem novo irmão;
Construíssem uma casa;
Começassem a andar.
E nenhum queria aceitar o amor de seus pais, e os presentes e mimos seriam insuficientes para retê-los na Terra, e talvez alguns absolutamente não nascessem. Esta primeira leva de crianças Àbíkú combinou entre si também roupas, rituais, chapéus e turbantes, tingidos de Òsún que teriam valor simbólico de 1.400 búzios e que, se seus pais adivinhassem estas roupas e dessem-nas como oferendas, poderiam segurá-las na Terra. As roupas seriam colocadas penduradas nas árvores do Bosque Sagrado dos Àbíkú, em Awaiye, e seus pais fariam anualmente uma festa, com tambores e cantigas, para alegrar os Àbíkú, que seriam untados com Òsún, e não voltariam mais ao Òrun, rompendo assim o pacto feito, e seu vínculo com o Egbe Òrun Àbíkú. Outras histórias são contadas por Òrúnmìlà sobre crianças que, depois de várias idas e vindas entre o Céu e a Terra, puderam ser conservadas vivas, devido a seus pais terem consultado Ifá e feito os Ebo determinados por Òrúnmìlà, trocando ou acrescentando um nome que os desanimassem de morrer novamente, usando folhas sagradas em fricções nos seus corpinhos, para afastar os outros companheiros Àbíkú, colocando em seus tornozelos Sawoor, fazendo em seus corpos pequenas incisões, e através delas inserindo pó preto e mágico de uma mistura de folhas, e com este mesmo pó enchendo um amuleto de couro em forma de pequeno saco, chamado Óndè que seria preso à cintura da criança.
Alguns Àbíkú também deveriam colocar em seus tornozelos pesadas argolas e correntes que não os deixariam fugir para o Òrun. As oferendas eram feitas como recomendavam os Itan Ifá – troncos de bananeira, cabras, galos, pombos, roupas e chapéus tingidos com Òsún, alimentos, guizos, búzios, doces, bebidas, a serem entregues no Bosque Sagrado, ou enterrados à margem de um rio, ou soltas nas águas. Estes Ebo possibilitariam aos pais reter seus filhos na Terra, e eles não morreriam mais. Porém, se apesar das oferendas, os chefes das Comunidades Àbíkú, Oloiko e Iyajanjasa insistissem em vir a Terra em busca de suas crianças, e conseguisse levá-las de volta ao Òrún, os pais deveriam marcar seus corpos com cortes, ou mesmo mutilá-los ou queimá-los, para que seus pares no Òrún não os reconhecessem ou aceitassem de volta. Também pelas marcas seriam reconhecidas quando voltassem a Terra e não quereriam mais nascer.
Nas terras de ancestralidade Yorùbá, uma mãe que perde vários filhos antes ou depois do nascimento, por morte brusca, súbita ou inexplicável, procura um Bàbáláwo e descobre estar dando a luz a uma criança Àbíkú, que pode nascer e morrer inúmeras vezes impedindo-a também de ter filhos normais. O Bàbáláwo indica a necessidade de Ebo, o uso de folhas, procedimentos estes usados para afastar o Àbíkú, se os filhos da mulher estiverem mortos, e para que ela possa gerar crianças perfeitas. Ou para reter a criança na Terra e romper seu vínculo com o Òrun, mantendo-a viva. Até que a criança complete nove anos, sempre próximo a data do aniversário, determinada oferendas serão feitas e depois repetidas até o Àbíkú completar dezenove anos. A criança deverá usar roupas especiais, com enfeites e cores específicas, seu nome deve ser mudado ou a ele acrescentado outro, que desestimule sua volta ao Òrún. Guizos em quantidade devem ser presos os seus brinquedos, roupas, tornozelos, pulso, pois o som dos guizos faz bem ao Àbíkú e afasta os amigos do Céu. A fava Éerù, no Brasil chamada Bejerekun, deve ser usada em banhos e chás, pacificando a criança, Efun também pode ser utilizado para acalmá-la. As folhas são usadas em fricções ou banhos, e com elas é feita a mistura mágica com a qual se protege a criança e se prepara o amuleto, que o Àbíkú carregará por toda a sua vida. O corpo da mãe também deve ser defendido e esfregado com folhas, para que ela não atraia uma nova criança Àbíkú. Se a mãe tiver também problemas com Egbe, chamada Eleeriko, uma deusa considerada o feminino de Egungun, que atormenta as crianças, marcando-lhes o corpo durante a noite, ela será avisada de que deve zelar por Egbe, entregando-lhe cabaças com oferendas no rio, e louvando-a a cada quinto dia.
Também um altar com símbolos religiosos poderá ser instalado na casa, e anualmente serão feitas festas com sacrifícios de animais, tambores e dança. Nem toda criança Àbíkú é atormentada por Egbe que também pode dar filhos às mães que a louvam. Há alguns Òrìkí de Egbe que demonstram bem esta ligação. Este que damos a seguir é de Ibadan, e é uma súplica para que Egbe envie crianças sadias que não sejam Àbíkú ou Emere.
Mãe, proteja-me, eu irei ao rio
Não permita Emere seguir-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança amaldiçoada siga-me em casa
Mãe proteja-me, eu irei ao rio
Não permita que uma criança estúpida siga-me em casa
Olugbon morrei e deixou filhos atrás dele
Arega morreu e deixou filhos atrás dele
Olukoyi morreu e deixou filhos atrás dele
Eu não poderei morrer sem deixar filhos atrás de mim
Eu não poderei morrer de mãos vazias, sem descendentes.
No Brasil, porém, o termo Àbíkú, dito “Abikum” tem significado totalmente diverso. A mãe que entra grávida para o processo de iniciação dá a luz a uma criança que já nasce “feita pronta”, sem necessidade da tonsura ritual. Quando esta criança completa sete anos, sacrifícios são feitos para seu Òrìsá, sua cabeça é recoberta por uma cabaça antes que o sangue seja derramado, pois sobre a cabeça de uma criança “Abikum” o sangue não deve correr. Esta criança nunca estará sujeita a um transe de possessão por um Òrìsá, a elas está vetada a maioria dos cargos dentro da hierarquia sacerdotal brasileira. Ao mesmo tempo, ela já nasce com um posto honorífico, o de “feita sem ter sido raspada”, e é tido com certo que nenhum mal físico ou espiritual poderá atingi-la. Dizem também alguns sacerdotes que as crianças que nascem em datas determinadas são “Abikum”. E, sendo assim, pais e mães ambiciosos, programam seus filhos para que nasçam nestes dias, e até mesmo operações cesarianas são realizadas, para adequar a chegada ao mundo das crianças às datas de nascimento apropriadas para “Abikum”. O modo de encarar a pessoa “Abikum” muda de casa para casa, podendo ser acrescentados ou eliminados detalhes dessa explanação. Os pais e mães de Santos brasileiros deveriam reavaliar seu conceito sobre crianças Àbíkú, uma vez que estes nascimentos ocorrem não só na terra Yorùbá, elas nascem em todo o mundo e no Brasil também. É imperioso também que se instruam sobre todo o ritual sacro a ser realizado dentro da problemática Àbíkú. Vários povos ao redor do Golfo de Guinéa têm a mesma crença nos Àbíkú, embora dêem a eles nomes diferentes. Os Nupe chamam-nos de Kuchi ou Gaya-Kpeama. Entre os Ibo, são chamados Ogbanje ou Eze-Nwanyi ou Agwu ou ainda Iyi-Uwa Ogbanje. Já os Haussa chamam-nos Danwabi ou kyauta. Os Akan denominam a mãe de um Àbíkú Awomawu e entre os Fanti são conhecidos por Kossamah.
Famílias que já perderam um ou mais filhos, tendem a buscar na religião um consolo e uma explicação para estas mortes, e é dever da Tradição de Òrìsá e do Candomblé Ketú, estar apta para oferecer, além de um amparo religioso que diminua o sofrimento dos pais, uma solução para que tal tragédia não mais ocorra. Temos muita pouca literatura em português sobre o assunto, talvez apenas a tradução de um excelente artigo de Pierre Verger, publicado em 1983 na Revistas Afro-Asia nº. 14, com uma explanação ampla sobre Itan Ifá, Oruko Àbíkú, folhas e Ofo do qual farei citações literais mais adiante. Outros autores africanos, franceses e ingleses falam sobre o assunto, em considerações superficiais ou profundas, mas suas publicações não estão disponíveis para a quase totalidade do sacerdócio brasileiro. O fato de não possuirmos no Brasil local determinado, como a Floresta Àbíkú de Awaiye, não nos impede de sacralizar parte de um bosque para receber as oferendas das famílias das crianças Àbíkú.
Tomando por base as recomendações do Itan Ifá, um Ebo poderá ser montado com um pedaço de tronco de bananeira, roupas e gorros tingidos de Òsún e bordados de guizos e búzios, pratos com comidas [Iyan; Akara; Ekuru; Eko; Doces; Canjica; Frutas; Mel; Guizos; Bebidas; Animais; Cabra; Pombo; Galo; Folhas]. As roupas serão colocadas nos galhos das árvores, as comidas e oferendas ao redor no chão, ou monta-se um carrego como para a morte, embrulhado em pano branco, que será enterrado ou solto nas águas de um rio. Não é necessário o uso de palavras, pois só o fato dos pais saberem qual o significado da oferenda secreta é suficiente para dar força mágica ao Ebo. Nada, porém dever ser feito sem confirmação e autorização de Òrúnmìlà, pois só a ele cabe nos orientar em nossas dificuldades e dúvidas. As folhas são colhidas como oferenda e utilizadas para fazer fricções no corpo, ou na feitura de pos mágicos que serão esfregados nas incisões no corpo e rosto dos Àbíkú, e na confecção de amuletos (Onde) ou para banhos rituais. Cada folha tem sua frase mágica, chamada Ofo, que aumenta seu poder de atuação no Ebo. Cito aqui textualmente os Ofo escritos por Pierre Verger:
Ewé Abirikolo, insinu Òrún e pehinda.
(Folhas de Abirikolo, coveiro do Céu, voltai)
Ewé Agidimagbayin, Òlòrún maa ti kun, a ku mo
(Folha de Agidimagbayin, Òlòrún fecha a porta do Céu para que não morramos mais)
Ewé Idi l’ori ki ona Òrun temi odi (Folha de Idi, dizei que o caminho do Céu está fechado para mim)
Ewé Ija Agbonrin (Não ande pelo longo caminho que conduz ao Céu)
Ewé Lara Pupa ni Òsún a won Àbíkú
(A Folha de Lara Vermelha é o cânhamo dos Àbíkú)
Olubotuje ma je ki mi bi Àbíkú omo
(Olubotuje não me deixe parir filhos Àbíkú)
Opa Emere ki pe ti fi ku, yio maa eu ni, nwon ni, nwon ba ri Opa Emere
(Vara de Emere não os deixe morrer, isto lhes agrada, ver a Vara de Emere).
As crianças Àbíkú devem, no sétimo dia a partir do nascimento, se forem meninas, ou no nono dia, se forem meninos (se for o caso de gêmeos, o dia certo é o oitavo) passar pelo ritual de Ikomojade , quando recebem um nome específico que desestimule sua volta ao Òrun. Nesta cerimônia são usada água, dendê, sal, mel, obì, peixe, gin, atare.
NOMES ÀBÍKÚ
Omolabake – Esta é uma criança que eu mimarei.
Kujore – Deus poupou este aqui.
Siwoku – Pare de morrer. Tire as mãos da morte.
Kalejaye – Sente-se e goze a vida.
Omotunde – A criança voltou.
Maku – Não morra.
Kikelomo – Crianças são feitas para serem mimadas.
Moloko – Não tem mais enxada para enterrar.
Ayedun – A vida é doce.
Os nomes Àbíkú negam a morte e contam a doçura e a alegria da vida. Contam também como a Terra é bela e boa para se viver. Deve-se sempre chamar a criança por este nome, que pode ser incorporado oficialmente ou não aos seus outros nomes e sobrenomes. Isto também ajuda no rompimento do vínculo com o Egbe Òrún Àbíkú. Como a descoberta do pacto é algo difícil, sempre próximo ao dia do aniversário da criança, até que esta complete 19 anos ou pelo prazo que o Ifá determinar, deve ser feitas oferendas nos locais sacralizados, acompanhadas ou não de Ebo a Egbe Eleriko. Para Òrìsá Egbe se colocam, em uma grande cabaça, os seguintes elementos: Ovos; Akasa; Iyan; Akara; Eba; cana-de-açúcar; Obi; Éerù, Ekodide; Bananas; Àádun; Doces – em um número de 01 ou 06. Esta cabaça é fechada, colocada em um saco e solta num rio, com acompanhamento de rezas e cantigas.
REZA (DE IBADAN)
Egbe a afável mãe, aquela que é apoio suficiente para aqueles que a cultuam.
Aquela que veste veludo, a elegante que come Cana-de-açúcar na estrada de Oyó.
Aquela que gasta muito dinheiro em óleo de palma.
Aquela que está sempre fresca e tem fartura de óleo com o qual ela realiza maravilhas.
Aquela que tem dinheiro para o luxo, a linda.
Aquela que sucumbe a seu marido como a uma pesada clave de ferro.
Aquela que tem dinheiro para comprar quando as coisas estão caras.
CANTIGA (DE LALUPON) Por favor, use um Oja, o Oja é usado para atar as crianças em nossas costas.
Eu posso cultuá-la todo o quinto dia.
A Mãe Egbe que mora entre as plantas.
Dê-me meus próprios filhos.
Eu posso cultuá-la a cada cinco dias.
Os Àbíkú não são, como querem certos autores ou sacerdotes, seres maléficos, que tem por “missão” causar sofrimento às suas mães. Eles carregam consigo, por causa de seu constante morrer/renascer, o peso de Iku, a morte, e são seres divididos entre a vontade de ficar na Terra com suas famílias e o desejo e a obrigação de retornar ao Egbe Òrun. O Bàbálorìsá ou Yàlorìsá tem verificado que uma criança é Àbíkú, deve estar preparado para contornar a natural reação dos familiares, de medo, susto, repulsa e mesmo horror, porque a primeira impressão de pais não habituados ao assunto é crer que o sacerdote coloca seu filho em uma classificação espiritual de maldade e perversão. Também o risco iminente de uma morte súbita apavora a família que tende a reagir com agressividade ou incredulidade, e quer garantias infalíveis e imediatas que isso não é verdade, por quaisquer meios. Portanto, é necessário que se explique aos pais o problema, e que se dê ao mesmo tempo soluções adequadas, que se citem casos e exemplos, naturalmente sem falar em nomes ou detalhes desnecessários, a fim de que os familiares concordem em ser totalmente esclarecidos e orientados para uma solução definitiva. Explicar também que oferendas “podem” reter o Àbíkú na Terra, se feitas corretamente, mas antes que tenha sido o pacto identificado e rompido, a oração e a crença profunda nos Òrìsá é de grande valia. Mães que já tenham perdido filhos Àbíkú devem ser avisadas da necessidade de oferendas para que o Àbíkú não volte a nascer de seus corpos e elas possam dar à luz crianças normais.
Por vezes o nascer e morrer inúmeras vezes de uma criança pode abalar física e psiquicamente a Mãe e recursos médicos e terapêuticos “nunca” devem ser abandonados. Pelo contrário, sua utilização deve ser incentivada, em combinação com o tratamento espiritual. Os pais não devem considerar isso com castigo, karma, feitiço ou outras explicações engendradas pela falta de conhecimento. Para isso o sacerdote deverá esclarecê-los e pacificá-los com a solidez e peso de seus argumentos. Assim, no Brasil, como nos países Yorùbá, a problemática Àbíkú será contornada e menos pais serão vítimas de sofrimento causado pela morte de seus filhos. Se formos analisar profundamente, neste texto chegaremos a uma conclusão o culto foi criado devido à dor da separação isso é nítido em todos os òrìkís e odúras (rezas e orações) se não pararmos os genocídios ainda teremos muito a aprender e se não conseguirmos mostrará que nada aprendemos com a historia, pois na verdade se criou os Àbíkús devido a morte em massa de crianças e mães em guerras africanas pelos diferentes entendimentos étnicos, bem é notório o desespero de algumas mães, a busca desesperada de seu filhos e também existem alguns Àbíkús que são aqueles abortos ou aquelas crianças indesejadas ou mesmo criança de estrupos o que nasceram pelo ódio pela perversidade.
O culto aos Àbíkús vem mostra algo que deve se mudar, mas que até o momento só tem piorado, hoje crianças respiram o emi (sopro divino) e morrem em seguida, e algumas pessoas acham que estes viraram Àbikú existem vários espíritos entre eles os bons e os ruins aqueles que apenas respiram a vida, e outros que viveram até seus 07 anos de idade e outros que não completaram a gestação, cada um destes tem um motivo para se apresentar a terra, ou naquela família, obs. devemos refletir sobre todos os pontos de vista sobre Àbikú, mas devemos primeiramente não criar fantasia sobre um assunto tão importante na vida de pessoas que perderam ou que desejam ter seus Bebes em suas mãos. Quanto a iniciação de Àbikú deixo bem claro que esta possibilidade é quase impossível, pois vejam bem: se orixá é fonte de energia da natureza deste mundo dos vivos,porque razão faríamos uma alma Àbíkú como Òrìsá?
Outro ponto importante, se Òrìsá é luminosidade com certeza ele tem as formas de parar o Àbíkú, se não o culto esta dentro de eguns não de Òrìsás lembrando que Òrì-sás significa cabeças de luz. O Àbìasé é outra coisa muito diferente de Àbíkú, Àbìasé seria um ancestral, um selador de Òrìsá que não cumpriu seu Rumgêbre na terra dos vivos então seu Òrìsá vem em outra pessoa mais jovem para assim continuar com seus feitos. Podemos chamar de Àbìasé um wáo que nasce num barracão e perde seu zelador de Òrìsá ele pode ser escolhido para ser o Àbìasé da casa, ou seja, ele é o herdeiro, pode acontecer também que 07 anos antes da morte do sacerdote o Òrìsá escolha seu sucessor neste caso ele não é Àbìasé ele é o que herdará todos os segredos da casa por ter uma dinastia dentro do Òrìsá do sacerdote que lhe iniciou. Espero te tirado alguma duvida e me coloca a disposição, não para esclarecer, mas sim para que juntos podemos encontrar uma forma de melhor servir ao Òrún (céu) e assim termos mais paz aqui no mundo dos vivos!
O que aconteçe com os abiku que já tem 36 anos ainda são abiku
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